Lula diz que não será mais Lulinha Paz e Amor: "dei amor, só tomei porrada"

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

  • AP Photo/Andre Penner

    18.jan.2018 - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de ato com intelectuais e militantes de esquerda em São Paulo

    18.jan.2018 - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de ato com intelectuais e militantes de esquerda em São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou nesta quinta-feira (18) de um ato com artistas e intelectuais na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, em São Paulo. No evento, o petista disse estar "mais maduro" e avisou que não será mais o "Lulinha paz e amor", apelido que ganhou em 2002 quando teve sua imagem suavizada na campanha eleitoral da qual saiu vencedora.

"A minha tranquilidade é infernizar a vida deles", disse o ex-presidente, sem dizer a quem estaria se referindo. "O Lula tá mais consciente, tá mais maduro, e vai fazer as coisas que ele não conseguiu fazer", afirmou, citando a si mesmo em terceira pessoa. "Eu não posso ser mais radical. Mas eu também não posso mais ser o Lulinha Paz e Amor. Eu dei amor pra cacete e só tomei porrada. Eu quero é provar pra eles que não tem jeito de consertar esse país se o povo pobre não estiver incluído na economia desse país".

Entre os presentes estavam a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do PT, o ex-ministro Celso Amorim (PT-RJ), o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Fernando Haddad, e juristas como Fábio Konder Comparato.

Participaram ainda o ator Aílton Graça, o grupo As Bahias e Cozinha Mineira, o guitarrista Edgard Scandurra (Ira), os cantores Ana Canas, Leci Brandão e Odair José, o escritor Raduan Nassar, a cineasta Laís Bodansky, o rapper Thaíde e o comediante Gustavo Mendes, entre outros artistas.

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É o segundo encontro de Lula com intelectuais e militantes de esquerda nesta semana. Na terça-feira (16), ele participou de ato semelhante no Rio de Janeiro. Hoje pode ter sido ainda o último evento público do ex-presidente antes de seu julgamento em segunda instância no dia 24 de janeiro, no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), pelo caso do tríplex no Guarujá (SP). Sua presença em Porto Alegre, no dia da sessão no tribunal ou mesmo nos dias que a antecedem, é incerta. Ele deve participar de um ato em sua defesa em São Paulo, logo após o fim do julgamento.

"Eu duvido que os juízes que já me julgaram e os que ainda vão me julgar estejam com a tranquilidade que eu estou. Com a tranquilidade dos justos. A tranquilidade dos inocentes", afirmou Lula, mais uma vez reiterando sua inocência. "A única garantia que eu dou para vocês é que eu sou inocente (...). Eu jamais colocaria vocês numa luta dessa se eu estivesse escondendo alguma coisa de vocês".

Lula pode ser preso se condenação for mantida no caso do tríplex?

Dirigindo-se à presidente do partido, Lula pediu mais uma vez para ser o candidato à Presidência da República pelo PT, nas eleições de 2018, "aconteça o que acontecer". "Mesmo se acontecer a condenação, vocês vão ver que a minha tranquilidade vai continuar, e eu vou andar por esse país (...). Eu, companheira Gleisi, quero te comunicar que eu quero ser indicado pelo PT para ser o candidato a presidente", disse.

O julgamento do dia 24 será crucial para o futuro de Lula. Se condenado, o ex-presidente --que lidera as pesquisas de intenção de voto-- pode ficar inelegível e até mesmo ter sua prisão ordenada.

Na primeira instância, o juiz Sergio Moro condenou Lula a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Sua defesa afirma que não há provas dos crimes e que evidências de sua inocência foram ignoradas.

"Oligarquia com medo"

O jurista Fábio Konder Comparato afirmou que Lula está sendo processado, na sua opinião, porque "a oligarquia está com medo".

Para o coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Guilherme Boulos, o ex-presidente tem sido alvo de perseguição no Judiciário.

"[Os juízes] estão fazendo política de forma escancarada decidindo quem pode e quem não pode disputar eleições", disse o líder, para quem uma ditadura não veste só "farda, mas pode vestir toga também".

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