Foi a eleição que teve mais caixa 2 da história, diz Nelson Marchezan

Do UOL, em São Paulo

O prefeito eleito de Porto Alegre (RS), Nelson Marchezan Jr. (PSDB), afirmou nesta segunda-feira (31) durante entrevista ao UOL que essa eleição foi a "com o maior volume de caixa dois na história das campanhas no Brasil", ao criticar a proibição de doações de empresas a campanhas eleitorais. "Sempre defendi o financiamento privado de pessoas jurídicas nas campanhas, senão você acaba tendo de concorrer com corruptos que fazem caixa dois. É só comparar as despesas de determinados candidatos para ver isso", afirmou.

Questionado pelo blogueiro do UOL Josias de Souza sobre o risco de o financiamento de campanhas por empresas abrir margem para que elas sejam beneficiadas com contratos no governo eleito, Marchezan Jr afirmou que não se pode ter "preconceito" com o empresário que doa.

"Eu acho um preconceito de falar do empresário quando doa [quer algo em troca]. Quase metade da arrecadação do meu adversário foi de cargos de comissão. Tu acha que é mais fácil o empresário bem de vida que quer o bem da sua cidade fazer uma doação porque quer o bem ou alguém que depende do seu salário da prefeitura? Tu acha que ele [o comissionado] quer o bem público ou quer manter o seu salário?", questionou de volta.

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Ele afirmou que podem existir três tipos de financiamentos possíveis para as campanhas: recursos do tesouro, dos empresários e das pessoas físicas. "As alternativas me parecem que são essas. Se limitar [as doações] só a pessoa física, estaremos estimulamos os corruptos a serem vitoriosos. Se as doações forem transparentes, não tenho preconceito", disse.

Ele disse que contou com a ajuda de "10 a 20 pessoas, sem ligação com partidos políticos", para conseguir fazer a campanha e sair vitorioso do pleito. "Tivemos êxito na busca de recursos legais para fazer a campanha, mas ainda estamos devendo. Temos até o dia 19 para quitar essas dívidas", afirmou.

Apoio de gigantes da Gerdau

Neste ano, as doações de empresas para campanhas eleitorais foram proibidas. Mesmo assim, os maiores colaboradores da campanha de Marchezan, segundo prestação de contas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), foram Frederico e Richard Gerdau Johannpeter, executivos de uma das mais importantes empresas metalúrgicas do Brasil. As doações dos dois somaram R$ 200 mil. O presidente do grupo Localiza, José Salim Mattar Júnior, também doou quantia importante, R$ 150 mil. 

Ao todo, Marchezan angariou R$2.942.855,17 para a sua campanha. Já seu adversário, Sebastião Melo (PMDB), arrecadou R$1.558.300. Também recebeu doação de um executivo da Gerdau, Klaus Gerdau Johannpeter, no valor de R$ 100 mil. 

Em 2014, quando ainda as doações de empresas eram liberadas, a campanha de Marchezan para deputado federal recebeu doações legais de empreiteiras e de empresas envolvidas na Lava Jato e em outras investigações. 

A Odebrecht e a Quantiq (distribuidora da Braskem, ligada à Odebrecht) doaram, juntas, R$ 55 mil à campanha do tucano. Por meio do diretório nacional do PSDB, a campanha de Marchezan recebeu, ainda, mais R$ 100 mil da Odebrecht Óleo e Gás, R$ 100 mil da Hangar (que tem a Odebrecht como uma de suas sócias) e mais R$ 60 mil da Quantiq.

Novo prefeito de Porto Alegre: "Setor público está quebrado pela corrupção"

Durante toda a entrevista, o prefeito eleito levantou a bandeira da transparência para combater a corrupção.

"O setor público brasileiro como um todo está quebrado pela corrupção, pela incompetência e excesso de privilégios. Tem que aumentar a capacidade de investimento da prefeitura, firmar parcerias público-privadas, dar transparência para estrutura, fiscalizar para que não haja corrupção. A gente vai buscar ferramentas de transparência para que as pessoas saibam que os serviços estão sendo executados", disse.

Ao longo da sua campanha, Marchezan tem defendido a redução da estrutura do governo e o cumprimento de metas para combater a grave crise fiscal que Porto Alegre vem enfrentando. "A situação financeira da prefeitura é difícil. Os próximos anos serão muito difíceis. A prefeitura atual já disse que até o final do ano talvez não consiga pagar a folha de pagamento dos servidores. O primeiro passo para não decepcionar o eleitor, para investir na área social, é gerir melhor o dinheiro público", disse.

Ao contrário do seu adversário nas urnas, Sebastião Melo (PMDB), Marchezan é um ferrenho defensor da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 241 dos gastos públicos, que pretende estabelecer um teto para os gastos federais. "Ninguém mais que dar cheque em branco para gestores públicos. Não dá mais para ter um contrato de um cafezinho na Esplanada dos Ministérios no valor de R$ 80 milhões. Tem que ter o controle das contas públicas. O Brasil está quebrado porque o setor público quebrou o Brasil", acredita.

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