Com discurso de renovação, Lins governará Osasco com velho cacique

Adriano Wilkson

Do UOL, em Osasco (SP)

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    Francisco Rossi, do PR, cumprimenta o prefeito eleito de Osasco, Rogério Lins (PTN)

    Francisco Rossi, do PR, cumprimenta o prefeito eleito de Osasco, Rogério Lins (PTN)

Uma eleitora resumiu assim a campanha em Osasco, nono maior PIB do país, na região metropolitana de São Paulo, lar do antigo cinturão vermelho petista que cercava a capital: "Se não fosse o Rossi, o Rogério não teria conseguido tirar o PT do poder."

Rogério Lins, do nanico PTN, um vereador de 38 anos de sorriso largo, aparência jovial e discurso renovador, conseguiu a maior votação da história do município --mais de 218 mil votos entre os 566 mil possíveis. Ele derrotou Jorge Lapas, que após ser eleito pelo PT, mudou para o PDT e não conseguiu a reeleição.

Lins foi apoiado providencialmente por Francisco Rossi, 76, velho cacique paulista que já passou pelo antigo Arena e por outros nove partidos antes se envolver ativamente na eleição do novo prefeito de Osasco. Hoje, ele está no PR, meio sumido, mas seu nome ainda está na memória de muitos paulistas.

No discurso da vitória, o prefeito eleito repetiu o slogan da campanha, "Renova Osasco", agradeceu a Deus, à família e a sua equipe de apoiadores. Também fez menção a Rossi, que a seu lado sorria tímido. "Osasco podia não acreditar em um projeto que não estivesse alicerçado numa pessoa experiente, só em um jovem", explicou o prefeito eleito. "Então eu devo muito e queria agradecer ao Rossi por essa vitória."

Sem experiência, mulher de Rossi será vice-prefeita

Rossi foi prefeito da cidade por duas vezes, deputado federal, secretário de Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo, candidato a prefeito de São Paulo (três vezes) e a governador do Estado (duas).

Agora, sentindo-se "meio velho", emplacou a mulher, Ana Maria Rossi, como vice na chapa de Rogério. O clã Rossi continuará na política local através da filha do casal, Ana Paula Rossi, que foi a vereadora mais votada do município e também apoiou Rogério.

Desemprego e corrupção fizeram periferia "dar adeus ao PT"

Celso Glígio, deputado estadual tucano derrotado no primeiro turno e muito forte na cidade, também estava lá, aos 75 anos. Ele disse estar "às ordens" do futuro prefeito.

"Muitos me perguntavam: 'Como posso falar de renovação se tenho o Rossi do lado, se tenho o Glígio", disse Lins. "Mas a mudança e a renovação não é só pegar os mais jovens e falar pros cabeças brancas: 'Vocês não servem.' A verdadeira renovação é pegar o ímpeto da juventude e contar com o que os mais velhos têm a acrescentar."

Questionado, porém, sobre se os aliados farão parte de seu futuro governo, Lins afirmou que eles ainda não conversaram sobre isso, mas que "seria uma honra" contar com eles.

Rossi: "Entrar na política é até fácil, difícil é sair"

Coordenador-geral da campanha de Lins, Rossi estava cotado a se candidatar em 2016, mas desistiu da corrida em favor do afilhado, que ele conheceu há menos de um ano.

Há alguns anos Rossi havia desistido da vida política, foi fazer um retiro espiritual no Nordeste, mas, de volta, não conseguiu ficar longe das disputas pelo comando da cidade que o projetou. "Entrar na política é até meio fácil", disse ele, que se elegeu prefeito de Osasco aos 32 anos pelo partido da ditadura. "Difícil é sair dela."

Com mais de 40 anos de vida pública, e tendo sido prefeito por dois mandatos (1973-1977 e 1989-1993), ele foi capaz de transferir alguns votos para o jovem vereador.

"O Rossi colocou água na minha casa, jamais vou esquecer", disse a babá Rosângela Prizon, 53, uma apoiadora da dupla. "A experiência dele vai ajudar o Rogério a governar melhor."

Adriano Wilkson/UOL
Prefeito eleito de Osasco, Rogério Lins dá entrevista ao lado da vice Ana Maria Rossi

Lins exalta a participação de Rossi nos períodos mais duros da campanha. "O Rossi foi o grande coordenador político desse projeto e tranquilizou uma pessoa que sai candidato pela primeira vez. Eu fui muito atacado, até pessoalmente, e a experiência que ele me passou, me dizendo pra fazer uma campanha do bem, propositiva, foi fundamental."

A escolha de Ana Maria como vice-prefeita foi uma forma de manter a família mais perto do mandato, já que Rossi diz não pretender alçar voos maiores na política. Sem experiência administrativa, ela pretende auxiliar a primeira-dama em trabalhos de assistencialismo e contar com a ajuda do marido quando preciso.

"Chega um momento que você percebe que está meio velho e não tem mais condição de prosseguir", disse Rossi, que ficou bastante conhecido no Estado por chegar ao segundo turno de uma eleição para governador, quando foi derrotado por Mario Covas, em 1994. "Aí você precisa abrir espaço para os mais jovens."

Eleito, Lins diz que pretende experimentar na cidade um modelo parecido com o proposto por João Dória (PSDB) para a capital paulista. Ele propõe o enxugamento da máquina pública e discursa pela eficiência do Estado. "Quero administrar a cidade como eu administro minhas empresas", disse ele, que já foi microempreendedor no começo da vida adulta. 

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