Análise: Eleitor de centro-direita também ajudou a eleger Crivella

Do UOL, em São Paulo

Com grande número de abstenções, votos nulos e brancos, o Rio de Janeiro viu o voto do eleitor evangélico ganhar relevância e eleger Marcelo Crivella (PRB) como prefeito. Além disso, o voto de centro-direita também contribuiu para a vitória de Crivella.

"Se pegar o mapa de votação, Marcelo Freixo ganhou nas áreas mais prósperas, toda a zona sul até os bairros do centro, no entorno do Maracanã. Para minha surpresa, nesses bairros o Crivella chegou muito próximo. A única surpresa nessa área foi o Crivella ganhar em Ipanema, o que mostra que não foi só um voto evangélico, mas um voto de centro-direita, um voto mais conservador que o elegeu", disse o cientista político Jairo Nicolau.

"Crivella teve uma boa votação na elite que via no Freixo, na agenda dele, no seu partido, uma ameaça. Freixo não conseguiu convencer o eleitorado do centro no segundo turno das eleições", acrescenta Nicolau.

Com a chegada ao poder de Crivella, o projeto político da Igreja Universal do Reino de Deus também saiu vencedor na capital fluminense. Segundo Mário Magalhães, blogueiro do UOL, a vitória de Crivella "significa que esse projeto [político da Igreja Universal do Reino de Deus] venceu no segundo maior colégio eleitoral do Brasil, o que não pode ser visto como algo secundário".

Para o blogueiro do UOL Josias de Souza, o voto evangélico no Rio, o mesmo que já elegeu Eduardo Cunha, Anthony Garotinho, ofereceu "um colchão de segurança para a candidatura do Crivella" e fez com que ele tivesse "força para se eleger prefeito".

Para o cientista político Carlos Melo, essa base evangélica só foi relevante para a eleição de Crivella por causa do grande número de votos nulos, brancos e abstenções. O Rio de Janeiro teve a maior taxa de abstenção entre as capitais onde houve segundo turno: 26,75% (1.314.950 eleitores). "Nesse cenário, os 20% do voto dos evangélicos se tornam algo significativo", disse.

Além disso, as abstenções, votos nulos e brancos indicam uma baixa representatividade do prefeito eleito ante o eleitorado carioca, acrescentou Melo.

Crivella e o Freixo seriam candidatos "dos sonhos" para adversários no segundo turno. Se um candidato de centro vai para o segundo turno com o Crivella, ele tende a ganhar. O mesmo aconteceria com Freixo, representante da esquerda. Mas os dois acabaram indo juntos para o segundo turno. Por isso, essa segunda parte das eleições no Rio de Janeiro acabou medindo quem tinha a menor rejeição. "Nesse aspecto, talvez Crivella tenha trabalhado melhor diminuir a rejeição do que Freixo", disse Carlos Melo.

Crivella foi eleito com 59,36% dos votos válidos. Seu adversário, Marcelo Freixo (PSOL) obteve 40,64% dos votos.

Alvo de acusações de que, eleito, iria misturar interesses religiosos e políticos, nos últimos meses, Crivella tentou se aproximar de representantes de outras crenças em seu discurso da vitória."Quero também agradecer a toda Igreja Católica que nos apoiou, vencendo uma onda enorme de preconceito que surgiu na campanha e de uma mídia facciosa. Umbandista, kardecista, aos que não têm religião, aos agnósticos e aos ateus", disse Crivella.

Para Mário Magalhães, em sua gestão, Crivella vai ter que mediar, matizar a agenda ideológica e comportamental numa cidade como o Rio de Janeiro.

Jairo Nicolau, por sua vez, também defende a necessidade de diálogo com diversos setores da sociedade carioca. "Se ele não conseguir equacionar bem para um mundo mais laico, ele vai ter problemas para governar ante o Legislativo", disse.

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos