Herdeiro político do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que morreu em um acidente aéreo em 2014, o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), confirmou o favoritismo e foi reeleito neste domingo (30). Ele venceu no segundo turno o ex-prefeito João Paulo (PT) - com 100% dos votos apurados, obteve 61,3% dos votos válidos, contra 38,7% do adversário.

A vitória de Geraldo Julio garante a hegemonia do PSB no Estado, que é governado por Paulo Câmara (PSB). Para o PT, o resultado representa mais uma derrota. Recife era a única capital que o partido poderia conquistar nesse segundo turno (no primeiro turno, só venceu em Rio Branco).

Desde o início da disputa eleitoral, a campanha na capital pernambucana foi marcada pela disputa entre os dois candidatos. Algumas pesquisas apontavam vitória de Geraldo Julio já no primeiro turno, mas João Paulo cresceu na reta final e levou a disputa para o segundo turno.

As pesquisas Datafolha e Ibope para a Prefeitura do Recife divulgadas no sábado (29) mostraram a vantagem de Geraldo Julio. No Datafolha, Geraldo Julio apareceu com 60% dos votos válidos, contra 40% de João Paulo. A margem de erro é de dois pontos, para mais ou para menos. Segundo o Ibope, Julio tinha 59% das intenções de votos válidos, contra 41% de João Paulo. A margem de erro da pesquisa Ibope é de três pontos, para mais ou para menos.

Após a confirmação da vitória, o prefeito eleito preferiu comemorar com assessores e apoiadores de sua campanha. Manifestou-se apenas pelas redes sociais. "Saio dessa campanha com a responsabilidade de ser o primeiro prefeito do Recife na história a ser eleito com mais de meio milhão de votos. Gratidão é a única palavra que me vem à cabeça. Muito obrigado", declarou Julio.

Trocas de farpas entre os adversários foram uma constante durante a campanha. João Paulo afirmava que o socialista não era o "candidato do povo porque ele não trabalhava para o povo", mas Julio respondia ao petista mostrando em seu programa eleitoral as obras que realizou no Recife, como conjuntos habitacionais e a implantação de faixas exclusivas para ônibus.

No último dia 16, o prefeito reeleito perdeu um de seus assessores mais próximos: o secretário de Turismo, Camilo Simões, 34, foi encontrado morto na casa da sogra. Ele teria sofrido "uma morte súbita", segundo familiares.

Os dois candidatos usaram imagens de seus padrinhos políticos para tentar influenciar o eleitor. Em sua propaganda, Geraldo Julio usou imagens do ex-governador Eduardo Campos. O socialista foi secretario de Campos no governo do Estado.

Por sua vez, João Paulo usou imagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha na TV. Lula chegou a participar de eventos de campanha de João Paulo no primeiro turno, mas não apareceu no Recife na segunda etapa da campanha.

Campanha na TV

Apesar de terem direito a 20 minutos de propaganda eleitoral na TV, dez minutos para cada, os candidatos pediram uma redução no tempo de propaganda, alegando falta de recursos. O pedido foi atendido pela Justiça Eleitoral e tanto Geraldo Julio quanto João Paulo tiveram cinco minutos cada.

Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Geraldo Julio já desembolsou pouco mais de R$ 2,5 milhões com a campanha de um total de R$ 4,4 milhões previstos. Seu maior gasto foi de R$ 1,5 milhão com produção de programas de rádio e TV.

Já o petista gastou R$ 1,8 milhão de um total de R$ 2,7 milhões previstos. Deste valor, cerca de R$ 772 mil foram investidos na produção de programas de rádio e TV.

O último debate na TV entre Geraldo Julio e João Paulo foi morno, com os dois candidatos buscando comparar suas administrações. O candidato do PT foi prefeito do Recife por dois mandatos, de 2001 a 2008.

Os dois se enfrentaram na noite da sexta-feira (28), na TV Globo. Enquanto Julio buscou criticar a situação da educação na gestão do adversário, João Paulo criticou o aumento da insegurança no Recife.

Quem é Geraldo Julio

Nascido no Recife há 45 anos, Geraldo Julio de Mello Filho é formado em administração de empresas e tem pós-graduação em gestão pública. Ele é servidor concursado do TCE (Tribunal de Contas do Estado) de Pernambuco desde 1992. 

Apadrinhado da família Arraes, ele começou a carreira política durante o terceiro mandato do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005). Em 2000, dirigiu o setor de planejamento da secretaria de Administração da Prefeitura do Recife. Entre 2003 e 2006 trabalhou com Eduardo Campos no Ministério da Ciência e Tecnologia, durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula.

No governo de Eduardo Campos, entre 2007 e 2012, Geraldo Julio exerceu várias funções: secretário de Planejamento e Gestão, secretário de Desenvolvimento Econômico e presidente do porto de Suape.

Em 2012, foi eleito no 1º turno, com 51,15% dos votos válidos.

A coligação que apoiou a candidatura de Julio, a "Frente Popular do Recife", foi formada por 20 partidos (PMDB / PRTB / PCdoB / PPL / PSC / PR / PMB / PTC / PP / PPS / PSD / PDT / PRP / SD / REDE / PSDC / PROS / PHS / PSB / PEN).

Recife

Geraldo Julio continuará a governar Recife, cidade com 1,6 milhão de habitantes e um PIB de R$ 37 bilhões, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro Geografia e Estatística), de 2014. 

Recife tem índice de mortalidade infantil de 15,56 por mil nascidos vivos (a média do Brasil é de 16,7 por mil), taxa de analfabetismo de 8,49% (no Brasil a taxa é de 11,82%). Segundo a pesquisa Mapa da Violência, que compilou dados de 2014, a cidade tem uma taxa de 35,8 homicídios por arma de fogo por 100 mil habitantes, o 13º pior índice entre as capitais brasileiras (a média no Brasil é de 30,3 por 100 mil habitantes).