Crivella começa e termina discurso da vitória no Rio agradecendo a Deus

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

O prefeito eleito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), começou e terminou o discurso da vitória na eleição agradecendo a Deus. Em cerca de oito minutos de fala no Bangu Atlético Clube, zona oeste da capital fluminense, Crivella citou a palavra "Deus" seis vezes.

"Eu tenho certeza que nesses quatro anos de governo a gente vai construir o Rio de Janeiro dos nossos sonhos. Agradeço demoradamente a minha família querida e aos meus companheiros que estavam ao meu lado no primeiro e segundo turno fazendo que essa vitória fosse possível. E graças a Deus por isso, ninguém vence sozinho, aquele que se elege é apenas um representante de todos os que lutaram juntos para que o nosso projeto pudesse alcançar a votação", disse o bispo da Universal licenciado, logo no início do seu discurso.

A campanha no segundo turno desta eleição foi marcada por troca de acusações entre Crivella e o outro candidato, Marcelo Freixo (PSOL) --o senador foi eleito com 59,36% dos votos válidos; Freixo obteve 40,64% dos votos.

Contra o agora prefeito eleito, houve principalmente denúncias envolvendo a Igreja Universal, como a divulgação de posições e fatos do seu passado como pastor, de trechos de um livro em que classificou homossexuais como um "mal terrível" e fez críticas a outras religiões, e do episódio em que foi fichado pela polícia por suposta invasão de domicílio a um terreno de propriedade da igreja, em 1990.

Alvo de acusações de que, eleito, iria misturar interesses religiosos e políticos, nos últimos meses, Crivella tentou se aproximar de representantes de outras crenças.

No discurso da vitória, aproveitou para citar outras religiões: "Quero também agradecer a toda Igreja Católica que nos apoiou, vencendo uma onda enorme de preconceito que surgiu na campanha e de uma mídia facciosa. Umbandista, kardecista, aos que não têm religião, aos agnósticos e aos ateus. Nós não podemos jamais cair na armadilha da praga maldita da vingança. Eu agradeço a Deus porque estou cercado de pessoas que vão olhar para frente."

Júlio César Guimarães/UOL
Militantes comemoram a vitória de Crivella no Bangu Atlético Clube

"Quero terminar como comecei, agradecendo muito a Deus, por cada um de vocês, por termos vencido esta eleição, pela certeza, que eu sei, que ele estará ao meu lado e ao lado dos meus companheiros que vão governar comigo para nós cumprirmos a nossa missão com honradez. Eu peço a Deus que nenhum de nós, ao terminar esses quatro anos de mandato, tenha um centavo a mais do que temos hoje, mas que ao final desses quatro anos de mandato não existam no Rio de Janeiro tantas pessoas na fila de hospitais, tantas crianças sem creche, sem ir para escola, tantas casas sem água e sem esgoto, tantas comunidades carentes em péssimo estado de conservação e urbanização", finalizou o senador.

Crivella também parabenizou o adversário derrotado, Marcelo Freixo (PSOL), "por toda sua luta".

Tumulto

A grande quantidade de apoiadores no salão do clube em que Crivella discursou após a vitória causou tumulto durante a passagem do prefeito eleito pelo local. Quando tentaram deixar o espaço, inicialmente reservado para a realização de uma entrevista coletiva que acabou cancelada, Crivella, seus aliados e sua família foram espremidos ao passarem por uma porta que dava acesso ao fundo do palco do salão.

Nesse momento, a mãe do prefeito eleito, Eris Crivella, 82, passou mal por conta do empurra-empurra e do calor excessivo. No ginásio do clube, para onde eles se dirigiram em seguida, o mestre de cerimônias pediu calma aos militantes e informou que houve pessoas pisoteadas durante a confusão.

No palco, havia dezenas de pessoas ao lado de Crivella, entre eles aliados políticos como os deputados federais Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e Clarissa Garotinho (PR-RJ) e os candidatos derrotados no primeiro turno Carlos Osorio (PSDB) e Indio da Costa (PSD).

Análise: Com Crivella eleito, a grande vitória é da Igreja Universal

Vitória

A vitória do religioso, que acontece na terceira candidatura a prefeito, é a primeira do PRB (Partido Republicano do Brasil) em uma capital. Ao som da música "Chegou nossa hora", cantada por Crivella e utilizada na campanha, alguns apoiadores do candidato choraram após a confirmação de sua eleição.

No segundo turno, Crivella chegou a abrir 26 pontos percentuais sobre Freixo, segundo pesquisa do Ibope. Seu índice de rejeição caiu 11 pontos entre dois levantamentos do mesmo instituto, de 35% para 24%, na primeira fase da campanha.

No fim da campanha, a vantagem sobre Freixo chegou a cair dez pontos percentuais em um levantamento Datafolha. Na última semana, dizendo-se perseguido por veículos do "Grupo Globo" e pela revista "Veja", ele faltou a entrevistas previamente marcadas e passou dois dias em Brasília, cumprindo agenda no Senado.

Crivella comemora ao saber de vitória

Biografia

Carioca, o novo prefeito do Rio se tornou conhecido por sua atuação na Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus) --fundada por seu tio, o bispo Edir Macedo-- e como cantor gospel, com 16 álbuns gravados. Há 14 anos, entrou na vida política.

Engenheiro, professor universitário e escritor, foi ao continente africano como missionário no início dos anos 1990, e lá ficou por quase uma década. De volta ao Brasil, morou em Irecê, no sertão da Bahia, para desenvolver um projeto social e beneficente da igreja na zona rural da cidade.

Crivella é casado há 36 anos e tem três filhos. Disputou sua primeira eleição em 2002, já como candidato ao Senado pelo Rio, para o qual se elegeu com mais de 3,2 milhões de votos. Em 2010, foi reeleito para o mandato, que chega ao fim em 2018.

Há 11 anos, saiu do PL para fundar o PRB, ao lado do então vice-presidente da República, José Alencar, a quem classifica com um grande amigo.

Sua carreira, no entanto, foi marcada por quatro derrotas em pleitos para o Executivo --à prefeitura, em 2004 e 2008, e ao Governo do Estado, em 2006 e 2014. A ligação com a Universal foi alvo de frequentes ataques durante as campanhas, nas quais enfrentou alto índice de rejeição.

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