Eleitor passou a pressionar, diz único prefeito a vencer de virada no Rio

Paula Bianchi*

Do UOL, no Rio

  • Sérgio Lima/Folhapress

Cesar Maia (DEM) não é só o político que mais vezes foi eleito para comandar a Prefeitura do Rio de Janeiro --três no total. Ele é o único que conseguiu passar de segundo colocado no primeiro turno para primeiro colocado no segundo turno. E isso aconteceu por duas vezes: em 1992, contra Benedita da Silva (PT), e em 2000, contra Luiz Paulo Conde (PFL), que era prefeito na época e foi lançado na política pelo próprio Maia.

Reeleito vereador carioca no último dia 2, ele foi prefeito do Rio por três mandatos (1993-1996, 2001-2004, e 2005-2008). Em entrevista ao UOL, Maia disse que, com a nova legislação limitando doações para campanhas, o eleitor se sente mais livre para exercer pressão nos candidatos, e não o contrário: "Antes, você tinha uma pressão de cima para baixo, dos partidos com mais verbas para fazer uma campanha mais fortes nas ruas. Agora essa pressão se inverteu."

Maia, aliás, comparou sua situação em 2000 com a do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que disputa o cargo de prefeito com o senador Marcelo Crivella (PRB) agora. "Quando concorri contra o Conde, eu tinha um minuto e meio de televisão no primeiro turno e ele, 11 minutos". Mesmo assim, ele conseguiu 747.132 votos contra 1.124.915 de seu adversário.

"No segundo turno, com dez minutos contra dez minutos [no horário eleitoral], era como se eu tivesse aparecido para o eleitor pela primeira vez. 'Olha, o Cesar Maia é candidato'. O eleitor não tem essa sequência, de primeiro e segundo turno. Começou essa surpresa e aí foi e foi." Na disputa decisiva, Maia saiu vitorioso, com 66.849 eleitores a mais que Conde.

Para o político, Freixo tem a mesma vantagem. "Ele sai de 11 segundos para dez minutos. E surge como candidato para muita gente agora". Veja os principais pontos da entrevista:

Sérgio Lima/Folhapress
Cesar Maia foi o terceiro vereador mais votado no Rio de Janeiro

Marcelo Freixo

"Tem chance. Ele tem que evitar criar uma polarização. Ele recebeu apoio da Rede, do PSB, mas faz questão de dizer, 'eu estou recebendo apoio, não é uma aliança'. Por que falar isso? Político tem que ter expectativa de ocupar esse espaço. Se não tem essa expectativa, o negócio afrouxa."

Marcelo Crivella

"A última vez que ele veio aqui em casa, há uns seis meses, ele me disse: 'Cesar, aconteceu um fenômeno engraçado comigo. Eu era bispo Crivella, depois que eu assumi o ministério virei ministro Crivella.' Isso suavizou a marca do bispo.

Ele já tinha essa preocupação lá atrás. Se você me perguntar 'qual a expansão natural do Crivella no segundo turno?', não é grande. Qual a expansão natural do Freixo no segundo turno? Não é grande.

A hora em que o Freixo ou o Crivella, por atos, palavras, criarem uma rejeição de faixas do eleitorado, caem no colo um do outro. Tem alguns votos que são transferidos automaticamente, como o do [Flávio] Bolsonaro para Crivella. O resto, aí é campanha que vai dizer."

E o PMDB?

"O PMDB tem um problema. Eles vão para uma eleição estadual com o Estado falido e quebrado. Se você coloca o Eduardo como candidato a governador, ele vai ter que explicar isso.

A menos que, e não descarte essa hipótese, daqui a seis meses, por alguma razão, Eduardo saia do PMDB e volte para o PSDB.

Ele já foi da executiva do PSDB, já foi candidato e governador pelo partido. Pode mudar de partido. Eduardo é muito inteligente, trabalhador e ambicioso. Além da medida. Ele pode sair fora, dizer 'eu não tenho nada com isso, também tive uma decepção muito grande, peço desculpas, tive grandes companheiro, Picciani, fulano e beltrano, mas não estou mais nesse ambiente', e sair."

Derrota do candidato de Paes

"Eduardo achava que ganhava com qualquer um. 'Fiz um grande governo, sou o maior do mundo, não interessa que Pedro Paulo tenha esse desgaste, vou ganhar com qualquer um.' E meteu o Pedro Paulo, que é amigo dele, trabalhou colado com ele muitos anos. Insistiu numa derrota em uma missa que foi anunciada.

O marqueteiro dele falou isso, [Jorge] Picciani falou, Sérgio Cabral falou. Todo mundo falou. Ele colocou quem achava mais qualificado. Mas isso não é um concurso público, é uma eleição. Mais qualificado para quê? Para trabalhar no governo ou para ser candidato e ser eleito?"

Denúncia de agressão à ex-mulher

"Uns 90 dias antes da campanha encontrei o Pedro Paulo e disse, 'Você vai insistir nisso...' Ele: 'mas eu não fiz nada'. Eu sei que não fez, mas a distinta opinião pública acha que fez. 'Eu vou resolver na Justiça.'

Constança Rezende/ Estadão Conteúdo
Pedro Paulo (à esq.) foi o candidato derrotado do PMDB, indicado por Eduardo Paes, para concorrer à Prefeitura do Rio

Ele achou que uma decisão na Justiça descriminalizando o que ele fez --que a Justiça não disse que ele não fez, disse que o que ele fez não era passível de enquadramento na lei Maria da Penha–, seria suficiente. O argumento dele no debate era esse, 'a Justiça já decidiu'."

Nova lei eleitoral

"Essa nova lei foi uma mudança muito importante. Nas eleições anteriores, você tinha muito dinheiro e uma massa de propaganda de todos os tipos pela rua. O eleitor era assolado por tanta propaganda... Também eram 90 dias de campanha, essa eleição teve 45 dias, 35 dias de televisão...

O eleitor chegou na eleição, viu uma rua limpa, sem propaganda, se sentiu mais livre muito para tomar suas decisões."

Voto pulverizado

"Surgiram duas tendências: a primeira foi fortalecer o voto de opinião pública, de candidatos conhecidos por toda a cidade. A outra tendência é que o vereador, que antes se concentrava na sua região e depois se expandia com a massa de propaganda pela cidade toda, pelos bairros, teve que focar mais nesse contato com o eleitor. 

O voto foi distritalizado e pulverizou. Vamos ter que discutir o voto distrital, o voto em lista, ou distrital misto."

Pesquisas

"O voto se tornou muito mais volátil, e por isso as pesquisas têm que ser sequenciais, acompanhando esse processo. O eleitor passou a ter uma liberdade muito maior. Na medida em que ele não está agrupado a uma corrente religiosa, política, corporativa, ele ficou livre para decidir. 

Antes, você tinha uma pressão de cima para baixo, dos partidos com mais verbas para fazer uma campanha mais fortes nas ruas. Agora essa pressão se inverteu. O eleitor que pressiona o candidato, procura se informar."

Volta do financiamento empresarial

"Chance tem, mas não acho que isso irá acontecer. Mas há distorções. As pessoas podem fazer doação individual até um teto, mas o candidato pode gastar o quanto quiser. Você tem que definir o limite de 10% também para o candidato."

Horário eleitoral

"Quando concorri contra o Conde, no primeiro turno eu tinha um minuto e meio de televisão, ele tinha 11 minutos. Ele tinha muitas coisas para mostrar, foi um excelente secretário de urbanismo, um bom prefeito, e eu, com meu minuto e meio, fiquei emparedado.

No segundo turno, com dez minutos contra dez minutos, era como se eu tivesse aparecido para o eleitor pela primeira vez.

'Olha, o Cesar Maia é candidato.' O eleitor não tem essa sequência, de primeiro e segundo turno. Começou essa surpresa e aí foi e foi."

Brancos e nulos

"É preciso reavaliar esse número. No Rio ainda não foi feito o voto biométrico. Em uma época de crise, as migrações aumentam muito, as pessoas vão buscar trabalhos em outros Estados. Se você fizer um pente fino, vai ver que a abstenção foi alta, mas não foi essa. Fica com a média nacional de 17%, 18%.

O branco e o nulo, antes do voto eletrônico, eram de 30%, 35%. As pessoas faziam gracinhas, piadinhas, escreviam poemas. Isso também não é algo que apareceu do nada. O eleitor foi aprendendo, escolhendo essa opção nas últimas eleições. Em um momento de crise como esse, não havia nenhuma razão para essa tendência se reverter."

Governo Temer

"Ele está fazendo o que tem que fazer. Definiu quais são as metas que produzem segurança nos investidores e está trabalhando nisso. Vai aprovar a lei do teto e, na reforma previdenciária ou na trabalhista, ele pega dois pontos e aprova dois pontos. Uma reforma previdenciária ele é experiente o suficiente para saber que não passa pelo Congresso.

A rejeição dele tem um processo de reversão, que será lento ou menos lento de acordo com o sucesso desses programas. Conseguiu convencer de que está descolado da reeleição. Tem uma figura tranquila, simpática. Esses números contra o Temer não significam um ódio ao Temer.

Marlene Bergamo/Folhapress
Pichações contra o governo do presidente Michel Temer em Pinheiros, zona oeste de São Paulo

Esse 'fora, Temer' não deu em nada. A Jandira [Feghali, candidata derrotada à prefeitura pelo PCdoB] conseguiu o prodígio de ter menos votos que o Carlos Bolsonaro. Ele vai trabalhar com o tempo. E o tempo dele é terminar 2017 com a economia dando sinais de vida."

*Colaborou Nathan Lopes

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