Greca e Leprevost propõem tecnologia para reduzir criminalidade em Curitiba

Rafael Moro Martins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

  • Luiz Costa/SMCS

    Câmera em Curitiba; preço da integração das imagens é desafio à prefeitura

    Câmera em Curitiba; preço da integração das imagens é desafio à prefeitura

Tendo de lidar com uma demanda que historicamente é repassada aos governadores --a falta de segurança pública--, Rafael Greca (PMN) e Ney Leprevost (PSD), que disputam o segundo turno da eleição para a Prefeitura de Curitiba, lançam mão da tecnologia para dizer que podem colaborar para tornar a cidade mais segura.

Greca promete um sistema de vigilância eletrônico, "plugado nos 1.700 prédios próprios municipais e nos prédios estaduais", além de parcerias para uso de câmeras privadas. Leprevost diz que fará um centro de monitoramento integrando as câmeras da prefeitura, das polícias e de empresas de segurança privadas, além das que pertencem a edifícios comerciais e residenciais.

Mas já existe na cidade algo próximo do sistema proposto por Greca e do centro de monitoramento de que Leprevost fala. Por conta de um acordo fechado com a prefeitura em abril de 2014, às vésperas da Copa do Mundo, a Secretaria de Estado da Segurança Pública ganhou acesso às imagens de 758 câmeras monitoradas no Centro de Controle Operacional instalado na Urbs, empresa responsável pelo gerenciamento do transporte coletivo da capital.

Em troca, o município recebe imagens de 39 câmeras de segurança instaladas e monitoradas pelo Estado em Curitiba. A interligação chegou a ser interrompida, nos últimos meses, por conta de problemas técnicos, mas está sendo retomada, informa a prefeitura.

Restaria integrar as câmeras particulares. Ismael Carneiro de Sousa, diretor de operações de uma empresa de segurança que monitora 10 mil delas na região de Curitiba, diz que é possível. "Posso oferecer, a partir do meu servidor, o acesso às imagens que a prefeitura quiser", afirma.

Ele diz que o custo de ligação de cada câmera ao sistema, via fibra ótica, é de R$ 12 mensais --quem arca com ele é o contratante. Daí vêm as dúvidas: a prefeitura se disporia a arcar ao menos com parte desse custo? Os moradores concordariam em ceder as imagens?

Sousa diz que a empresa já cedeu imagens que suas câmeras captaram, de locais públicos, para a polícia. "Mas somos procurados apenas quando ocorre um crime em local monitorado. Nunca para a prevenção de delitos", diz.

Guarda reduzida

"O aproveitamento dos sistemas de imagem ajuda a prevenir crimes. A visibilidade do espaço urbano é necessária, pois a sensação de insegurança que o criminoso tem onde há câmeras é muito grande", afirma Roberson Bondaruk, coronel aposentado da Polícia Militar, que comandou entre 2011 e 2013 e que atualmente presta consultoria em segurança pública.

"Mas é preciso haver guardas para atender às ocorrências que as imagens mostrarem", ressalva. Aí está um dos problemas que o próximo prefeito irá enfrentar. O efetivo da Guarda Municipal de Curitiba vem caindo desde, pelo menos, 2010. Em janeiro daquele ano, a cidade tinha 1.749 agentes, mas encerrará 2016 com 1.377.

Para fazer frente ao problema, a prefeitura abriu concurso para contratação de 400 agentes --o que, a rigor, reporia o efetivo de 2010. Mas o processo de contratação caminha a passos lentos. Em agosto, via Lei de Acesso à Informação, o município informou que o processo está na fase de investigação de conduta dos aprovados. Ainda seria necessário realizar as provas de aptidão e avaliação psicológica, os exames toxicológicos e, por fim, a formação técnica e a capacitação.

Em seus programas, Greca e Leprevost falam, genericamente, a respeito. "[Vou] Reestruturar a Guarda Municipal e adequar as condições de trabalho", propõe o candidato do PMN. "[Irei] Chamar os guardas municipais aprovados em concurso", diz o candidato do PSD.

Contudo, isso não resolve o problema, avalia Bondaruk. "O efetivo deveria ser maior. Em Curitiba, o cenário ideal seria ter 4.000 homens. Mas o custo é altíssimo. É muito difícil resolver isso duma vez só."

Jaelson Lucas/SMCS
Guardas municipais fazem treinamento para o uso de armas não letais
Divisão nas polícias

"A interligação de câmeras privadas à rede da autoridade policial vem sendo usada em outras partes do mundo. É algo desejável, necessário, mas só um ponto em uma grande malha que tem que ser modernizada", argumenta o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

"Formalmente, há interconexão entre os sistemas municipal e estadual de segurança. Na prática, o que se vê é uma disputa entre as forças de segurança. Na internet, há reclamações de policiais de que a Guarda está 'usurpando' as atribuições da PM", diz.

"As estruturas estaduais são arcaicas, militarizadas, divididas em duas polícias que concorrem uma com a outra. Em Curitiba, a Guarda Municipal foi 'colonizada' pela PM, assumiu práticas dela. Com isso, há frequentes denúncias de violência excessiva", critica Bodê. Combater excessos na ação da Guarda é algo que não consta dos programas de governo de Greca nem de Leprevost.

Questionados a respeito pelo UOL, ainda no primeiro turno, ambos foram evasivos. "A Guarda vai voltar a proteger a nossa sociedade", disse Greca. "A Guarda será valorizada, treinada e equipada e terá como principal missão a proteção do cidadão", afirmou Leprevost.

"Cabe à prefeitura se esforçar para que a Guarda perca essa característica e passe a funcionar como uma polícia de proximidade, que tenha a confiança dos moradores", propõe o sociólogo. Greca faz menção, em seu programa, a implantar um Programa de Policiamento de Proximidade, mas não dá detalhes de como isso iria funcionar.

Já Leprevost fala em colocar guardas à paisana em ônibus para combater assaltos e casos de assédio sexual. "Há que se ter cuidado. Imagine, por exemplo, se um guarda reagir a um assalto e houver uma troca de tiros dentro de um ônibus", alerta Bodê. "Em campanha, se promete tudo; é um momento rico em soluções fáceis. Mas os problemas não se resolvem assim."

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