Candidatos em Guarulhos (SP) disputam fama de antipetistas

Marcos Sergio Silva

Colaboração para o UOL, em Guarulhos (SP)

No escritório de Gustavo Henric Costa, 31, o Guti, candidato do PSB à Prefeitura de Guarulhos, na Grande São Paulo, dois adesivos se destacam: "Sou contra o PT, sou a favor de Guarulhos" e "Sou antipetista, voto Guti". Já seu adversário, Eli Correa Filho (DEM), 40, trouxe para um evento recente dois dos maiores líderes dos movimentos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT): o coordenador nacional do MBL (Movimento Brasil Livre), Kim Kataguiri, e o hoje vereador eleito de São Paulo Fernando Holiday (DEM).

Isso em uma cidade governada pelo PT desde 2000 e que pela primeira vez desde então não terá representantes no partido na sede de governo. No primeiro turno, o ex-prefeito Elói Pietá (2001-2008) obteve menos de 20% dos votos na cidade, reflexo da onda de ódio ao partido. Entre os dois finalistas, Guti teve 34,54% dos votos válidos, enquanto Correa Filho ficou com 22,38%.

"Meu posicionamento [sobre o PT] foi em relação a esse prefeito [Sebastião Almeida]. Comecei a ver o que o PT defendia. Eles queriam gastar R$ 9,5 milhões para espantar pombos enquanto os professores da cidade estavam em greve", diz o vereador Guti, favorito para vencer a disputa no segundo maior colégio eleitoral do Estado. A prefeitura defende o serviço, que previa a instalação de dispositivos sonoros para espantar aves de escolas municipais, mas que foi suspenso pela necessidade de "corte de gastos".

Correa Filho é deputado federal e filho do radialista de mesmo nome. O candidato mantinha um quadro de defesa do consumidor no programa do pai, conhecido como "o homem sorriso do rádio" e que apresenta quadros de sucessos nas rádios paulistas há mais de 40 anos, como o "Que Saudade de Você". Na certidão de nascimento, no entanto, Eli Correa Filho é Adriano. 

Durante a campanha, atacou o candidato petista Elói Pietá quando parecia que o segundo turno estaria fadado a um embate entre os dois. Mas, diferentemente do que diziam as pesquisas, Guti teve a melhor votação no primeiro turno, credenciando-se para a disputa final.

No segundo turno, Correa Filho radicalizou os ataques. Além dos garotos do MBL, obteve o apoio de caciques do PSDB paulista, como o senador Aloysio Nunes Ferreira, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "A máquina está inchada, e as contratações são viciadas", disse, em uma das ações de campanha.

 

Kim Kataguiri lembrou o posicionamento de Correa Filho na votação do impeachment: "Quando Guarulhos precisou de alguém para tirar o governo mais corrupto da história, o Eli estava lá", disse em evento de campanha na cidade.

'Forasteiro'

Contra o candidato do PSB, Eli Correa Filho lançou uma representação na Justiça Eleitoral pelo fato de Guti ter declarado ser nascido em Guarulhos, não em São Paulo. O pessebista reconhece o erro na inscrição, que afirma ter sido feito por engano de quem o registrou.

A atitude de Correa Filho, na verdade, é um contra-ataque a um desgaste natural em campanhas em cidades vizinhas de São Paulo: a fama de "forasteiro", ou seja, o candidato que não nasce no município em que disputa as eleições. "Enquanto mentia, ele me chamava de 'forasteiro' pelos quatro cantos da cidade. Logo ele, que também não nasceu aqui. Não nasci em Guarulhos e, diferente dele, nunca escondi isso", disse o candidato do DEM, em nota. Correa Filho tinha residência em Moema, na capital paulista, antes de se mudar para a cidade.

A mudança de domicílio eleitoral de Correa Filho ocorreu há um ano. O vínculo do deputado estadual com a cidade é a mulher, Francislene Assis de Almeida Corrêa, que virou centro de outra polêmica da campanha: a doação de R$ 156 mil para a campanha do marido mesmo com as contas bloqueadas a pedido do Ministério Público por supostas irregularidades na desapropriação de terras para a construção do Rodoanel. A campanha afirma que o dinheiro doado entrou nas contas de Francislene após o bloqueio.

Reprodução/Facebook
Na "guerra de apoios", Guti postou foto com o vice-governador Márcio França (dir.)

Guti, um jovem de 31 anos, de cabelos lisos e partidos ao meio caindo sobre a testa, que veste camisa polo e sapatênis, por outro lado, acusou Eli Correa Filho de se aliar a partidos que apoiaram a administração petista na cidade --na aliança do DEM, estão siglas como o PCdoB e o PMDB, que ocuparam cargos de primeiro escalão no governo Sebastião Almeida.

Os 16 anos de administração petista sucederam a mais grave crise política da história da cidade. Em 1998, o então prefeito Néfi Tales foi cassado e substituído por Jovino Arantes. Na eleição seguinte, Jovino perdeu a eleição para o petista Elói Pietá. Desde então, o PT venceu quatro eleições sucessivamente.

"São momentos políticos diferentes. Na época, a população queria um político antagônico, trabalhador, que não fosse ligado aos grupos econômicos do município. O Elói aqui em Guarulhos é maior do que o PT", diz Guti, que na época da crise política tinha apenas 12 anos. "Este momento pede o antagonismo à velha política. A gente precisa de um choque agora."

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