Troca de acusações no 2º turno mais que triplica pedidos de resposta no Rio
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio
-
Alexandre Brum/Agência O Dia/Estadão Conteúdo/Arte/UOL
Campanhas de Crivella e Freixo são alvo de mais de cem processo na Justiça Eleitoral
A troca de acusações entre candidatos a prefeito do Rio de Janeiro no segundo turno destas eleições fez mais que triplicar o número de ações por direitos de resposta em tramitação na Justiça. De acordo com o TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro), desde que Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) passaram a disputar entre eles o cargo de prefeito da capital fluminense, eles abriram ao menos 109 processos contra seus adversários por sentirem-se difamados em programas eleitorais.
No primeiro turno, quando 11 candidatos concorriam à prefeitura, todos eles abriram, juntos, 32 processos por direito de resposta. Nenhum desses pedidos foi concedido pela Justiça Eleitoral, segundo o TRE-RJ.
Já no segundo turno, passa de 50 o número de ações de direitos de resposta julgadas procedentes. Nem toda ação diz respeito a uma ofensa diferente, já que a divulgação de um mesmo vídeo em horários diversos, por exemplo, pode gerar processos distintos na Justiça Eleitoral. Mesmo assim, o número é considerado alto pelo juiz Marcello Rubioli, coordenador da fiscalização da propaganda do TRE-RJ.
"Houve uma explosão no número de processos e de direitos de resposta concedidos", afirmou o magistrado, em entrevista ao UOL. "O aumento está relacionado a uma campanha de caráter difamatório que passou a ser feita pelos candidatos no segundo turno. Virou 'barraco'."
Rubioli disse, no segundo turno, as agressões vêm tanto de Crivella quanto de Freixo. Prova disso é que as campanhas de ambos já foram condenadas a ceder espaço em seu horário eleitoral para que o rival possa dar sua versão sobre fatos explorados em progagandas.
"Os dois candidatos têm usado fatos antigos, buscado fazer conexões manipuladoras, que acabam induzindo o eleitor a conclusões incorretas", contou Rubioli. "Isso é um retrocesso à democracia. A eleição deveria ser disputada de uma forma melhor."
Processo e condenações
A campanha de Marcelo Crivella, candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto, já foi condenada em ao menos dois casos diferentes. A primeira condenação veio porque a campanha informou que o ex-secretário de Segurança do Estado do Rio e apoiador de Freixo Luiz Eduardo Soares garantiu uma "mesada" a um criminoso. Já a segunda ocorreu porque informou que a candidata a vice-prefeito na chapa de Freixo, Luciana Boiteux, era filiada ao PCB. Ela é do PSOL.
Já a campanha de Marcelo Freixo também teve condenações por duas propagandas eleitorais diferentes. Uma condenação ocorreu porque Freixo divulgou um vídeo sugerindo que Crivella é apoiado por criminosos, já que receberá o voto de Carminha Jerominho, filha de Jerominho, condenado por ligação com milícias. A outra, porque Freixo teria divulgado um vídeo editado de uma fala de Crivella pedindo doações de fiéis. A campanha de Freixo nega a edição.
Freixo nega difamação
A campanha de Freixo também negou que esteja empregando uma campanha difamatória contra o rival Crivella. Um dos advogados do candidato, Luiz Paulo Viveiros de Castro, disse ao UOL que críticas feitas em propagandas eleitorais têm, na verdade, o objetivo de deixar clara as contradições históricas em discursos do candidato rival.
O advogado afirmou que está recorrendo de condenações impostas pela Justiça Eleitoral, assim como continua buscando direitos de respostas contra a campanha de Crivella. Ele mesmo também reconheceu que, no segundo turno, a campanha para prefeito fugiu do "padrão ideal".
"O melhor é que estivéssemos só discutindo propostas", disse. "Agora, em 30 anos de atuação nessa área, nunca vi um segundo turno sem críticas entre candidatos."
Já a campanha de Marcello Crivella informou que analisa todas as condenações da Justiça Eleitoral e recorre das que considera passíveis de reversão. A assessoria de imprensa do candidato também negou que esteja atacando Freixo. Ainda reclamou da campanha do rival.
Sobre o nível das discussões eleitorais no segundo turno, a campanha de Crivella reconheceu que o debate de propostas perdeu espaço. Para eles, Freixo iniciou com ataques. Crivella tem respondido ao adversário.
Veja também
- Debate com agressões como o do Rio faz aumentar rejeição a classe política
- Na reta final das eleições, candidatos no Rio disputam artistas em campanha
-
- No mesmo dia, Crivella falta a entrevistas em rádio, TV e site da Globo
- Mário Magalhães: o ônus e o bônus da Universal na carreira de Crivella
- No Twitter, Paes chama Crivella de 'preconceituoso' e Freixo de 'radical'