Crivella faz ataques à imprensa e diz que vai "dar uma surra no PSOL"

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

  • Wilton Junior/Estadão Conteúdo

    O senador Marcelo Crivella (PRB), candidato a prefeito do Rio de Janeiro, durante caminhada na orla de Ipanema e Leblon neste domingo

    O senador Marcelo Crivella (PRB), candidato a prefeito do Rio de Janeiro, durante caminhada na orla de Ipanema e Leblon neste domingo

O senador Marcelo Crivella (PRB), candidato a prefeito do Rio de Janeiro, aproveitou seu discurso ao fim de caminhada com aliados na orla da zona sul da cidade, na tarde deste domingo (23), para fazer ataques a veículos de imprensa que publicaram reportagens desfavoráveis a ele nesse fim de semana. Segundo Crivella, a revista "Veja" fez uma capa "sob encomenda" e o jornal "O Globo" publicou "uma piada" como manchete. Ele também classificou a TV Globo como "a inimiga jurada" da sua campanha.

Crivella se referia à reportagem de "Veja" que informou que ele ficou fichado e preso em 1990, num episódio em que foi acusado de invasão de domicílio, e às informações publicadas pelo "Globo" --o ex-diretor da Petrobras Renato Duque teria dito, em negociações para sua delação premiada, que recebeu pedido da ex-presidente da estatal Graça Foster para ajudar a campanha de Crivella para o Senado em 2010. A ajuda, supostamente feita após pedido do senador a Foster, teria sido realizada por meio do pagamento de gráficas para a produção de 100 mil banners para o candidato. Duque teria dito que o serviço foi pago com dinheiro de propina.

No convite para a caminhada, que ocorreu entre a orla de Ipanema e Leblon, o perfil oficial de Crivella no Facebook deu o tom do que seria o evento: "Mesmo com a mídia perseguindo e tentando eleger [o adversário no segundo turno, Marcelo] Freixo [PSOL], haverá hoje uma caminhada em favor de Crivella". Na rua, o senador confirmou a estratégia. "Meus amigos, vocês são testemunhas, e há vários repórteres que estão acompanhando as minhas palavras: não houve expedientes, dos mais torpes aos mais virulentos, que contra nós não fossem empregados", declarou o senador aos correligionários, no Leblon.

"Eu lamento profundamente que mais uma vez a Rede Globo de Televisão, a quem nós todos temos muita admiração pelos filmes, pelo futebol, na hora que chega a eleição... meu Deus do céu. A gente fica triste porque publicam notícias sem apuração. A manchete de hoje é uma piada, não tem uma fita gravada, não tem um documento, não tem uma investigação", disse o candidato.

Crivella disse ainda que "há anos" acompanha bem a investigação da Operação Lava Jato. "Nunca houve sequer uma menção a quem hoje ocupa a capa do jornal, um jornal de tradições. Eu tenho certeza que o Roberto Marinho lá do céu deve estar triste. 'A que ponto chegou o jornal que eu fundei, que a minha família fundou'", afirmou.

"[A reportagem] diz a respeito de banners, milhões e milhões de banners, quando todo mundo sabe que as minhas campanhas sempre foram modestas, sem alianças, andando na rua. Perdi quatro campanhas, inclusive essa na qual eles dizem que recebi tudo isso", disse. Em 2010, no entanto, Crivella foi reeleito senador da República.

"É o desespero. Mas eu tenho certeza que o povo do Rio de Janeiro sabe discernir o que é eleição e o que é paixão, e há de entender que isso tudo são apenas intrigas", completou. Mais cedo, em nota, ele disse que, "como senador, já esteve com vários diretores da Petrobras tratando dos interesses do Rio de Janeiro", mas negou ter negociado ajuda financeira para campanha.

Reprodução/Veja
A revista "Veja" divulgou fotos inéditas, de 1990, que mostram o então pastor da Igreja Universal Marcelo Crivella fichado pela polícia

Sobre a reportagem que exibiu suas fotos fichado pela polícia, ele direcionou suas críticas ao veículo e deu novamente sua versão para o caso.

"A revista Veja --aliás, o nome deveria ser 'Veja a que ponto chega uma revista'-- publicar em capa uma fotografia de 26 anos atrás, de uma história absolutamente irrelevante, uma coisa superada, uma arbitrariedade de um delegado, coitado, que já não está mais aqui [morreu em 2001], mas que se estivesse iria se desculpar como fez na ocasião, para que eu não movesse um processo contra ele. E pela primeira vez a revista 'Veja' fez duas capas, uma para o Brasil, e outra, sob encomenda, para o Rio de Janeiro. É uma coisa impressionante."

"Gente, não tem jeito. Dia 30 agora, para desespero dos nossos adversários, para a inimiga jurada da nossa campanha, a Rede Globo de Televisão vai ter que anunciar e o jornal vai ter que dar no dia seguinte que o [deputado federal Indio [da Costa, do PSD-RJ], o Sóstenes [Cavalcante, deputado federal do DEM-RJ), o Crivella, o [Carlos Roberto] Osorio [deputado estadual do PSDB-RJ] ganharam a eleição e são prefeitos do Rio", disse entre risos. "Não vamos perder o bom humor, não vamos perder a paz, vamos caminhar até o último momento e dar uma surra no PSOL", despediu-se.

Pouco antes, ao avistar Pedro Paulo Nogueira, neto do sambista Cartola, da Mangueira, Crivella aproveitou para mostrar os dotes de cantor com um trecho do clássico "As rosas não falam". "Se o seu avô estivesse aqui, ele ia cantar 'simplesmente as rosas exalam, o perfume que roubam de ti, ai... Devias vir, para ver os meus olhos tristonhos, e, quem sabe, sonhar os meus sonhos".

Cercado por seguranças, Crivella ignorou os jornalistas que acompanharam o ato de campanha --não divulgado previamente por sua assessoria de imprensa-- e deixou o local por volta das 13h.

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