Após tumulto e com 2º turno entre PMDB e PSDB, Dilma não vai votar

Flávio Ilha

Colaboração para o UOL em Porto Alegre

  • Itamar Aguiar /Agência Free Lancer/Estadão Conteúdo

    A ex-presidente Dilma Rousseff foi recepcionada por centenas de militantes com flores ao chegar à escola estadual Santos Dummont, na zona sul de Porto Alegre, para votar

    A ex-presidente Dilma Rousseff foi recepcionada por centenas de militantes com flores ao chegar à escola estadual Santos Dummont, na zona sul de Porto Alegre, para votar

A ex-presidente Dilma Rousseff disse na tarde desta quinta-feira (13), em entrevista à rádio Guaíba, que não pretende votar no segundo turno para a escolha do próximo prefeito de Porto Alegre. Dilma justificou que não estará na cidade no dia da votação, no domingo 30 de outubro, mas não explicou as razões para a decisão.

"Eu podia te dizer que o voto é secreto. Agora, rigorosamente eu te digo que não estarei em Porto Alegre para votar. Eu vou justificar", disse Dilma.

A anunciada ausência no segundo turno também pode estar associada aos dois candidatos que disputam a eleição em Porto Alegre – Nelson Marchezan Júnior (PSDB) e Sebastião Melo (PMDB). O PT gaúcho recomendou que seus militantes que adotem o voto nulo no dia 30.

Além disso, no último dia 2 de outubro, durante a votação em primeiro turno, o juiz eleitoral Niwton Carpes da Silva proibiu o registro do voto da ex-presidente e provocou tumulto entre jornalistas e polícia no local de votação. Na ocasião, Dilma reclamou da ação da Brigada Militar e disse que nunca tinha sido tratada daquela forma na sua zona eleitoral.

Ex-presidente Dilma vota em meio a tumulto em Porto Alegre

Na entrevista, que durou quase 50 minutos, Dilma também criticou a aprovação da PEC 241, que classificou como "PEC do Mal". Para a ex-presidente, a emenda constitucional representará um retrocesso "grave" para o país, com reflexos negativos especialmente para a área da saúde, educação e para as aposentadorias.

"Se a medida tivesse sido adotada em 2006, por exemplo, o orçamento da saúde este ano teria sido cortado pela metade. Na educação, haveria um corte de dois terços. Então, você tem consequências gravíssimas", afirmou a ex-presidente.

A PEC 241, que congela gastos públicos e estabelece um teto para as despesas por até 20 anos, foi aprovada em primeiro turno na última segunda-feira (10) na Câmara. A segunda votação está marcada para o dia 24.

Também disse que não cogita se candidatar a nenhum cargo público em 2018, embora tenha mantido dúvida em relação a isso na entrevista. "Eu acho que qualquer brasileiro em condições tem sempre que deixar em aberto se submeter às urnas ou não. Mas não estou cogitando nenhuma eleição a curto prazo. Não vou me manifestar sobre questões desse tipo", afirmou.

A ex-presidente repetiu que a manutenção de seus direitos políticos na votação do impeachment, no Senado, mostra a "dúvida permanente" do processo de afastamento. "Eu não tinha um crime político, ao contrário do que argumentavam. Não tinha base política para me julgar", justificou.

Perguntada se sentia ódio do presidente Michel Temer (PMDB), a ex-presidente foi irônica. "Não se pode ter ódio das pessoas. Se eu não tive ódio de torturador, por que vou ter ódio de um traidor?", afirmou.

Mas Dilma voltou a denunciar o seu afastamento como "golpe" e disse que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha "homogeneizou" o plenário da Câmara, a ponto de comprometer a governabilidade. "Uma Câmara homogeneizada por esse senhor era: ou você aceitava as propostas [dele] ou não tinha gestão. Ele [Eduardo Cunha] demonizou o Centrão", disse, em referência ao bloco parlamentar que gravitava em torno de Cunha.

A ex-presidente também se disse "preocupada"  com os rumos que o país pode tomar a partir do governo de Michel Temer. "O golpe [ainda] não se completou, ainda está em curso. Então, tem de ver quais serão os caminhos do país. Estou muito preocupada porque, segundo a pauta do governo, ainda tem algumas reformas extremamente drásticas contra a população, principalmente Previdência e a reforma trabalhista, feita na mão grande", alertou.

Provocada sobre a possibilidade de um pedido de desculpas do PT pelos erros cometidos nos seus governos, levantada pelos ex-governadores gaúchos Olívio Dutra e Tarso Genro, Dilma disse que antes é preciso entender o que ocorreu com o sistema político do país. Para a ex-presidente, o sistema esfacelou os partidos, estimulou a fisiologia e acabou com as propostas programáticas.

"Não acho que você resolve as questões de crise política só com um pedido de desculpa. Pode pedir desculpas, não tem vergonha nenhuma em pedir desculpas. Mas não é essa a questão. A questão é entender como ocorreu esse processo de demonização, restrito a um espectro político. É como se o PT fosse o depositário de todos os pecados do mundo, o que não é verdade", analisou.

Na entrevista, Dilma se referiu ainda aos processos contra Lula e classificou uma eventual prisão do ex-presidente como "uma situação difícil" de ser justificada internacionalmente.

"Acho que há um objetivo claro de condená-lo em segunda instância [para que seja inelegível em 2018]. Mas se o prenderem, criam uma situação muito difícil para o país. A prisão será vista como corolário do golpe pelo mundo. Acho uma temeridade em todos os sentidos", finalizou.

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