Não é bem assim: candidatos do Rio derrapam em primeiro debate do 2º turno

Alfredo Mergulhão, Ana Rita Cunha, Bernardo Moura e Tai Nalon

Do Aos Fatos, no Rio

No primeiro debate do segundo turno da campanha municipal do Rio de Janeiro, promovido nesta sexta-feira (7) pela Band, os candidatos Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) abordaram questões como população de rua, favelas, passagem de ônibus e quadras poliesportivas.

Em parceria com o UOL, "Aos Fatos" checou, em tempo real, as declarações de ambos os candidatos. Verificou, ao longo do confronto, diferentes graus de equívocos cometidos pelos postulantes a prefeito. Veja os principais pontos identificados pela reportagem:

Yasuyoshi Chiba/AFP

Você tem aí a seu lado partidos que protagonizaram os grandes escândalos dos últimos tempos na política. O escândalo do petrolão é o maior da história.

Marcelo Crivella

Crivella acusa Marcelo Freixo de ter entre seus aliados envolvidos na Operação Lava Jato. Nesta semana, o PP, partido com maior número de investigados na operação, declarou apoio ao senador na corrida à Prefeitura do Rio.

O deputado Júlio Lopes (PP) confirma a informação. Em seu perfil no Instagram, o parlamentar afirma que "pelo entendimento de que estamos em novo momento e liderados pelo presidente Michel Temer para o resgate do país, seguiremos com o Senador Marcelo Crivella 10 para a Prefeitura do Rio de Janeiro".

O PP é o partido com o maior número de investigados na Operação Lava Jato, com 30 parlamentares envolvidos de um total de 66. O PT tem 12 investigados, e o PMDB tem 24 (nove no Senado e 15 na Câmara).

Crivella também integrou o governo Dilma Rousseff, no Ministério da Pesca.

O PSOL, partido de Freixo, não integrou o governo federal. No entanto, recebeu o apoio nesta semana do diretório municipal do PT. Ao lado de PP e PMDB, o PT é um dos principais alvos da Lava Jato.

Eu estava observando numa reportagem do jornal 'O Globo', alguns dias atrás, esse mapa da violência, e as áreas que mais contribuem para a população carcerária no Rio de Janeiro são realmente a zona oeste e a zona norte.

Marcelo Crivella

Inicialmente, Aos Fatos verificou que a informação sobre o endereço de origem dos presos do Rio de Janeiro não constava de qualquer das fontes oficiais checadas pela reportagem. Esse dado não consta do Atlas da Violência, desenvolvido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP); nem do Mapa da Violência, da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais; tampouco do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, produzido pelo Departamento Penitenciário Nacional e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

No Atlas da Violência e no Mapa da Violência, constam apenas dados sobre perfil dos homicídios cometidos no Brasil. Não há informações sobre a população carcerária.

No Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, existem informações mais detalhadas sobre os presos, porém nenhuma que aponte seu bairro de residência antes do encarceramento.

Procurada, a assessoria do candidato Marcelo Crivella não retornou as ligações de Aos Fatos nem respondeu mensagens de texto enviadas logo após o término do debate.

No entanto, Aos Fatos apurou que a provável fonte de informação do candidato é o estudo "Denúncia, Crime e Castigo", publicado pela FGV/DAPP no último dia 29. O levantamento cita dados carcerários do Rio distribuídos por bairro.

Segundo a FGV, entre 1º de janeiro de 2015 a 31 de julho de 2015, 45% dos presos declaram residir na zona norte (incluindo Tijuca) e 33,8% declaram morar na zona oeste (incluindo Barra da Tijuca e Jacarepaguá). As zonas central e sul eram residência de 13,2% e 8% dos presos, respectivamente. Com isso, é possível afirmar que, em números absolutos, as zonas oeste e norte são o principal endereço de origem de apenados. A questão é que essas mesmas regiões abrigam quase 70% da população carioca; é lógico, portanto, que a maior quantidade de encarcerados tenha origem nesses locais.

O estudo da FGV utilizou informações da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, do Instituto de Segurança Pública e do Disque Denúncia. Na pesquisa, são apresentados apenas os dados por bairro.

Para apresentar os dados por zona, Aos Fatos utilizou como critério a divisão das subprefeituras da Secretária Executiva de Coordenação de Governo. A informação segmentada por zona também não constava da matéria do jornal O Globo, mencionada pelo candidato Crivella.

Aos Fatos tentou contato com a FGV, para que a reportagem tivesse acesso à análise dos dados de maneira relativa, isto é, para saber a taxa de crimes que levaram à prisão por habitante em cada zona da cidade. Somente dessa maneira, é possível afirmar categoricamente que as zonas norte e oeste têm maior participação na composição carcerária do Rio.

Hoje, as pessoas no Rio de Janeiro estão pagando R$ 200 milhões por ano de multas.

Marcelo Crivella

De acordo com dados do Rio Transparente, até agora, o município arrecadou R$ 180.156.160,93 em multas neste ano. A previsão é chegar a R$ 190.209.558 até o fim de 2016. No ano passado, as multas de trânsito renderam R$ 187.138.696 aos cofres da prefeitura --montante menor que o previsto pela administração (R$ 189.822.150). Já em 2014, o município arrecadou R$ 177.796.633, e a previsão era de R$ 179.325.792.

Yasuyoshi Chiba/AFP

Metade das escolas públicas não tem quadra poliesportiva.

Marcelo Freixo

Freixo errou ao afirmar que metade das escolas públicas do município não têm quadra poliesportiva. Relatório do TCM (Tribunal de Contas do Município), feito por amostragem, mostra que 87,1% da rede municipal de ensino são equipadas com quadras.

O percentual de escolas sem quadra corresponde a 11,7%. Durante as visitas dos auditores do TCM, 1% das unidades estavam com as áreas esportivas em obras.

O relatório também apresenta a avaliação das condições estruturais das quadras nas escolas: 32,9% estavam em condições boas de utilização, 28,2% em condições razoáveis, 14,2% razoáveis com risco e 24,7% em condições precárias para uso.

O levantamento do TCM foi feito por amostragem em 195 escolas do município. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, existem 1.524 escolas municipais no Rio.

Para você ter uma ideia, o Rio de Janeiro hoje arrecadou em torno de R$ 150 milhões [em multas].

Marcelo Freixo

Não é verdade que a Prefeitura do Rio arrecada hoje em torno de R$ 150 milhões em multas. A cifra é 20% maior, de acordo com dados do Rio Transparente. Neste ano, o município arrecadou R$ 180.156.160,93 até agora. A previsão é chegar a R$ 190.209.558 só de multas até o fim de dezembro.

Um terço da população do Rio vive nas favelas.

Marcelo Freixo

A afirmação do candidato é imprecisa, de acordo com os dados disponíveis sobre a população total do Rio de Janeiro e sobre os moradores de favelas da cidade.

O Censo 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), contou 6.323.037 moradores na cidade. Destes, 1.393.314 pessoas vivem em favelas —22,03%.

No entanto, levantamento realizado pelo Instituto Data Favela concluiu que as comunidades abrigavam 2 milhões de moradores em 2014 —30% da população total da cidade, se cruzado com os dados do Censo 2010. Os números são mais próximos do que o candidato afirma, mas contrastam com a informação oficial vigente.

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