Doria quer eliminar ciclovias, mas Orçamento prevê verba para ampliar rede

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

  • Rivaldo Gomes/Folhapress

    Ciclovia sob o Minhocão é uma das que Doria promete eliminar

    Ciclovia sob o Minhocão é uma das que Doria promete eliminar

O prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), terá de fazer articulações políticas antes mesmo de assumir o cargo se quiser cumprir a promessa de não ampliar a rede de ciclovias na cidade. A proposta de Orçamento da prefeitura para 2017, que tramita na Câmara Municipal, prevê a destinação de R$ 25 milhões para expandir a rede cicloviária no ano que vem.

Doria vem dizendo que não ampliará a rede e que removerá parte das ciclovias, o que já provoca mobilizações por parte de ativistas. A Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo) pediu um encontro com o tucano, que ainda não agendou a reunião.

"O prefeito receberá a todos os representantes de movimentos organizados que se proponham a apresentar propostas para melhorar as condições de vida da população e a qualidade dos serviços públicos em São Paulo. Ainda não há data marcada para o encontro com os cicloativistas", afirmou ao UOL, por meio de nota, a assessoria de Doria.

"As ciclovias serão preservadas onde funcionam bem, onde têm movimento, ciclistas. Não serão continuadas em calçadas nem onde não são utilizadas. Vamos fazer um estudo para avaliar isso", disse o tucano em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo" nesta semana.

Se a proposta orçamentária não for mudada, a administração municipal será obrigada a fazer o investimento previsto em 2017. Para alterar a proposta, Doria tem de negociar com a gestão Fernando Haddad (PT) e com os vereadores. O orçamento tem de ser aprovado até dezembro. O tucano toma posse em 1º de janeiro.

Primeiro protesto

Fabio Braga/Folhapress
Ciclistas deitaram em frente à casa de João Doria

Na noite de quarta-feira (5), o prefeito eleito foi alvo do primeiro protesto. Um grupo de ciclistas pedalou até a frente de sua mansão, nos Jardins, zona oeste da cidade, para reivindicar a manutenção e a ampliação das ciclovias. Eles entregaram uma carta com esses pedidos a um segurança de Doria.

De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), a cidade possui 464 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas atualmente. A prefeitura planeja expandir a rede para 1.500 quilômetros até 2030.

Doria declarou que não pretende cumprir metas de criação de ciclovias. Segundo o tucano, elas só serão implantadas se houver "necessidade real e comprovada".

"No conjunto das declarações [do prefeito eleito], tem um componente de retrocesso. Quero crer que isso seja uma ressaca do processo eleitoral. No momento do diálogo, entendo que ele vai voltar atrás", disse Daniel Guth, diretor da Ciclocidade.

Doria manterá Paulista aberta a pedestres aos domingos e poderá remover ciclovias

Contradições

As declarações do prefeito eleito contradizem seu próprio programa de governo, disponível na página do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na internet. Nele, afirma-se que a intenção é "adequar a malha cicloviária existente e a ser implantada com melhorias de sinalização e iluminação; promover a conexão dos pontos de ciclovias ou ciclofaixas já existentes, implantando, assim, uma rede cicloviária do município".

Também há uma contradição em relação ao resultado da enquete feita na página da campanha eleitoral do tucano. A maioria dos internautas que respondeu a questão sobre ciclovias disse que elas "deveriam ser mantidas como estão e ampliadas".

A intenção de Doria também destoa da crítica feita à expansão da rede na gestão Haddad de que faltam conexões entre as ciclovias. A ampliação permitiria novas ligações. "A rede precisa de interconexão para que algumas ciclovias sejam mais utilizadas", afirmou Willian Cruz, criador do projeto "Vá de Bike".

Quanto às ciclovias e ciclofaixas em calçadas, Cruz disse que, em geral, elas ocupam este local por falta de condições de implantação na rua.

O ativista frisou que ciclovias e ciclofaixas preservam a integridade física dos ciclistas. "A gente não pode tirar a estrutura de segurança e colocar a vida em risco".

"Questão apartidária"

Para Cruz e para Guth, o debate sobre as ciclovias deveria ficar fora das rivalidades político-partidárias. O diretor da Ciclocidade ressaltou que a mobilização de ciclistas em São Paulo remonta à década de 1980 e se fortaleceu nos anos 2000, antes da gestão Haddad.

"A prefeitura tem uma memória e um acúmulo enorme de planejamento. Ele [Doria] tem que colocar como entende que a ampliação da rede deve ser feita. O que não pode é a agenda não avançar. Se não, coloca em xeque todo o modelo de governança. O governo se constrói num processo participação. Não dá para colocar em xeque planos, projetos e recursos. A gente não pode brincar com administração pública", declarou Guth.

Neste sábado (8), os ativistas do ciclismo se reunirão para discutir o cenário pós-eleição das políticas de mobilidade na capital paulista. Eles podem decidir por novos protestos pelas ciclovias.

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