Cunha recebe cumprimentos e xingamentos e não revela seu voto para prefeito

Gustavo Maia*

Do UOL, no Rio de Janeiro

O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB) foi chamado de "palhaço" ao votar no Rio de Janeiro, neste domingo (2), e recebeu cumprimentos de alguns eleitores. O parlamentar cassado em setembro não revelou seu candidato a prefeito da capital fluminense. Afirmou só que não votou em quem apoiou sua cassação. "Em respeito ao partido", disse.

Mauro Pimentel/Folhapress
O deputado federal cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) votou na Barra da Tijuca

Pedro Paulo (PMDB), colega de partido de Cunha e candidato a prefeito do Rio, votou pelo afastamento de Cunha.

O ex-deputado chegou para votar no Colégio Santa Mônica, na Barra da Tijuca, região oeste na capital fluminense, por volta das 9h. Acompanhado da filha, estava de calça jeans e camisa branca –ou seja, sem manifestar apoio a candidatos a prefeito do Rio.

Ao sair do seu local de votação, Cunha foi questionado sobre seu voto. Esquivou-se. Declarou somente seu voto a vereador: Chiquinho Brazão (PMDB).

No Twitter, após notificar que votou, Cunha resolveu falar de futebol, criticando a atuação do Flamengo no campeonato.

Cunha não avisou a imprensa sobre seu horário de votação visando à discrição. Mesmo assim, eleitores o reconheceram e chegaram a protestar contra ele enquanto ele votava.

Gustavo Maia/UOL
O mestre cervejeiro Pedro de Lucca chamou Cunha de "palhaço" e foi chamado de "petista" pelo deputado cassado

Enquanto falava com jornalistas que faziam plantão à sua espera, Cunha foi interrompido pelo mestre cervejeiro Pedro Lucca, 28, que com o celular na mão disse fazer questão de gravar a cena. "O senhor é um verdadeiro palhaço. E, sinto dizer, vocês que ficam fazendo entrevista com esse palhaço só motivam esse cara a fazer mais besteira", disse.

Depois de observar em silêncio seu detrator, o peemedebista comentou, em voz baixa: "vai, petista". Em seguida, disse que há dois lados da reação a ele. "Isso aí é um petista. Claramente eu tenho oposição de petistas, como eu tenho outras pessoas tirando foto e tudo."Lucca afirmou não ser petista e nem filiado a algum partido. Disse que representou "a indignação com um povo que é tolerante com um político que está aí escrachado como corrupto, que a gente sabe de todos os esquemas que ele fez por aí".

Lucca afirmou não ser petista e nem filiado a algum partido. Disse que representou "a indignação com um povo que é tolerante com um político que está aí escrachado como corrupto, que a gente sabe de todos os esquemas que ele fez por aí".

"Eu não consigo passar por um cara desse e não falar nada. É ridículo, deplorável, que tenham tirado foto com ele, em vez de botar o dedo na cara dele e dizer que ele é um merda, que precisa ser linchado e tem que apodrecer na cadeia. A gente infelizmente vive em um país de alienados", declarou o mestre cervejeiro, "formado na Alemanha e indignado com a situação política do país".

Enquanto falava com jornalistas, Cunha foi também cumprimentado pelo aposentado José Ricardo Abreu, 85. Sobre o fato de o ex-deputado ter sido cassado, Abreu afirmou que "trata-se de uma coisa passageira". "[O ex-presidente] Lula não quer voltar em 2018?", questionou Abreu, que disse nunca ter votado no peemedebista e se classificou com um ex-brizolista.

Primeira votação pós-cassação

Cunha foi questionado sobre como se sentia votando pela primeira vez depois de ser cassado. Declarou: "até a próxima eleição ainda tem muita água para rolar debaixo da ponte. Ainda vou entrar com alguns recursos, algumas ações no Supremo [Tribunal Federal]. Com embargo na Câmara. Eu não diria que esse assunto está sepultado".

Sobre o governo do presidente Michel Temer, seu correligionário, Cunha disse que ainda está muito cedo para avaliar. "Acho que depois da eleição é que vai começar de verdade, né?"

Livro de "vento em popa"

Cunha disse estar "trabalhando 15, 16 horas por dia" no livro que prometeu escrever sobre sua participação no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). "Está indo de vento em popa. Continua tentando ver se lanço no fim do ano como eu quero".

Segundo o peemedebista, vários capítulos da obra já estão prontos e a história inteira está ordenada. "Eu vou agora dosar o tamanho do livro, em torno de 300 páginas, se não ele vai ficar com 1.000 páginas", afirmou.

O ex-presidente da Câmara disse que sua ideia é que a obra cubra o período até a entrega do processo ao Senado, em 18 de abril deste ano. "A partir daí eu já não era mais personagem do processo. Eu terminei ali a minha participação [...] Eu acho que tenho que focar no meu papel".          

Ele disse ter "praticamente fechado" com uma editora, mas que a ideia é guardar o nome da empresa em segredo, "para na hora de sair, sair tudo de surpresa". "Inclusive as denúncias", questionou uma jornalista. "Eu não disse que vou fazer denúncia, eu vou fazer um livro de história", respondeu Cunha.             

*Colaborou Vinicius Konchinski

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