Um tem repetido à exaustão que não é político, mas um gestor. Outro diz que é o defensor dos direitos do consumidor. Tem também a que se orgulha de ser a "mãe" dos CEUs (Centros Educacionais Unificados) e o que afirma aos quatro ventos que abriu centenas de creches.

Esses são alguns dos bordões usados pelos quatro candidatos à Prefeitura de São Paulo que estão à frente na disputa eleitoral segundo os institutos de pesquisa. Mas será que o que eles dizem é verdade? A reportagem do UOL verificou e encontrou contradições nas falas desses prefeituráveis.

Segundo a mais recente pesquisa Ibope divulgada na quarta-feira (28), João Doria Jr. (PSDB) tem 28% das intenções de voto; Celso Russomanno (PRB), 22%; Marta Suplicy (PMDB) tem 16%; e Fernando Haddad (PT), 13%. O instituto ouviu 1.204 pessoas. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

"Não sou político"

Seja nas suas inserções na TV e no rádio ou nos debates eleitorais, o publicitário Doria faz questão de reiterar que não é político: "Não sou político, sou um administrador, sou empresário, sou gestor".

Tendo em vista a aversão de parte da população brasileira à classe política, esse discurso pode ser música para os ouvidos dos eleitores, mas não condiz exatamente com a realidade.

Filho de um deputado federal que teve o mandato cassado pela ditadura, Doria já ocupou cargos políticos: na década de 80, ele foi secretário de turismo e presidente da Paulistur na gestão do prefeito Mário Covas (à época, no PMDB) e depois presidente da Embratur durante o governo do presidente José Sarney (PMDB).

Seu ingresso oficial em um partido só ocorreu duas décadas depois: ele se filiou ao PSDB em 2001.

Defensor dos direitos do consumidor

O deputado federal Celso Russomanno (PRB-SP) levou seu bordão de defensor dos direitos do consumidor da TV para dentro da campanha eleitoral. O titular do quadro "Patrulha do Consumidor", exibido pela TV Record, é definido como "referência internacional na defesa do consumidor" em sua propaganda política.

Contraditoriamente, Russomanno é acusado de propaganda enganosa, violando assim o Código de Defesa do Consumidor que tanto defende. A empresa SYS Equipamentos de Tecnologia Ltda, registrada em seu nome, foi multada em 2008 pelo Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) de São Paulo em R$ 11,9 mil.

Segundo o candidato, a empresa foi vendida recentemente, mas não informou a data. A SYS Equipamentos de Tecnologia Ltda continua registrada em seu nome na Junta Comercial e na Receita Federal.

Também pesa contra Russomanno a acusação de não ter pagado direitos trabalhistas a funcionários de um bar em Brasília que era de sua propriedade. O estabelecimento faliu e foi fechado em agosto deste ano.

O candidato do PRB disse na quarta-feira (28) que o dinheiro "está disponível" caso os trabalhadores que entraram na Justiça queiram fazer um acordo.

"Mãe" dos CEUs

A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) se orgulha da alcunha "mãe" dos CEUs, centros que reúnem em um só lugar unidades de ensino públicas e equipamentos para práticas esportivas e culturais. Atualmente a cidade possui 46 CEUs em bairros da periferia.

Quando foi prefeita da capital paulista, entre 2001 e 2004 pelo seu antigo partido PT, ela construiu 21 CEUs. No entanto, o ex-prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM, atual PSD) construiu mais CEUS que Marta: 24; o atual prefeito entregou 1.

Em seu programa de governo, a candidata diz que pretende manter e ampliar o modelo de CEUs. Segundo a página da Prefeitura de São Paulo, catorze centros estão atualmente em obras.

No debate entre os candidatos, promovido pela TV Globo na quinta-feira (29), Marta foi questionada sobre os altos custos de construção dos CEUs. "Dinheiro tem, porque quando eu fiz os primeiros CEUs diziam que eu era louca, que não podia pôr piscina para pobre, que não tinha dinheiro, e consegui fazer."

Na contramão dessa promessa, a psicóloga já declarou ser a favor do teto de gastos, proposto pelo governo de Michel Temer (PMDB), que atingiria também a área de educação. A proposta é limitar os gastos públicos por 20 anos, a partir de 2017, que seriam corrigidos pela variação da inflação do ano anterior.

"Hoje, os Estados, os municípios, e a própria União fazem uma gastança desenfreada que não dá conta mais; tem que ter realmente um teto de gasto que se pode fazer", declarou Marta durante debate promovido pelo UOL, "Folha de S.Paulo" e SBT no dia 23 com os candidatos à Prefeitura de São Paulo. 

Questionada pela reportagem do UOL sobre de onde viriam os recursos para os CEUs, a assessoria de Marta deu a seguinte resposta: "Os recursos para a construção dos 14 CEUs previstos na proposta de governo da candidata Marta virão do orçamento do município. Serão investidos R$ 25 milhões para a construção de cada um. Como todas propostas da candidata, a construção dos CEUs é realista. Sobre o posicionamento da candidata em relação à definição de teto de gastos no orçamento, a medida não pode incluir as áreas de saúde e educação."

Construção de creches

Em suas falas públicas, o prefeito Fernando Haddad (PT) tem feito questão de destacar um dos números da sua gestão: a criação de mais de 400 creches. Segundo o programa de metas da Prefeitura, disponível na internet, foram implantadas 410 creches na capital desde o começo de sua gestão, em 2013.

No entanto, um detalhe que ele não evidencia é que grande parte das vagas (97%) foi aberta em creches conveniadas, e não em unidades de propriedade da prefeitura.

Durante seu governo, Haddad construiu 42 creches (28 em parceria com o governo do Estado, duas com o Ministério da Educação e 12 com verba municipal), número distante das 243 prometidas em seu programa de governo. Segundo a Executivo municipal, outras 56 unidades estão em obras.