Último debate no Rio tem confrontos, plateia exaltada e até paródia musical

Do UOL, no Rio

O último debate do primeiro turno da eleição com os candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (29), teve ataques incisivos e acusações entre os participantes, uma paródia cantada pelo senador Marcelo Crivella (PRB), e uma crítica à Rede Globo, emissora que promoveu o evento. O clima quente das discussões se refletiu também no comportamento da plateia, que foi advertida diversas vezes pela mediadora, Ana Paula Araújo. Os tempos de fala dos candidatos chegaram a ser interrompidos diversas vezes.

Primeira a fazer pergunta, a candidata Jandira Feghali (PCdoB) iniciou sua fala destacando que estava na Globo e dizendo que "não poderia deixar de registrar que esta emissora apoiou o golpe contra a democracia", em referência ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), sua aliada. Em seguida, dirigiu-se a Pedro Paulo (PMDB), ex-integrante da base da petista, que é deputado federal licenciado e votou pelo afastamento de Dilma na Câmara.

"Como é que você jogou tanto voto fora e agora pede voto?", questionou. Foi o começo de uma troca de ataques que rendeu dois direitos de resposta, uma para cada. No total, foram seis pedidos de direito de resposta ao longo do debate, mas apenas estes dois foram concedidos.

Depois de dizer que a adversária representava a "anarquia, o radicalismo e um modelo do Brasil que não deu", o peemedebista foi chamado de "agressor de mulher", em referência ao episódio em que foi investigado por suposta agressão a ex-mulher. O inquérito foi arquivado no mês passado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Pedro Paulo então disse que Jandira não respeitava a Justiça brasileira e disse que ela "foi acusada de receber propina da Lava Jato".

Brazil Photo Press/Ag. O Globo
Jandira e Pedro Paulo protagonizaram um dos embates mais acirrados da noite

"Você foi acusada de receber propina da Lava Jato. O [procurador-geral da República Rodrigo] Janot vai atrás de você. Você vai ter que provar a sua inocência de não ter recebido propina do Sérgio Machado [ex-presidente] da Transpetro", declarou.

Visivelmente irritada, ela negou que tenha sido acusada e disse que o peemedebista "agride mulheres na vida e agride na política, fazendo acusações falsas e mentirosas". Segundo o serviço de checagem em tempo real "Aos Fatos", Pedro Paulo errou em sua declaração. A candidata do PCdoB foi citada na delação premiada de Machado, mas não foi denunciada pelo Ministério Público e tampouco é ré neste caso.

Primeiro lugar nas pesquisas Ibope e Datafolha, Crivella (PRB), que é bispo licenciado da Igreja Universal, se envolveu em outra discussão acalorada com Pedro Paulo, que se referia a ele apenas como "bispo Crivella". O senador disse que o peemedebista havia dito que ele iria aparelhar a prefeitura com pastores e bispos, e negou que a Igreja Universal vai mandar no seu eventual governo.

"Pedro Paulo, você fala isso o tempo todo na televisão, mas não sobe um ponto e eu não caio um ponto", disse o candidato do PRB. "Eu não sei porque você vestiu a carapuça, mas talvez seja porque todo mundo morre de medo do [Anthony] Garotinho voltar", rebateu Pedro Paulo, em referência à aliança do ex-governador do Rio com Crivella.

O candidato do PRB fez então críticas a nomes importantes do partido do adversário. "Não é assim que você vai limpar a barra do PMDB. Esses dias eu encontrei um eleitor ilustre e ele cantou para mim uma música do Ivan Lins: "Cai o rei de espadas/ cai o rei de ouro / cai o rei de paus, cai, não fica nada. Na verdade, o que ele queria cantar para mim era o seguinte: cai Sérgio Cabral / cai Eduardo Cunha / cai Pezão, cai, não fica nada. Essa é a canção do carioca. O PMDB tem que cair. Ninguém aguenta mais os escândalos dos candidatos".

Ao longo do debate, a legenda do atual prefeito, Eduardo Paes (PMDB), foi alvo de ataques de outros candidatos como Marcelo Freixo (PSOL), Alexandre Molon (Rede) e Jandira, sempre citando casos de corrupção. A cidade exibida na propaganda do candidato peemedebista sobre as realizações do governo, do qual foi secretário, foi classificada como "Planeta Pedro Paulo", expressão adotada por seus adversários nas últimas semanas, e "ilha da fantasia".

Ao apontar o que chamou de "falta de respeitabilidade dos políticos" como "o pior problema para a segurança da cidade", o senador lembrou um episódio polêmico envolvendo Paes, padrinho político de Pedro Paulo. "Quando foi entregue uma casa para uma senhora pobre se inventou uma história absurda de canguru perneta", disse, em referência a um vídeo que circulou nas redes sociais e mostra o prefeito fazendo uma sugestão de cunho sexual ao entregar a chave de um apartamento popular a uma mulher identificada como Rita.

Reprodução/Rede Globo
Crivella cantou, citou "canguru perneta" e discutiu com a apresentadora do debate

Em outro embate com Pedro Paulo, Crivella teve problemas com o tempo de fala, interrompido por manifestações do público. "Olha, eu quero tempo de volta porque tem uma desequilibrada aí que não deixa a gente falar", declarou. Ele chegou a discutir com a mediadora em um momento em que o cronômetro do peemedebista ficou parado.

Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), que foi cassado no início do mês, foi citado por Crivella, Freixo, Jandira, Molon e Indio da Costa (PSD), os três últimos deputados federais. Crivella insinuou que Cunha poderia ser o secretário de Fazenda de um eventual governo de Pedro Paulo.

Resposta da Globo

Depois que a Globo foi Citada por Jandira, a jornalista Ana Paula Araújo se manifestou em nome da emissora. "Quero, com respeito a você, telespectador, esclarecer que a TV Globo não é obrigada a realizar debate. A emissora faz isso exatamente por apreço à democracia, inclusive se expondo a ter críticas ao vivo dos candidatos que estão aqui e concordaram em participar desse debate. Não é a TV Globo que está sendo avaliada aqui, é o candidato. É você em casa que vai poder ver as propostas, comparar as ideias e ver quem é que tem mais compostura e competência para ser prefeito do Rio de Janeiro", declarou a mediadora.

Polêmicas, gritos e até piadas agitaram debates no Brasil nos últimos anos

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