Greca declara por R$ 1.388 obras similares a peças roubadas

Rafael Moro Martins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

  • Reprodução/facebook.com/rafaelgreca

    Rafael Greca na Igreja da Ordem, em Curitiba

    Rafael Greca na Igreja da Ordem, em Curitiba

A lista de bens entregue por Rafael Greca (PMN) ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) elenca um item cuja descrição é compatível com a das obras que a FCC (Fundação Cultural de Curitiba) suspeita que estejam em chácara que pertence ao ex-prefeito, ex-ministro e novamente candidato na capital paranaense.

A declaração de patrimônio de Greca, uma exigência do TSE, tem "mobílias do século 19" como um dos 33 itens classificados como "joia, quadro, objeto de arte, de coleção, antiguidade etc.". A ele, atribui o valor de R$ 1.387,92.

A FCC apura o desaparecimento, em 1995, de 12 obras de arte originalmente pertencentes a um museu municipal, a Casa Klemtz. Como revelou a "Folha de S. Paulo", a instituição suspeita que parte delas estejam na chácara de Greca, que era prefeito quando as obras sumiram.

A fundação é subordinada à prefeitura de Curitiba; o atual prefeito, Gustavo Fruet (PDT), busca a reeleição. Apesar de o desaparecimento ter ocorrido há 21 anos, o caso só veio à tona na semana passada, após a reportagem da Folha.

Os móveis declarados por Greca --e expostos por ele em redes sociais-- coincidem, em descrição e imagens, com três dos itens desaparecidos em 1995: uma cristaleira e dois lavatórios. A FCC informou ao UOL que um dos lavatórios é do século 19, segundo peritos. As outras duas peças possivelmente são da mesma época, segundo a assessoria do órgão municipal, que informou ainda que não faz estimativa do valor das obras.

Reprodução/Facebook
Os móveis declarados por Greca coincidem, em descrição e imagens, com itens desaparecidos: uma cristaleira (foto) e dois lavatórios


Em 2012 --quando, candidato a prefeito pelo PMDB, não passou do primeiro turno--, Greca declarou o mesmo item, com o mesmo valor, mas descrição mais completa: "objeto de arte: mobília século 19. Guarda-louça, marquesa, escrivaninha São Francisco Poty Lazarotto".

Os itens já constavam da declaração de bens de Greca em 2010

O que diz Greca

"Da declaração do imposto de renda consta o quesito mobília século 19: guarda-louça, marquesa e escrivaninha. O guarda-louça é o móvel a que a prefeitura se refere. Todos estão classificados como objeto de arte, seguindo código da Receita Federal", informou a campanha de Greca.

"Esses bens (mobília) são herança de família declarados há mais de 20 anos e os valores foram estimados, sendo que o valor final é oriundo das diversas conversões da moeda, segundo os critérios estabelecidos na legislação da Receita Federal", justificou-se a assessoria do candidato.

Nesta terça-feira (27), Greca era esperado para depor sobre o caso --na condição de convidado, uma vez que não é funcionário da prefeitura-- em sindicância aberta na Procuradoria Geral do Município. Não foi.

"Não reconhecemos essa sindicância. Ela nasce morta, pois pulula abuso de poder e perseguição política. Ela foi aberta dez dias antes das eleições. [Os itens desaparecidos] eram produzidos em série. A prefeitura quer fazer um fato político", disse Walber Agra, advogado de Greca.

Agra entregou petição à sindicância. Nela, informa que "após o término do período eleitoral Rafael Greca estará à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários."

Segundo a assessoria, o candidato do PMN não irá abrir a chácara para que se comparem as peças com as imagens das que sumiram do acervo municipal, como foi instado a fazer por Fruet.

A coleção

Rafael Greca é dono de uma coleção de arte de 33 itens, avaliada, em sua declaração de bens, em R$ 63,8 mil. O mais caro --R$ 10,5 mil -- é um quadro da escola cusquenha, de autor não informado. Trata-se de uma obra produzida por artistas de Cusco, Peru, a partir da colonização espanhola, com finalidade principalmente didática --eram obras de arte eclesiástica usadas na catequização dos incas.

Fazem parte da coleção obras de Sérgio Ferro, Di Cavalcanti e Tomie Ohtake --nesse caso, um óleo sobre tela, declarado por R$ 1 mil. Reverenciada como um dos principais nomes da arte moderna brasileira, Ohtake tem obras em sites de leilões de obras de arte, no formato 100 cm por 100 cm (o mesmo da que pertence ao candidato), por valores entre R$ 250 mil e R$ 300 mil.

O valor de R$ 1.387,92 se repete para cinco diferentes itens da coleção de arte de Greca: a mobília, um desenho e uma aquarela do artista francês radicado em Curitiba Paul Garfunkel, um ícone da escola Novgorod --movimento artístico russo dos séculos 12 a 16-- e uma gravura da artista argentina radicada na França Leonor Fini.

"Os objetos de arte que constam na minha declaração em sua maioria foram presentes pessoais dos artistas, muitos deles meus amigos de longa data", afirmou a campanha de Greca. No caso da pintura de Tomie Ohtake, "O valor de R$ 1 mil foi auferido restritamente para efeitos meramente fiscais, uma vez que a obra não possui finalidade e nem valor comercial, pois foi produzida de forma personalizada e sem qualquer temática. Ela foi dedicada pessoalmente a mim como consta no verso da obra."

Sobre os valores repetidos, trata-se de estimativas, "sendo que o valor final é oriundo das diversas conversões da moeda".

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