Saúde, trânsito, farpas e Marta como alvo dominam debate da TV Record

Do UOL, em São Paulo

  • Nelson Antoine/Framephoto/Estadão Conteúdo

    Candidatos no debate da TV Record: da esq. para a dir., Haddad, Erundina, Russomanno, a apresentadora Adriana Araújo, Doria, Marta e Major Olímpio

    Candidatos no debate da TV Record: da esq. para a dir., Haddad, Erundina, Russomanno, a apresentadora Adriana Araújo, Doria, Marta e Major Olímpio

O debate entre seis dos 11 candidatos à Prefeitura de São Paulo neste domingo (25), realizado pela TV Record, foi marcado por aumento na contundência dos ataques, a maioria dirigidos à candidata Marta Suplicy (PMDB), e a predominância de saúde e do trânsito entre os temas discutidos.

Além de Marta, participaram do debate Celso Russomanno (PRB), João Doria (PSDB), Fernando Haddad (PT), Luiza Erundina (PSOL) e Major Olímpio (SD).

O evento foi o segundo ocorrido após a divulgação dos resultados da pesquisa Datafolha de 22 de setembro - Doria alcançou 25% das intenções de voto, enquanto o deputado Russomanno caiu para 22%. Marta oscilou negativamente para 20%.

Marta é o alvo

O debate da TV Record começou com os candidatos fazendo perguntas diretamente para os oponentes, após um sorteio realizado pouco antes do evento, e os ataques esquentaram as discussões - Marta acabou concentrando as farpas na parte inicial.

O primeiro embate foi com Russomanno, que disse que ela pagaria "judicialmente" por afirmar que ele não havia quitado os salários dos funcionários do Bar do Alemão, em Brasília - a menção foi ao fechamento do estabelecimento comercial de propriedade do candidato do PRB, que teria deixado dívida de R$ 2 milhões.

"Eu trouxe os comprovantes de quitação para entregar a você. Eu cumpro com as minhas obrigações", defendeu-se Russomanno. Em sua resposta, afirmou que Marta não "vai às ruas brigar pelas pessoas." "Quando a população de São Paulo mais precisou ela estava em Paris pedindo para as pessoas relaxarem e gozarem com os problemas de caos aéreo no País", disse.

Até quando não estava questionando diretamente Marta Suplicy, o candidato do PRB falou da gestão da peemedebista. Em pergunta endereçada a Fernando Haddad, Russomanno questionou o petista como ele avaliava a gestão dela à frente da prefeitura, entre 2001 e 2004.

Haddad disse que houve projetos inovadores durante a primeira metade do mandato, citando a criação dos CEUs. Entretanto, criticou duramente o restante do tempo de administração. "Mas na segunda metade, ela gastou o que não tinha, fazendo obras que não eram prioritárias para cidade", disse, citando a abertura de túneis que inundavam durante os temporais.

Na réplica, Russomanno voltou a atacar Marta, afirmando que ela deixou muitas dívidas, e continuou a se referir às viagens internacionais da candidata. "Em meio ao caos deixado pelas chuvas, na administração dela, estava com o marido em Paris. Marta implantou as maiores taxas de impostos da cidade. Ainda quer ser prefeita de novo?", questionou.

Zanone Fraissat/Folhapress
Marta Suplicy, candidata do PMDB, recbeu ataques no começo do debate da TV Record, mas atacou Celso Russomanno

Se tinha sido cauteloso na primeira resposta, Haddad concordou com Russomanno a respeito da dívida pública da cidade. "A administração de Marta deixou tantas dívidas que os reflexos duraram mais de dez anos, e foi eu, como prefeito, que resolveu a questão, com a renegociação e reestruturação das dívidas só foram pagas no seu mandato."

Major Olímpio também aproveitou a peemedebista como alvo e mencionou supostos R$ 500 mil que ela teria recebido de doações via caixa dois da Odebrecht na campanha de 2010, segundo informações coletadas durante processo de delação premiada de executivos da empresa. Marta negou irregularidades na sua campanha.

Haddad, por sua vez, voltou a questionar Marta sobre a volta da Controlar, afirmando que a inspeção veicular oneraria os contribuintes e traria mais custos para prefeitura, além de causar a perda da arrecadação de IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores).

A peemedebista negou que sua proposta traria aumento de custos. Disse que a adesão ao programa de controle de emissão de poluentes seria facultativo - e quem aderisse poderia receber descontos no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).

Ataques a Doria e a Russomanno 

João Doria e Russomanno também sofreram ataques. O candidato do PRB foi citado por Haddad, Marta e Erundina por conta do fechamento do bar de sua propriedade em Brasília. O petista aludiu ao fato de ter deixado dívidas, acusado ainda de ter se apropriado da "caixinha" dos garçons. Russomanno negou a acusação e as dívidas, e lamentou que tenha sido "obrigado a demitir 70 funcionários por conta da crise econômica, coisa que eu não queria fazer".

Marta, ao final do debate, escolheu o candidato do PRB como alvo e relatou uma série de supostas ações judiciais envolvendo outros empreendimentos comerciais atribuídos a ele, como uma franquia e uma padaria, que teriam falido nas mãos dele. Haddad aproveitou e afirmou que Russomanno, depois de dizer que quem não consegue administrar nem um restaurante não pode ser prefeito, retomando a questão do bar de Brasília.

O candidato do PRB rebateu dizendo que nunca teve o nome protestado e que nenhum de seus negócios como empresário faliu. "Sou empresário e fechei alguns empreendimentos que não deram certo. Isso não é crime." 

Zanone Fraissat/Folhapress
João Doria, candidato do PSDB, disse que é um um honrado ao ser criticado de que, com a privatização, irá abrir a porta da prefeitura à especulação imobiliária

O tucano João Doria evitou os embates sempre que pôde, mas virou alvo quando reforçou que pretende realizar privatizações caso seja eleito, e citou o complexo do Parque de Exposições do Anhembi. Fernando Haddad e Luiza Erundina aproveitaram e criticaram a medida. "Essa política pretende abrir as portas da administração pública para a especulação imobiliária, entregando capital público, que é do povo. Não dá para aceitar que um prefeito atue como representante de empresas."

Ganhando direito de resposta, Doria disse que é um trabalhador e um homem honrado, que nunca se envolveu em bandalheiras, "coisa que é bastante comum no partido que Erundina integrou e que Haddad integra atualmente".

Crack e saúde da mulher

As críticas à qualidade e ao sistema de saúde de São Paulo foram feitas por todos os candidatos, mas em nenhum momento questionaram diretamente o prefeito Fernando Haddad, que tenta a reeleição, sobre isso.

Quando teve oportunidade, Haddad preferiu ressaltar o programa Braços Abertos, da prefeitura, que atende a usuários de crack do centro da capital, voltando a criticar o governo estadual por permitir que o "tráfico de drogas continue atuando sem combate na Cracolândia".

Doria e Major Olímpio rebateram. O tucano afirmou que o programa não dá resultados e que se tornou um estímulo ao consumo de drogas. "Se eleito, acabarei com esse programa e implantarei o do governo estatual, que é mais eficiente." Major Olímpio preferiu dizer que a Cracolândia é uma terra sem lei.

Zanone Fraissat/Folhapress
Fernando Haddad defendeu as obras viárias na zona sul e o programa Braços Abertos, na Cracolândia
 Marta Suplicy questionou Luiza Erundina sobre suas propostas para a saúde da mulher. A candidata do PSOL aproveitou a pergunta para atacar Marta sobre as mudanças propostas pelo governo do presidente Michel Temer, que é do mesmo partido que Marta, para a Previdência, que segundo Erundina vai prejudicar principalmente às mulheres.

"Com essa reforma previdenciária vai ter muitas mulheres que não vão ter vida suficiente para conseguir se aposentar. Há regiões de São Paulo que a expectativa de vida das mulheres não chega aos 60 anos", disse a candidata do PSOL.

Marta disse que Erundina poderia "ficar tranquila" que ela não votaria em nada que contrariasse direitos adquiridos e afirmou que, se eleita, criaria o SIM (Sistema Integrado da Saúde da Mulher), que vai oferecer desde especialidades médicas a um núcleo de combate à violência contra a mulher.

Mobilidade urbana

Haddad foi questionado a respeito dos problemas de trânsito congestionado na zona sul de São Paulo. Respondendo a Major Olímpio, citou várias obras feitas na região, "que ajudaram a aliviar o trânsito".

 O candidato do Solidariedade criticou o gestor afirmando que é preciso "reconstruir" o transporte público, mencionando a retirada de mais de 3 mil ônibus. "Aliviar (o trânsito) é uma característica do PT mesmo. A minha melhor obra vai ser livrar a cidade do senhor, não adianta fazer grandes obras, é preciso expandir o transporte coletivo", disse, lembrando que no próximo ano a cidade deve contar com 10% a menos do orçamento atual. O atual prefeito negou que a frota tenha diminuído.

O aplicativo Uber foi novamente levado ao debate. Luiza Erundina disse que é a favor da modernidade, "mas sem esquecer dos direitos desses motoristas. "Tem que regular corretamente, não pode permitir a exploração desses trabalhadores. É preciso atualizar a lei que regula a atividade dos taxistas, impedir o conflito entre motoristas de táxi e Uber. São 35 mil taxistas na cidade, é preciso ajudá-los a se modernizar e a incorporar as novas tecnologias ao seu dia a dia de trabalho."

Nelson Antoine/Framephoto/Estadão Conteúdo
Celso Russomanno, candidato do PRB, criticou Marta, diz que vai brigar pelas pessoas e que nunca teve o nome protestado

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