Marta, Doria e Haddad concentram farpas durante debate

Janaina Garcia, Wellington Ramalhoso e Lúcia Valentim Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

Faltando pouco mais de uma semana para o primeiro turno das eleições, Marta Suplicy (PMDB), João Doria Jr. (PSDB) e Fernando Haddad (PT), atual prefeito de São Paulo, foram os principais alvos de críticas durante o debate promovido nesta sexta-feira (23) por UOL, "Folha de S.Paulo" e SBT. Participaram do evento os seis candidatos mais bem posicionados na última pesquisa de intenção de voto na capital paulista. Celso Russomanno (PRB) acabou poupado de investidas, assim como Major Olimpio (Solidariedade) e Luiza Erundina (PSOL).

As farpas entre Haddad e Marta surgiram nas perguntas dele para ela. O candidato à reeleição indagou se Marta "teve oportunidade de conhecer" feitos dele na saúde. "Quando eu herdei do Kassab, que hoje está com você, a rede, os tempos de esperam eram muito maiores, melhorou pouco, e precisa melhorar mais", disse o prefeito.

"Você parece que fez tudo, né? Fico até constrangida. Porque você falou do transporte. Eu fiquei atacada quando você falou 'melhor gestão do transporte'... Vai perguntar para a população ou [para] você que está em casa, qual foi a melhor gestão do transporte. Minha gente, eu tive que usar até colete à prova de bala para conseguir lidar com a máfia dos transportes, e você disse que fez a melhor gestão?", criticou ela.

O encontro foi mediado por Carlos Nascimento, do SBT, e os jornalistas que fizeram perguntas aos candidatos foram Diogo Pinheiro (UOL), Fernando Canzian ("Folha de S.Paulo") e Kennedy Alencar (SBT).

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Russomanno e Haddad também trocaram farpas sobre a saúde. "Mães reclamam para mim que, para levar o filho ao pediatra, demora, às vezes, seis meses; um ginecologista, oito meses; um exame, 12 meses. Durante quatro anos você teve a oportunidade de atender estas pessoas e ajudar cada uma delas a resolver seus problemas de saúde. E isso não aconteceu", afirmou Russomanno.

"Eu herdei um quadro de longa espera em todos os exames e procedimentos. Criei 33 hospitais-dia da rede Hora Certa para diminuir a fila gradualmente. Temos que continuar criando hospitais. A cidade está com um rumo. Ela está bem? Não, ela está melhor do que eu herdei e vai continuar melhorando até termos um atendimento de excelência", respondeu Haddad.

"As pessoas reclamam nas ruas do Hora Certa, não funciona. Você precisa ir para rua, ouvir as pessoas, ir aos postos de saúde", disse Russomanno na réplica.

"Russomanno, você colocou no seu plano de governo que vai expandir a Rede Hora certa. Então, das duas uma: ou você vai expandir ou você critica. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo", rebateu Haddad na tréplica.

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Corrupção

Major Olimpio lembrou casos de corrupção das gestões do PSDB no governo de São Paulo e disse que o partido de Doria "tem as mesmas práticas nefastas" vistas no governo estadual. "É corrupção no metrô, corrupção na CPTM, corrupção até no desvio de merenda. O senhor vai romper com este quadro da corrupção ou o senhor vai prosseguir na forma peessedebista de administrar?"

"O PSDB não é o partido que faz corrupção e introduz corrupção. O PSDB apura a corrupção, apura os cartéis e pune aqueles que fazem a corrupção", respondeu Doria, que aproveitou a ocasião para criticar o PT. O tucano reconheceu, porém, a importância da Controladoria-Geral do Município, criada por Haddad (PT), e prometeu valorizá-la.

Erundina e Doria

O tom ficou ríspido no embate entre Erundina e Doria na rodada de perguntas dele para ela. Era para tratar de iluminação pública, mas a candidata pediu "explicações à sociedade sobre certas questões, como, por exemplo, o terreno invadido em Campos do Jordão. Você já devolveu esse terreno?", indagou a candidata do PSOL. 

"Estamos discutindo São Paulo, e não Campos do Jordão --se quiser ser candidata a prefeita em Campos do Jordão, podemos debater em Campos do Jordão, com todo o respeito", devolveu Doria, que não respondeu a pergunta sobre a área invadida. "Uma liderança pública, uma pessoa pública tem que responder pelos seus atos independente de se darem aqui ou fora de São Paulo", concluiu Erundina, aplaudida pela plateia.

Ele acabou voltando ao tema para dizer que já pediu a devolução do terreno. "Eu atendo, sou obediente à lei, já mandei devolver este terreno, esta nesga, na verdade uma viela de 365 metros à comunidade, agindo de forma correta."

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Irritação com jornalista

Primeiro colocado nas pesquisas até ontem à noite --quando nova pesquisa Datafolha mostrou Doria no topo--, Russomanno só viu o tom em relação a ele efetivamente subir nas perguntas de jornalistas, não de candidatos. 

Indagado por Diogo Pinheiro, sobre um coordenador de campanha dele ter usado notas frias para justificar gastos, conforme reportagem do UOL desta semana, o candidato do PRB não disse se ficava constrangido com essa situação. Ele afirmou ter pedido à Polícia Federal a apuração dos fatos. "Marcelo [Squassoni, o coordenador e deputado federal pelo PRB] disse para mim está sendo vítima de coação. Quero a apuração dos fatos."

O candidato também não se mostrou disposto aos embates. Quando tinha Haddad e Major Olímpio para escolher, por exemplo, optou pelo candidato do Solidariedade --ocasião em que ambos aproveitaram para criticar a política de saúde da atual gestão.

Ao ser questionado pelo jornalista Fernando Canzian, da "Folha", sobre a proposta de reduzir impostos na cidade, o candidato se irritou: "Você está enganado. Eu disse que ia reduzir o ISS (Imposto Sobre Serviços), não o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Você não leu direito, você precisa ler melhor".

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Propostas

Doria centrou foco nas propostas de privatização que tem propagado na campanha --como, por exemplo, em relação aos corredores de ônibus. O tucano disse que publicidade em aplicativos fará com que o cidadão não banque isso.
 
"A publicidade no aplicativo no seu celular que vai pagar pelo serviço, a população não paga um centavo a mais, ao contrário, terá um serviço de melhor qualidade e economia de tempo no transporte da sua casa, ao trabalho, e do trabalho a sua casa", disse.
 
Doria e Olimpio disseram que vão rever a redução da velocidade nas vias. 

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"A questão da velocidade para marginais e dos corredores tem que ser analisada tecnicamente, a partir dos estudos de engenharia. Os técnicos, engenheiros da CET [Companhia de Engenharia de Tráfego], disseram que o prefeito e o secretário nunca os consultou tecnicamente em relação a isso", disse Olimpio, para quem a redução foi feita "demagogicamente". "No nosso caso, as velocidades serão alteradas na semana seguinte. A análise já foi feita", afirmou Doria.

Abordando o tema da segurança pública, Major Olimpio voltou a criticar a gestão atual. "A CET não fala com a Guarda Civil Metropolitana, que não fala com a SPTrans, que não fala com a Defesa Civil, e não fala com a polícia", afirmou. "O cidadão é daltônico em relação a quem o protege, ele não quer saber se é uniforme cinza da Polícia Militar, se é jaleco preto escrito Polícia Federal, ou Polícia Civil, ou azulão da Guarda Civil Metropolitana. Ele quer ser protegido."

Erundina ressaltou o deficit de 100 mil vagas na educação infantil. "Educação tem que ter uma gestão direta da administração pública, não vamos romper com os contratos, das OSs, mas vamos congelar estes contratos, expandir a rede pública de administração direta, porque essa é uma responsabilidade do governo de garantir um direito social", completou a candidata. "Vamos manter o ritmo de construir, ou inaugurar duas creches por semana na cidade de São Paulo até esgotar a fila", rebateu Haddad.

Marta prometeu construir mais unidades do CEUs (Centros Educacionais Unificados) e criar um centro de saúde destinado às mulheres. 

"Vamos aumentar o período da UBS (Unidade Básicas de Saúde) para ela ficar aberta até as 23h e que possa funcionar no sábado. E ter um programa do coração, que é o SIM, o Sistema Integrado da Saúde de Mulher. Nós devemos isso às mulheres paulistanas."

Também na área da saúde, Russomanno falou em informatizar o sistema, tornando digitais todos os prontuários de pacientes, e prometeu criar um hospital para idosos. "Nós vamos fazer o hospital dos idosos. Lá nós teríamos especialistas em geriatria".

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