Com crise, times de marketing político encolhem e aceitam salários menores

Aiuri Rebello

Colaboração para o UOL, em São Paulo

  • Reinaldo Canato/UOL

    Cinegrafista registra caminhada em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo

    Cinegrafista registra caminhada em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo

O fotógrafo baiano Fernando Lucas, 38, esperou até o último momento antes de embarcar para a África, no início de agosto. Com pelo menos dez anos de atuação em marketing político registrando o dia a dia de candidatos, preferia ter ficado no Brasil neste semestre.

Já havia inclusive feito alguns trabalhos para políticos no início do ano e imaginou que estaria engajado em alguma disputa, mas não deu certo. "Vi que neste ano a coisa estava devagar, então vim-me embora para fazer uma campanha na África", diz ao UOL.

"A proposta financeira para este trabalho, por ser fora do país, não era lá essas coisas, não, mas foi melhor do que ficar parado no Brasil, esperando uma campanha que não estava acontecendo", diz ele, que deve voltar ao país em outubro.

O caso de Lucas reflete a situação no mercado para toda a linha da equipe, entre jornalistas, publicitários, produtores, editores, cinegrafistas e fotógrafos que costumam trabalhar de domingo a domingo, em jornadas que raramente ficam abaixo das 14 horas diárias durante o período eleitoral.

O trabalho geralmente é bem remunerado, pois, além da jornada exaustiva, exige viagens por períodos prolongados e demissão de empregos estáveis. Os profissionais mais conhecidos e experientes estão acostumados a serem disputados. Mas, com a escassez de oportunidades provocada pela diminuição do tamanho das campanhas e do volume de recursos, quem não ficou de fora acabou aceitando receber salários mais baixos.

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Funcionário da campanha de Haddad

Um jornalista que atua na campanha de Fernando Haddad e pede para não ser identificado afirma que as condições de trabalho mudaram muito. "Acabou aquele negócio de superprodução, recursos ilimitados", diz. "Outro dia, precisávamos gravar um negócio fora de São Paulo e não deixaram mandar equipe nem contratar uma no local para economizar. Tivemos que buscar uma solução de alguém de confiança gravando com celular", relata.

"Neste ano, pelo que estou vendo deste mercado, mesmo quem conseguiu um bom acordo teve que chorar muito e aceitar responsabilidades maiores", diz o redator publicitário Marcelo Stern, 44.

Ele fechou contrato para escrever os programas e comerciais de televisão de um candidato no interior da Bahia. "Nas capitais, o negócio estava muito concorrido, mas apareceram boas oportunidades foram das praças centrais. São mais de 5.000 cidades em eleição, né? Trabalho sempre tem", diz.

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