Ex-ministros "escondem" Dilma em suas campanhas pelo Brasil

Thiago de Araújo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

  • Adriana Spaca/Brazil Photo Press

    Em 2012, Dilma apareceu na campanha de Haddad

    Em 2012, Dilma apareceu na campanha de Haddad

Pelo menos sete ex-ministros da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) são candidatos a prefeito nestas eleições. Em comum entre eles, sejam do PT ou não, existe a estratégia de mostrar desvinculação com os antigos ocupantes do governo federal ou de "esconder" a petista.

Um exemplo disso pode ser visto na disputa para a Prefeitura de São Paulo, a maior cidade do país. Aparecendo numericamente em segundo lugar nas pesquisas, a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) foi ministra da Cultura de Dilma entre setembro de 2012 e novembro de 2014. A saída do ministério também marcou a saída do PT, partido pelo qual militou desde a fundação, em 1981. Marta inclusive votou a favor do impeachment de Dilma.

"Eu erro e acerto como qualquer pessoa, mas tenho humildade para aprender", diz a senadora em sua propaganda eleitoral. A candidata faz também questão de ser identificada exclusivamente como Marta, abrindo mão do Suplicy que herdou do ex-marido, o ex-senador e hoje candidato a vereador Eduardo Suplicy (PT).

Procurada pelo UOL para explicar as razões para a desvinculação na campanha, a assessoria de Marta Suplicy não respondeu às indagações.

José Cruz/Agência Brasil
Marta Suplicy foi ministra da Cultura de Dilma entre 2012 e 2014

Se Marta procura se desculpar pelo seu passado petista sempre que possível, o prefeito Fernando Haddad (PT) vem lidando com os próprios problemas quando o assunto é o PT e Dilma. Criticado dentro do partido por dizer que "golpe era uma palavra muito pesada" para definir o afastamento da presidente, ele também foi alvo por "esconder" a tradicional estrela da sigla.

"A estrela e a cor vermelha raramente aparecem não só na campanha do Haddad, mas também nas campanhas de vereadores do PT, nas quais você hoje vê outras cores, como azul ou amarelo. O número 13 não dá para suprimir, mas é raro ver a estrela ou a imagem das lideranças do partido, assim como a da própria Dilma", disse ao UOL o cientista político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Reprodução
Primeira versão de material de campanha de Haddad escondia estrela vermelha do PT

Coordenador da campanha de Fernando Haddad, o vereador Paulo Fiorilo informou que Dilma está disposta a percorrer o país e que está em discussão na coordenação da campanha de Haddad a possibilidade da petista participar mais ativamente. Fiorilo acredita que Dilma pode sim agregar na corrida pela reeleição de Haddad.

Já a ausência com maior destaque da tradicional estrela do PT e a pouca presença da cor vermelha no material, Fiorilo nega que seja uma rejeição. "Se você pegar o material você vai ver a estrela sim. No meu caso, eu usei a cor amarela na última eleição para vereador, por uma opção pessoal. Ter um fundo amarelo [em algumas peças] tem mais a ver com o impacto, é melhor do que o branco", disse.

Críticos

Roberto Stuckert Filho/PR
Crivella foi ministro da Pesca no governo Dilma

Ex-ministro da Pesca de Dilma entre fevereiro de 2012 e março de 2014, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) lidera a disputa para a Prefeitura do Rio de Janeiro. No recente debate promovido pela Rede Bandeirantes, exaltou o trabalho que fez à frente da pasta.

"Não há nada contra mim", sentenciou sobre o seu período como ministro, embora a Controladoria-Geral da União (CGU) tenha apontado desvios de recursos durante a sua gestão. Quanto ao impeachment de Dilma, se disse "constrangido", mas votou a favor da abertura do processo no Senado e ausentou-se da votação que cassou o mandato da presidente.

A assessoria de Marcelo Crivella prometeu enviar as respostas, o que não aconteceu até a publicação desta reportagem.

Sem constrangimento algum, o deputado federal Edinho Araújo (PMDB-SP) votou pela abertura do processo de cassação de Dilma na Câmara dos Deputados e espera que isso possa ajudá-lo na disputa pela Prefeitura de São José do Rio Preto, no interior paulista.

Ele também não esteve na votação de cassação de Dilma. "Não podemos mais suportar a convivência com a inflação alta, corrupção e desemprego", escreveu ele em março. Araújo foi ministro-chefe da Secretaria Nacional de Portos do Brasil entre janeiro e outubro de 2015.

Como contraponto, a assessoria de imprensa de Araújo disse que o ex-ministro de Dilma não se esqueceu do seu vínculo com o governo. "O deputado tem dito em seus programas que foi ministro dos Portos e até já apresentou o desempenho do setor portuário no ano passado em programas de TV e rádio", destacou, em nota enviada ao UOL.

"Esse é o discurso pronto de quem participou dos governos Dilma e não é do PT. A Marta vai seguindo por esse caminho também. Faz parte da 'carona' que esses candidatos estão pegando na rejeição ao governo dela. No caso da Marta, porém, é mais difícil do que no do Edinho Araújo, já que ela tem um passado muito atrelado ao PT", avaliou Teixeira.

Para o cientista político, "rejeição" de ex-ministros não deveria ser vista com surpresa. "É preciso entender que tanto a figura de Dilma quanto a do partido não somam. Esses candidatos não querem pagar o preço de tudo o que está acontecendo com o PT e com a Dilma. Todos avaliam os custos de se carregar esses vínculos diretos, é natural que se busque evitá-los a todo custo", emendou.

Na opinião de David Fleischer, cientista político e professor da UnB (Universidade de Brasília), "a campanha ou o apoio de Dilma seria muito prejudicial aos candidatos" tanto por causa do impeachment como devido à situação do PT "que não foi destruído, mas foi severamente danificado pela Lava Jato".

Por outro lado, Teixeira afirma que se Dilma tivesse participado das últimas manifestações de rua, "isso poderia representar uma ajuda e não um problema [para a campanha]. Se ela participasse, teria um potencial positivo para a campanha [de Haddad]."

Sobrevivência

O passado e o presente petista também influenciam as campanhas dos ex-ministros Edinho Silva e Pepe Vargas, que pleiteiam as prefeituras de Araraquara (SP) e Caxias do Sul (RS), respectivamente. Ambos procuram nestas eleições um caminho para a própria sobrevivência política, bastante vinculada com Dilma.

Silva foi ministro-chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República entre março de 2015 e maio de 2016, quando do afastamento de Dilma. Ele lidera a disputa em Araraquara , onde foi prefeito por duas oportunidades.

Roberto Stuckert Filho/PR
Edinho Silva foi ministro-chefe da Secom da Presidência da República

Na sua campanha, é possível encontrar menções ao ex-presidente Lula (em um dos vídeos, o grande nome do PT atribuiu a Silva a responsabilidade por "organizar o PT no interior de São Paulo"), porém as menções a Dilma são quase inexistentes.

A assessoria do candidato de Araraquara disse que "o PT assina rigorosamente todos os programas de TV e rádio. A presidenta Dilma e o ex-presidente Lula estão presentes nos vídeos da convenção partidária que lançaram a candidatura e também no vídeo de lançamento da campanha eleitoral. Edinho é candidato de uma coligação, 'O melhor para Araraquara', composta não só pelo PT, mas também pelo PP, PR e PCdoB - a campanha respeita essa aliança e trata de forma igualitária todos os partidos que a integram a coligação".

A ausência de símbolos do PT também atinge a campanha de Pepe Vargas, que fez a sua última menção à ex-presidente afastada no dia 5 de agosto, deixando de lado qualquer indicação posterior.

AgBr
Pepe Vargas fez a sua última menção à ex-presidente no dia 5 de agosto

O responsável pelos programas de rádio e televisão de Pepe Vargas, Gerson Luís Ben, afirma que, em todas as peças do candidato, há "utilização da trajetória de Pepe como ministro do governo de Dilma". "Obviamente que fazemos a vinculação deste trabalho, também como deputado federal, com suas consequências para a vida da cidade de Caxias do Sul, haja vista que a disputa eleitoral é para a prefeitura", explicou ao UOL, por e-mail.

Gerson diz que há sim interesse de Vargas em associá-lo à imagem de Dilma, já que o candidato adversário Edson Nespolo (PDT) --que é apoiado pelo atual prefeito da cidade, Alceu Barbosa Velho (PDT)-- vem usando as "obras que contaram com financiamentos e/ou recursos do Orçamento Geral da União". "É de nosso interesse resgatar estas informações. Em momento oportuno e de acordo com nossa estratégia, iremos reforçar isto", completou.

No Estado do Rio de Janeiro, o ex-ministro do Trabalho e ex-deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ) prefere exaltar o apoio que recebeu de Ciro Gomes para se eleger prefeito de São Gonçalo, na Baixada Fluminense, a fazer qualquer menção à petista. Por outro lado, ele não esquece do período em que compôs o governo Dilma, entre maio de 2012 e março de 2013.

"Como ministro do trabalho, sempre defendi a legislação trabalhista, a modernização e desburocratização, sem precarizar as leis trabalhistas", escreveu ele no último dia 24, em tom crítico ao governo de Michel Temer (PMDB).  A coordenação de campanha de Brizola Neto não comentou o assunto. 

Dilma e os aliados

Enquanto isso, a campanha desses candidatos começa sem Dilma. Assessores da ex-presidente, como o ex-ministro do Trabalho e Previdência Social Miguel Rossetto, afirmam que ela poderá participar ativamente de campanhas e gravar participações em programas, mas ainda não há uma agenda definida. 

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