MP denuncia dez vereadores de Florianópolis, candidatos à reeleição

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

  • Divulgação

    Fachada da Câmara de Vereadores de Florianópolis

    Fachada da Câmara de Vereadores de Florianópolis

A 20 dias do primeiro turno, uma investigação do Ministério Público pode mudar o rumo das eleições em Florianópolis. Na última sexta-feira (9) à noite, dez vereadores - todos candidatos à reeleição - foram denunciados por corrupção ativa no esquema revelado pela Operação Ave de Rapina. Segundo a Polícia Federal, que coordenou inicialmente os trabalhos, os parlamentares receberam propina para garantir interesses de empresários, em detrimento de benefícios à população. Outros quatro vereadores estão sendo inquiridos. O que faz com que a acusação atinja mais da metade da Câmara.

Alexandre Grazziotin, promotor responsável e coordenador do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas), analisou 10 mil páginas de processos e 70 mil minutos de gravações antes de encaminhar o caso ao Tribunal de Justiça. Agora cabe ao juiz Rafael Brüning decidir se os parlamentares irão a julgamento, o que pode acontecer nos próximos dias.

A operação aconteceu entre novembro de 2013 e julho de 2015 e comprovou a existência de grupos criminosos que cometeram fraudes em órgãos municipais. O prejuízo aos cofres públicos foi estimado em R$ 30 milhões. A investigação se desdobrou em quatro eixos – o primeiro apurou crimes no Projeto de Lei Cidade Limpa.

As denúncias encaminhadas à Justiça são especificamente sobre o Cidade Limpa.

O movimento Floripa Cidade Limpa começou em 2011 e após dois anos foi abraçado pelo arquiteto e professor universitário César Floriano dos Santos, que na época era secretário de Urbanismo e Meio Ambiente da capital catarinense.

O objetivo era conservar a paisagem da cidade retirando outdoors e outros tipos de mídia externa, vistas como poluidoras. Mas, a operação indica que o projeto foi desfigurado para que os vereadores recebessem verbas dos empresários da mídia.

O Cidade Limpa não saiu do papel. Dezessete empresários foram denunciados também na sexta-feira por subornarem os parlamentares, evitando a aprovação da lei. As propinas giram em torno de R$ 500 mil.

"A intenção do grupo criminoso era garantir a hegemonia das suas atividades comerciais", disse o promotor Alexandre Grazziotin.

Entre os novos denunciados, estão os vereadores Marcelo da Intendência (PP), Dalmo Meneses (PSD), Edinon Rosa, o Dinho (PMDB), Célio João (PMDB), Ed Pereira (PSB), Deglaber Goulart (PSD), Roberto Katumi (PSD), Ricardo Camargo Vieira (PMDB) e Coronel Paixão (PDT).

Marcos Aurélio Espíndola, o Badeko (PHS), foi denunciado por corrupção passiva e organização criminosa e poderá ser afastado pela segunda vez no mandato. Ele foi preso anteriormente, em novembro de 2014, e ficou dez meses afastado da função. O promotor também irá apurar a conduta dos vereadores Guilherme Pereira (PR), Tiago da Silva (PMDB) e Vanderlei Farias (PDT). E pediu audiência de transação penal contra o vereador Pedro de Assis Silvestre, o Pedrão (PP) por ele, em tese, ter ciência do esquema e não ter tomado providências, como seu cargo exige.

Vereadores negam envolvimento

O UOL procurou todos os acusados. Os que foram ouvidos negaram as acusações.

Dinho (PMDB) afirmou que é "grande erro do processo vincular voto contrário ao projeto como esquema de corrupção". "Isso não significa nada. O que significa é que em mais de cinco mil horas de história nunca fui citado pelos empresários, nunca troquei um e-mail, nunca fui visto e nenhuma sede das empresas", disse o vereador.

Célio João (PMDB) também negou envolvimento. "Eu sou inocente. Tenho como provar. Já fiz isso antes. O que acontece é um espetáculo para manchar a imagem de pessoas honestas," afirmou o parlamentar.

Ed Pereira (PSB) disse estar com "a consciência limpa e certo que mais cedo ou mais tarde a verdade aparecerá". O vereador disse que irá analisar o caso com seu advogado.  "Podem investigar o quanto for, provas não vão encontrar.  Sei que estou no caminho certo e pronto para continuar meus trabalhos pela melhoria de nossa cidade", acrescentou.
Roberto Katumi (PSD) disse que "a acusação é oportuna", pois terá direito à defesa. "Não existe absolutamente nada contra mim, poderei provar isso, que sou inocente", afirmou.

Ricardo Camargo Vieira (PMDB) lembrou que foi relator da CPI dos Radares, um dos braços da Ave de Rapina. "Ajudei denunciar esquema de conluio entre o Gabinete do Prefeito e Câmara dos Vereadores. Trabalhei com MP para que isso seja elucidado. Meu nome estar citado ali é um equívoco. Eu não estava na casa quando essa matéria tramitava. Não participei das votações em plenário", disse o vereador. "Apesar desse erro apoio a investigação e creio que tende a desmascarar o que acontece dentro do serviço público", concluiu.

Guilherme Pereira (PR) disse que estar de "braços abertos a qualquer tipo de informação", dizendo que não foi indiciado. "Estamos muito tranquilos. E vamos cooperar com a justiça".

Tiago Silva (PMDB) foi na mesma linha. "Eu não fui citado. Não há denúncias contra mim. O pedido do promotor é para que eu seja ouvido de novo".
Marcelo da Intendência (PP) negou envolvimento e afirmou que não há nenhuma prova de ligação com os empresários.

Dalmo Meneses (PSD) disse que não irá se manifestar até seu advogado ter acesso na íntegra às denúncias.

Deglaber Goulart (PSD), Coronel Paixão (PDT), Vanderlei Farias (PDT), Pedrão (PP) e  Badeko (PHS) não atenderam ou não retornaram as ligações da reportagem.

 

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