Não é bem assim: veja os deslizes dos candidatos a prefeito de SP

Bárbara Libório, Sérgio Spagnuolo e Tai Nalon

Do Aos Fatos, em São Paulo*

Números exagerados, cifras erradas, falta de informação. Os candidatos à Prefeitura de São Paulo que participaram do debate da Band, na noite desta segunda-feira (22), cometeram equívocos variados ao citar dados e fatos a respeito de temas como qualidade do serviço de saúde pública municipal, Operação Lava Jato, mortes no trânsito e multas.

Veja alguns de seus deslizes checados pela plataforma Aos Fatos de checagem de informações, dados e declarações.

Avaliação da área da saúde em São Paulo piorou, ao contrário do que diz Haddad

Nelson Antoine/Frame Photo/Estadão Conteúdo

Você está falando nada de novo, você está enganado sobre a saúde, as pessoas aprovam o sistema de saúde na cidade

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), erra ao afirmar que a avaliação da saúde não piorou. Duas pesquisas dizem o contrário: levantamento da Rede Nossa São Paulo mostra que a aprovação da população na área de saúde caiu de 2009 a 2015. Em 2009, a nota da população, em uma escala de 1 a 10, era de 5,1. A nota caiu para 4,9 em 2013, 4,7 em 2014, e chegou a 4,5 em 2015.

Já o Datafolha diz que, para 79% dos paulistanos, Haddad fez menos do que o esperado na saúde. No entanto, essa mesma pesquisa também aponta que, das 56% das pessoas que dizem ter ido a UBSs (Unidades Básicas de Saúde), metade (28%) avalia que o atendimento recebido foi ótimo ou bom, 17%, que foi regular, e 11%, que foi ruim ou péssimo.

A mesma pesquisa ainda mostra que as unidades do AMA (Atendimento Médico Ambulatorial) foram usadas por metade (50%) dos paulistanos adultos nos últimos 12 meses. Metade desses (25%) considerou o atendimento recebido ótimo ou bom. Para os demais foi regular (16%) ou ruim ou péssimo (8%).

Russomanno é impreciso nas informações sobre o custo anual por aluno

Nelson Anotine/Frame Photo/Estadão Conteúdo

Nós temos R$ 10 bilhões de reais para a educação. Ou melhor, R$ 14 bilhões neste ano para educação. Se nós dividirmos pela quantidade de alunos que nós temos na cidade de São Paulo, nós estamos pagando mais ou menos R$ 1,2 mil por aluno

Celso Russomanno (PRB) se equivoca sobre custo da educação por aluno. Em 2015, R$ 9,8 bilhões foram empenhados para educação. O custo por aluno --um total de 939.741 em 2015-- foi de R$ 10.394,15. Os dados são do Tribunal de Contas do Município.

No entanto, Aos Fatos se debruçou sobre possibilidades de cálculo, já que a assessoria de imprensa do candidato ainda não foi localizada para comentar a declaração. Viu que uma das possibilidades é que Russomanno tenha utilizado o valor do custo de educação mensal por aluno: seriam R$ 10,3 mil divididos por nove meses letivos no ano, o que resultaria em R$ 1,14 mil. Ele teria arredondado R$ 60. A declaração, entretanto, continuaria imprecisa.

Doria erra: João Santana foi libertado em agosto sob o pagamento de fiança

Mister Shadow/ASI/Estadão Conteúdo

Fernando Haddad, na sua propaganda eleitoral -- feita pelo marqueteiro João Santana que está preso pela operação Lava Jato (...)

João Doria (PSDB) erra ao dizer que o marqueteiro do PT em eleições passadas, João Santana, está preso. Ele foi solto no início de agosto, depois de pagar fiança de R$ 2.756.426,95 devido ao seu envolvimento no escândalo da Lava Jato. O marqueteiro é réu por ter recebido, segundo a acusação, US$ 7 milhões da Odebrecht por meio de offshores. Santana trabalhou na campanha de Haddad em 2012.

Russomanno infla dados de desemprego na construção civil em São Paulo

Já falei, volto a repetir, 40 mil postos de trabalho foram ceifados da cidade de São Paulo, indústria da Construção Civil

Russomanno exagera dados de desemprego em construção civil. Segundo o candidato, "40 mil postos de trabalho foram ceifados da cidade de São Paulo na área da indústria da construção civil", sem indicar o período.

O SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), no entanto, informa que foram perdidos 33 mil postos de trabalho no país no mês de junho de 2016. Na cidade São Paulo, no mesmo período, foram cortados 5,4 mil postos em junho na comparação anual.

Haddad é impreciso ao citar valores de arrecadação de multas

Olha, sua pergunta parte de um equívoco porque a arrecadação de multa na cidade de São Paulo, desde 2011, ela é constante, em valores reais. Você pode atualizar pela inflação e perceber

De acordo com o balancete da Prefeitura de São Paulo, a arrecadação de multas cresceu --se a base de comparação for o ano de 2011, mesmo com reajuste pelo IPCA (índice oficial de inflação). Em 2011, foram arrecadados R$ 1,54 bilhão em valores corrigidos. A evolução: em 2012, foram arrecadados R$ 1,58 bilhão; em 2013, R$ 1,63 bilhão; em 2014, R$ 1,62 bilhão; em 2015, R$ 1,6 bilhão.

Russomanno e Haddad usam dados de fontes diferentes para falar sobre mortes no trânsito

Russomano: "Haddad, sinto lhe dizer que os números da segurança pública em São Paulo mostram que, antes de julho de 2015, quando as velocidades foram baixadas, nós tínhamos em média 89 mortes. Depois que as velocidades foram baixadas, nós chegamos em novembro e dezembro com a mesma percentagem de mortes, ou seja, de 87 a 89."

Haddad: "Celso, qualquer pessoa de bom senso na Cidade de São Paulo, vê que o número de acidentes diminuiu. Faça uma constatação objetiva, por que a maioria dos paulistanos aprovou, por mais de 50%, a limitação da velocidade máxima, segundo pesquisa Datafolha? Por que é, a olho nu, que reduziu o número de feridos e mortos na Cidade de São Paulo."

Russomanno contesta dados de Haddad sobre a redução do número de acidentes de trânsito em São Paulo, mas usou outra fonte de informação. O número de mortes em acidentes de trânsito caiu segundo a CET: de 2014 a 2015, a queda foi de 20,6%. Nas principais vias da cidade foram 262 acidentes com mortes em 2014 e 203 em 2015.

O candidato do PRB afirmou, entretanto, que foram 274 mortes em acidentes de trânsito em 2014, e 208 em 2015. O problema é que ele usou dados da Secretaria de Segurança Pública. Haddad não os refutou, mas Aos Fatos foi às bases das secretarias municipal e estadual de segurança e não encontrou o dado. A reportagem está tentando contato com a assessoria de imprensa de Russomanno para o esclarecimento da informação e para saber de onde este dado foi retirado.

Marta não foi clara sobre construção de UPAs

Aloiso Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Eu soube que foi devolvido R$ 53 milhões para UPAs que a Cidade de São Paulo não conseguiu usar o dinheiro, só fez duas e devolveu o dinheiro

A candidata Marta Suplicy (PMDB) afirmou que a gestão do prefeito Fernando Haddad construiu apenas duas UPAs e que teria devolvido R$ 53 milhões à União. É verdadeiro que Haddad entregou duas UPAs em seu mandato até agora. No entanto, segundo o primeiro balanço do PAC de 2015, a Prefeitura de São Paulo recebeu financiamento para 31 UPAs, sendo que 18 estão em ação preparatória (projeto) e 13 estão em obras.

Aos Fatos não encontrou informação pública sobre a devolução do repasse. A reportagem está tentando contato com a assessoria de imprensa da candidata para o esclarecimento da informação e para saber de onde este dado foi retirado.

Major Olimpio superestima valor arrecadado com multas - R$ 100 milhões a mais

Para indústria da multa, arrecadou R$ 1,78 bilhão no ano de 2015

A Prefeitura de São Paulo arrecadou R$ 1,6 bilhão em multas, de acordo com balancete de receita arrecadada consolidada. Portanto, Major Olimpio superestimou em R$ 100 milhões o total de infrações.

Creches: desde 2014, foram construídas 400 unidades

Foram 400 creches e pré-escolas abertas nos últimos três anos e meio

Fernando Haddad construiu 394 creches e pré-escolas em sua gestão até o momento. Ainda assim, a demanda por vagas para creche (de 0 a 3 anos) aproximava-se de 75 mil vagas em 31 de dezembro de 2015.

Em 2015, para os Centros de Educação Infantil (CEI), que atendem crianças de 0 a 3 anos, faixa etária com maior demanda a ser atendida, havia previsão de construção de outras 91 unidades. No entanto, somente cinco unidades foram concluídas. No ano anterior, a previsão era de que 70 unidades fossem construídas, mas somente 9 unidades foram concluídas.

J. F. Diorio/Estadão Conteúdo
Debate entre candidatos paulistanos foi mediado pelo jornalista Boris Casoy

Major Olimpio diz que paulistanos querem deixar a cidade

Levi Bianco/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo

68% das pessoas que moram em São Paulo querem deixar a cidade

No debate, o candidato Major Olimpio (SD) disse que 68% das pessoas que moram em São Paulo "querem deixar a cidade".

Inicialmente, Aos Fatos considerou a afirmação um erro, já que pesquisa feita para o ciclo de debates SP2030, da Escola do Parlamento, da Câmara Municipal, apontou que 34,2% não pretendem passar a vida inteira na capital paulista.

O candidato, porém, se referia a outro levantamento. De acordo com a mais recente versão da pesquisa IRBEM, da Rede Nossa São Paulo, datada de 2015, 68% dos entrevistados disseram que sairiam da capital paulista se pudessem, 11 pontos percentuais a mais do que em 2014.

*"Aos Fatos" (http://aosfatos.org/ ) é um serviço de checagem de fatos em tempo real.

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