O Nordeste pode ajudar Lula, Dilma e o PT?

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

"Eu estou aqui tranquilo. Se eles pensam que vão acabar com Lula, estão enganados." Quando fez esta declaração em um palanque da capital do Rio Grande do Norte na noite da última terça-feira (2), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou clara a estratégia adotada por ele e pelo PT na largada das eleições municipais deste ano.

Com o desgaste da sigla diante do processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, e da Operação Lava Jato, que investiga as finanças petistas e a ligação de empreiteiras envolvidas no esquema com o ex-presidente, o PT promoveu uma imersão de Lula ao Nordeste na tentativa de manter em alta a popularidade do maior nome do partido, impulsionar candidaturas locais e conseguir reverter votos de senadores nordestinos que defendem o impeachment de Dilma.

Historicamente, o PT nunca foi um grande vencedor de eleições municipais no Nordeste. Em 2012, por exemplo, conquistou menos prefeituras que os rivais PMDB, PSB e PSD. Além disso, só venceu em uma capital: João Pessoa, com Luciano Cartaxo, que foi para o PSD no ano passado.

Heinrich Aikawa/Instituto Lula
O ex-presidente Lula chega de fusca à convenção do PT em Fortaleza

Mas é no Nordeste que Lula tem os melhores índices de popularidade, segundo a última pesquisa Datafolha. O ex-presidente tem 39% das intenções de voto para Presidência, caso seja candidato em 2018.

Na última semana, Lula passou por três Estados. Lançou candidatos petistas em Fortaleza e Natal e visitou um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na Bahia. Em um mês, foi a segunda vez que Lula viajou para o Nordeste. No primeiro tour, visitou cidades pernambucanas e baianas.

Ele estava muito tranquilo e muito animado com a disputa, mesmo com todas as dificuldades. Lula bebe dessa energia do povo do Nordeste

Fernando Mineiro, candidato do PT a prefeito de Natal

Heinrich Aikawa/Instituto Lula
Lula participa do lançamento da candidatura de Fernando Mineiro (PT) a prefeito de Natal

Em nota, o Instituto Lula informou que o ex-presidente "pretende participar de campanhas pelo Brasil, tanto em viagens quanto em programas eleitorais, mas sem um foco particular em uma região ou outra, mas sim seguindo as orientações do partido".

Também nesta semana, Lula participou do lançamento de candidaturas de petistas em Santos, Cubatão e São Bernardo, em São Paulo. O petista também discursou, no final do mês passado, na convenção do PT paulistano, que confirmou a candidatura de Fernando Haddad à reeleição.

"Peguem o celular e encham os senadores"

Em seus discursos pelo Nordeste, Lula pediu para os militantes petistas pressionarem os senadores a rejeitar o pedido de impeachment contra Dilma.

"Vocês vão gritar, e eles lá [em Brasília] não vão ouvir. Mas há uma coisa que você pode fazer. Cada um de vocês tem um celular, tem esse WhatsApp. Então é pegar o celular e encher esses senadores. Aqui nesse Estado só tem um que está do lado da Dilma", afirmou o ex-presidente em Fortaleza.

Para cientistas políticos ouvidos pela reportagem, vai ser difícil que Lula e o PT consigam reverter o cenário desfavorável a Dilma no Senado.

O impeachment ocorrerá antes do final da campanha. As eleições municipais são desconectadas do cenário federal

Michel Zaidan Filho, cientista político da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)

Heinrich Aikawa/Instituto Lula
Lula visita assentamento do MST em Santa Cruz Cabrália, na Bahia

Cabeça baixa ou nariz empinado?

O PT terá cinco candidatos a prefeito nas nove capitais nordestinas --dois a menos que em 2012 (Recife, Fortaleza, Natal, João Pessoa e Maceió).

O candidato petista em Natal diz que há uma rejeição ao PT, mas que se trata de uma reprovação geral ao "modo de fazer política" no Brasil. "A minha tese é: a população sabe diferenciar que o caixa dois e a corrupção não começaram com o PT", afirma.

Mineiro afirma que vai usar imagem de Lula e Dilma sem qualquer constrangimento. "Reconheço os erros, mas seria falso não usar a imagem porque me identifico com a história. Vou para a campanha, nem de cabeça baixa, nem com nariz empinado."

João Paulo, candidato do PT a prefeito do Recife, diz que Lula e Dilma são, sem dúvida, bem-vindos nas campanhas nordestinas.

Há um desgaste naquela parcela da classe média-alta para cima. Mas, para grande parte da massa, que é contemplada pelos programas sociais, não há um descontentamento

João Paulo, candidato do PT a prefeito do Recife

Hebert Florêncio, secretário-geral do PT na Bahia, maior Estado nordestino e terceiro maior colégio eleitoral do país, afirma que, para conquistar votos, a ideia é usar o legado dos dois últimos presidentes petistas para o Nordeste.

"A gente vai explorar a imagem de Lula e Dilma ao máximo. No interior foi feita uma pesquisa, e quando Dilma e Lula apoiam um candidato, ele leva uma vantagem esmagadora", diz Florêncio.

O PT consegue herdar o prestígio de Lula?

Enquanto os petistas apostam no legado de seu principal líder, os rivais afirmam não temer mais o "campeão de popularidade" do Nordeste.

Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Em seu perfil no Facebook, Lula passou a usar uma imagem com um chapéu de vaqueiro, típico do interior nordestino

"Estou rodando o meu Estado e vendo como é monumental o desgaste que o PT vai ter nessa eleição. O partido vai ter o voto de MST, de sindicalista e do que resta da militância. O voto de opinião que eles tinham, os da classe média, foram perdidos, e eles vão entrar emagrecidos", diz o senador José Agripino Maia (DEM-RN).

Para o senador, além de perder prestígio, Lula não será mais capaz de conseguir garimpar votos para o PT. "Nos municípios do interior, se perguntar se Lula pessoalmente ainda tem prestígio, vai ver que tem, sim! Agora, o PT herda isso? Não! Ele tem esse crédito, mas não é transferível", afirma.

O prefeito de Maceió e candidato à reeleição, Rui Palmeira (PSDB), diz acreditar que o impacto negativo para o PT nessa eleição já pode ser percebido antes mesmo da campanha.

"Essa fragilização se mostra pelo isolamento do próprio PT. O partido era um grande aliado, e quem estava na base queria o ter como aliado, tanto pelo tempo de TV, quanto pelo próprio apoio do partido. Mas, hoje, está sendo evitado

Rui Palmeira (PSDB), prefeito de Maceió

Em Maceió, o PT lançou uma chapa "puro sangue" encabeçada pelo deputado federal Paulão.

Números do PT no Nordeste

Em 2012, o PT teve 510 candidatos na região, sete deles concorreram nas nove capitais da região. Contando o interior, foram 187 prefeitos eleitos, 52 a mais que os 135 de 2008.

Ainda em 2012, o PT perdeu duas das três maiores cidades nordestinas: Recife, onde Humberto Costa foi derrotado por Geraldo Júlio (PSB); e Fortaleza, onde Elmano foi vencido por Roberto Cláudio (eleito pelo PSB; hoje, ele está no PDT).

"O PT vinha numa crescente de prefeituras, mas, agora, acho que se mantiver o número já é um bom negócio. A tendência é perder", diz Zaidan Filho.

"Aqui no Maranhão, por exemplo, o PT sempre foi insignificante: elegeu apenas 10 prefeitos em 2012, mas Dilma venceu com folga em 2010 e 2014. É quase certo que a onda antipetismo ainda deve causar um bom estrago na capacidade de o partido manter seu número de prefeitos", diz o cientista político Wagner Cabral, professor da UFMA (Universidade Federal do Maranhão.

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