Dilma transforma agenda presidencial em ato de campanha em PE

Leandro Prazeres

Do UOL, em Goiana (PE)

Campanha presidencial 2014
Campanha presidencial 2014

A presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), ignorou o caráter institucional de sua visita a uma fábrica de automóveis no interior de Pernambuco e atuou como candidata nesta terça-feira (21). A visita às obras da fábrica da Fiat/Chrysler na cidade de Goiana fazia parte da agenda de Dilma como presidente da República, mas se transformou em um ato de campanha com direito a ataques a adversários.

A visita de Dilma à fábrica da montadora italiana é o primeiro compromisso oficial de Dilma como presidente da República desde o último dia 30 de setembro, quando ela visitou obras do Parque Olímpico, no Rio de Janeiro. Desde então, ela tem se concentrado em sua agenda de candidata à reeleição.

Em Goiana, Dilma voltou a atacar o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, dizendo que os tucanos olham para o Nordeste com "preconceito" e que a redução do papel dos bancos públicos visa atender interesses privados.

"Eles olham pro Nordeste com preconceito. Vêm ao Nordeste, eles me acusaram de ter voto aqui e que nós recebíamos votos da parte mais ignorante do Brasil. Isso é a maior demonstração de elitismo possível", disse Dilma referindo-se à entrevista concedida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em que ele afirmou que a maior parte dos votos do PT eram de eleitores com menor grau de instrução.

 

Dilma voltou a criticar as propostas da equipe econômica do tucano que, segundo ela, visam reduzir o papel dos bancos públicos.

"A quem interessa reduzir os papeis dos bancos públicos? Só interessa àquelas pessoas que têm uma visão estreita da realidade do Brasil ou que querem beneficiar segmentos privados que cobram juros maiores e não que financiam programas sociais", disse a candidata.

Dilma ainda negou que venha retaliando o governo do Estado de Pernambuco, que no início da campanha apoiava a candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva (PSB) à Presidência e que no segundo turno se aliou ao tucano Aécio Neves. 

"Nunca nós fizemos retaliação (…) No meu governo, nós liberamos, aqui pra Pernambuco, R$ 6 bilhões [em financiamentos]. No governo do Lula, foram R$ 4,2 bilhões. E no governo tucano, sabe quanto? Menos de R$ 600 milhões. Quem liberou o maior volume de recursos para os financiamentos aos Estados foi o meu governo", afirmou.

Fábrica da "discórdia"

A visita de Dilma à fábrica ocorreu em um terreno especialmente sensível.

A planta, que só entra em operação no início de 2015, já causou controvérsia mesmo antes de funcionar. Socialistas do PSB e petistas reivindicam a "paternidade" do investimento enquanto o candidato Aécio Nevestem de lidar com o impacto das críticas que fez ao projeto que quase foi instalado em Minas Gerais, seu berço eleitoral. 

O complexo automobilístico de Goiana é um conglomerado de fábricas liderada pela Fiat/Chrysler.

No local, a montadora italiana, que comprou a norte-americana Chrysler, vai fabricar automóveis da marca Jeep, de propriedade de Chrysler. Além da montadora, quase uma dezena de outras indústrias estão sendo implantadas no local, em um investimento de aproximadamente R$ 7 bilhões.

A primeira polêmica envolvendo a fábrica foi criada pelo então senador eleito Aécio Neves, que, em dezembro de 2010, criticou a negociação que trouxe a fábrica da Fiat para Pernambuco. Inicialmente, a ideia era que a planta fosse instalada em Minas Gerais, onde a Fiat já tem unidades.  "Acredito que, de fato, nesse caso, foi uma norma excepcional criada pelo governo federal para beneficiar o Estado de Pernambuco", disse o então senador eleito. 

A montadora italiana decidiu instalar a fábrica em Pernambuco depois que o então presidente Lula, em 2010, assinou uma medida provisória concedendo incentivos fiscais para a companhia até 2020. À época, Pernambuco era governada pelo então aliado do PT Eduardo Campos. 

A segunda polêmica envolvendo a obra se deu durante o início da corrida eleitoral. Em meio ao clima já tenso entre o governo federal e o então presidenciável  Eduardo Campos, que governava o Estado, o Planalto suspendeu, em março deste ano, as obras de um 'anel rodoviário' na região do entorno da fábrica que serviria para escoar a produção de automóveis para o Porto de Suape.

A suspensão da licitação ocorreu sem justificativas.

Ao longo da corrida eleitoral, petistas e socialistas passaram a reivindicar os 'méritos' da implantação da fábrica na região. Tanto o governo federal quanto o estadual ofereceram financiamentos e incentivos fiscais para que a fábrica fosse instalada em Pernambuco. Só a Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) liberou R$ 1,9 bilhão em financiamentos.

Nesta terça-feira (21), o governador eleito de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), aliado de Aécio Neves (PSDB) no segundo turno, disse, porém, que a fábrica não pode ser tratada como "uma questão eleitoral"

"Há muitos atores envolvidos e a fábrica ainda está sendo inaugurada. Este é um trabalho de muitas mãos e a Fiat sabe da importância do Governo de Pernambuco na vinda dela para cá", disse o governador eleito", disse.

A visita à fábrica da Fiat/Chrysler em Goiana é a segunda parada de Dilma em Pernambuco nesta terça-feira (21). Mais cedo, ela participou de um ato político em Petrolina, no oeste do Estado. Depois da visita à fábrica, Dilma participará de um novo evento em Goiana e, às 17h, ela deverá estar em Recife para uma caminhada. 

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos