Não é bem assim: veja as incorreções cometidas pelos candidatos no debate

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

Os candidatos à Presidência da República que participaram do debate nesta quinta-feira, promovida por UOL, SBT e Jovem Pan, cometeram algumas imprecisões e deslizes em suas perguntas, respostas e comentários. Veja, abaixo, algumas das principais afirmações dos presidenciáveis que não correspondem à verdade.
 

AÉCIO NEVES: "Ela [Andrea Neves] assumiu um cargo de voluntariado, trabalhou espontaneamente. É o cargo que, geralmente, a esposa dos governantes ocupa" 

O candidato do PSDB respondia a pergunta de Dilma Rousseff (PT) sobre as funções de sua irmã, Andrea Neves, como coordenadora do Grupo Técnico de Comunicação Social do Governo de Minas Gerais.

Ao responder, o candidato falou a respeito de outro cargo exercido por Andrea durante sua administração (2003-2010). A irmã de Aécio Neves exerceu duas atividades relacionadas ao governo mineiro. Um deles foi de presidente da Servas (Serviço Voluntário de Assistência Social de Minas Gerais). Atualmente, a presidência desta entidade é ocupada por Célia Pinto Coelho, mulher do atual governador mineiro, Alberto Pinto Coelho (PP).

Mas, além disso, Andrea Neves também exerceu a atividade de coordenadora do Grupo Técnico de Comunicação Social, órgão criado por um decreto (nº. 43.245/2003) assinado pelo tucano em 3 abril de 2003, no início de seu primeiro mandato. A irmã de Aécio  permaneceu neste posto até 2010, também sem receber qualquer remuneração formal. Desde então, nenhuma primeira-dama ou familiar de governantes exerceu o cargo.


DILMA ROUSSEFF: "Vocês nunca fizeram Bolsa Família para cinco milhões de famílias, vocês não fizeram"

A presidente e candidata à reeleição estava falando sobre o programa Bolsa Escola, criado em 2001 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O programa concedia uma bolsa para jovens e adolescentes de famílias de baixa renda que comprovassem estar matriculados na rede pública de ensino.

De acordo com dados oficiais do Programa Nacional de Renda Mínima Vinculada à Educação, que, à época, era responsável pela distribuição do benefício, ao fim de 2001, 5,1 milhões de famílias recebiam o Bolsa Escola. Dessas, 2,4 milhões possuíam um filho, 1,7 milhão tinham dois e 946.714 possuíam três filhos ou mais. Já o número de bolsas e beneficiários do programa era de 8.710.589.

AÉCIO NEVES: "A senhora será a primeira presidente a deixar o governo com uma inflação maior do que aquela que recebeu"

Dilma Rousseff não será a primeira presidente da República a deixar o governo com uma inflação superior à que encontrou.

O general João Figueiredo assumiu a presidência da República em março de 1979, ano em que a inflação atingiu 72,2%. Já quando deixou o Palácio do Planalto, em março de 1985, a inflação estava batendo na casa dos 242,23% ao ano. No mesmo ano, José Sarney (PMDB) assumiu a presidência. Ao deixar o cargo, em 15 de março de 1990, a inflação estava em 1.620,97%. 

Já a presidente Dilma Rousseff assumiu o cargo em janeiro de 2011. No ano anterior, a inflação havia sido de 5,91%. Atualmente, a inflação medida nos últimos 12 meses é de 6,75%. Os dados são da série histórica do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor-Amplo), compilados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística).

DILMA ROUSSEFF:  "Vocês nos entregaram o país com 11,4 milhões de desempregados, a segunda maior quantidade de desempregados do mundo, só ganhávamos da Índia"

Os dados oficiais de desemprego são auferidos por meio da PME (Pesquisa Mensal do Emprego), realizada mensalmente pelo IBGE. Em 2002, último ano do governo FHC, período a que Dilma se referia em sua frase, o desemprego anualizado medido pela PME foi de 7,5%, ou cerca de 6 milhões de pessoas.

Durante a corrida eleitoral de 2002, quando José Serra (PSDB) concorria com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República, o petista fazia uso de dados de um levantamento, baseado no Censo Demográfico de dois anos antes, que apontava o número de desempregados no Brasil em 2002 em 11,4 milhões.

Trata-se do mesmo levantamento de que faz uso Dilma Rousseff nesta eleição, chamado "Globalização e Desemprego: Breve Balanço da Inserção Brasileira". Ele foi feito pelo economista Márcio Pochmann então secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da prefeitura de São Paulo, que era comandada por Marta Suplicy (PT). Em 2007, quando Lula era presidente, Pochmann assumiu a presidência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

AÉCIO NEVES: "O Ministério Público, não é nessa obra, candidata, sobre todas as obras do meu governo, disse que estavam corretíssimas"

O candidato do PSDB comete uma incorreção que já havia cometido no debate do último dia 14, na "TV Bandeirantes". O tucano se referia ao aeroporto construído na cidade de Claudio (MG) durante a sua gestão frente ao governo de Minas Gerais, erguido em terras de sua família, que foram desapropriadas para a construção da obra pública.

A respeito da empreitada, o MPF (Ministério Público Federal) apenas rejeitou a representação criminal proposta pelo PT contra o candidato tucano, mas jamais atestou a regularidade da obra.

Em vez disso, após a reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" de agosto deste ano, sobre a construção do aeroporto, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou que o Ministério Público Federal em Minas Gerais investigasse eventuais indícios de improbidade administrativa no planejamento e construção do aeroporto.

DILMA ROUSSEFF: "Eu, candidato, sou responsável por investigar nesse país. Sou responsável por punir. É esta a responsabilidade, investigar com a Polícia Federal, denunciar ao Ministério Público e punir com o Judiciário"

A candidata volta a cometer a mesma imprecisão do debate da "TV Record" antes do primeiro turno, no dia 3 de outubro. Na realidade, quem confere autonomia de investigação à Polícia Federal --inclusive sobre instituições e pessoas ligadas a órgãos governamentais-- é a Constituição Federal, conforme se lê em seu artigo 144, que descreve as atribuições do departamento:

"Apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme" (Parágrafo 1º).

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