Nos extremos de SP, petista pede Lula em 2018 e tucano tem medo de Chávez

Mauricio Stycer*

Do UOL, em São Paulo

Vinte oito quilômetros separam a Escola Estadual Samuel Wainer do Clube Athlético Paulistano. O colégio fica no Grajaú, um dos bairros mais pobres de São Paulo, localizado no extremo sul da cidade. O clube ocupa um quarteirão no Jardim Paulista, um dos endereços mais nobres da metrópole. 

De carro, sem muito trânsito, perde-se uma hora para percorrer a distância. Usando transporte público, são duas horas, pelo menos. Neste domingo, dia de eleição, o excesso de carros nas ruas produziu congestionamentos gigantes nos dois endereços.
 
Em 2010, disputando a Presidência pela primeira vez, Dilma Rousseff conseguiu no Grajau 64,7% de todos os votos registrados neste distrito. Foi, ao lado de Parelheiros (65,4%), também no extremo sul da cidade, o melhor desempenho da candidata petista em São Paulo. 
 
Na mesma eleição, José Serra, então candidato à Presidência, ficou com 67,7% de todos os votos do Jardim Paulista. Foi o ali o melhor resultado percentual do candidato tucano no primeiro turno da eleição, na cidade. 
 
A reportagem do UOL percorreu os dois bairros na manhã e início da tarde deste domingo (05). Os depoimentos colhidos na rua, perto dos pontos de votação, mostra tendência semelhante à vista na eleição de 2010 – a diferença é que, agora, Aécio Neves representa o campo tucano.
 
O voto em Dilma, no Grajaú, é explicitamente uma opção pela continuidade. "É pra não mexer mesmo", diz Vicente Ferreira Gomes, segurança aposentado. "Se começa a mexer, um começa e o outro não acaba". "Sempre votei no PT. Tem tudo a ver comigo", diz Ivonete Gomes, sua mulher, também segurança. "E, sem dúvida, o príncipe volta no fim do mandato de Dilma", acrescenta Vicente, referindo-se ao ex-presidente Lula.
 
Já o voto em Aécio, no Jardim Paulista, é explicado abertamente como o melhor caminho para desalojar o PT da presidência. "Quero o PT fora do poder. Esse é o primeiro objetivo", diz Marcel Lotufo, administrador, vestindo um agasalho da seleção brasileira. "Esse apoio do governo a Chávez... Não quero ir no supermercado e não ter opção de iogurte para comprar". O candidato tucano, acrescenta Lotufo, "é o mais bem preparado e já anunciou que terá o Armínio Fraga em cargo importante."
 
A reportagem ouviu uma dezena de eleitores no Grajaú: seis declararam voto em Dilma, dois em Aécio e dois votaram nulo. No Jardim Paulista, entre dez entrevistados, sete afirmaram votar em Aécio, dois em Luciana Genro (Psol) e um em Eduardo Jorge (PV).
 
Há dois tipos de voto nulo. Elenita Maria de Oliveira, que trabalha como faxineira, estava em dúvida se votava em Dilma ou Marina. "Fiquei confusa na hora de votar. Acabei anulando", disse, envergonhada. Já Fabiana Carnielli, copeira da diretoria de uma empresa, escolheu anular como forma de protesto. "As propostas são sempre as mesmas e eles não cumprem nada", disse.
 
O voto em Dilma, além de expressar o desejo de continuidade, também expressa gratidão. "Dilma fez muitas coisas boas para a população", diz Marlete Alves dos Santos, dona de casa, segurando a neta no colo. "Recebi três anos de Bolsa Família", conta ela.
 
No Jardim Paulista, o voto em Luciana Genro também pode significar uma forma de protesto. "Todos os meus amigos votaram 45 (PSDB). Toda a família votou 45. Votei 50. Quero dar força política para a Luciana.", diz Gabriel Serafim, estudante de engenharia. 
 
A opção por Aécio, para alguns, deu-se apenas na reta final, quando ficou claro que o candidato tucano tinha chances de ir para o segundo turno. "Ia votar na Marina (PSB), mas decidi mudar depois do debate na Globo", diz Patrícia Giglio. "Marina tinha mais chance de vencer, mas desisti desse voto estratégico e escolhi quem eu queria mesmo votar", conta.
 
*Colaborou Fernando Couri

 

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