Aliada dos usineiros do Sudeste, Marina ataca os do Nordeste em comício

Guilherme Balza

Do UOL, em Caruaru (PE)

  • Guilherme Balza/UOL

    Marina Silva ao lado da filha Shalon (à esq.), de Renata Campos, viúva de Eduardo, e dos filhos do ex-governador de Pernambuco

    Marina Silva ao lado da filha Shalon (à esq.), de Renata Campos, viúva de Eduardo, e dos filhos do ex-governador de Pernambuco

A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, e seu vice, Beto Albuquerque, fizeram ataques aos usineiros do Nordeste em discursos realizados em comícios nas cidades de Caruaru (PE) e Recife nessa segunda-feira (29).

Na capital pernambucana, Marina afirmou que Eduardo Campos, desde menino, junto com seu avô Miguel Arraes, enfrentou os "barracões" de usineiros, como eram chamados os locais em que no passado os cortadores de cana-de-açúcar viviam em péssimas condições de saúde. Marina assumiu a candidatura do PSB após a morte de Campos em agosto.

Em seguida, Marina disse que hoje os usineiros estão unidos para derrubar Paulo Câmara, candidato a governador de Pernambuco pelo PSB. A maioria dos donos de usinas apoia Armando Monteiro (PTB), empresário e industrial que construiu sua trajetória ligado ao setor. Nestas eleições, o petebista, que já foi aliado de Campos, é apoiado pelo PT.

"Ele me contou que junto com seu avô ia enfrentar os barracões dos usineiros - que agora estão aí, querendo derrubar o Paulo - para enfrentar o regime de semi-escravidão, que fazia do cortador de cana um eterno endividado", disse Marina no discurso,

A ex-senadora também comparou a situação dos cortadores de cana com a sua quando seringueira.

Beto Albuquerque fez críticas aos usineiros nos discursos que fez em Caruaru e em Recife. Nos dois eventos, afirmou que o "povo de Pernambuco não aceita essa mistura de usineiro com PT."

A postura da Marina e do vice com os usineiros do Nordeste contrasta com a adotada em relação aos do Sudeste, que já declararam apoio à candidata do PSB.

Insatisfeitos com as políticas dos governos petistas para o etanol, os usineiros do Sudeste foram a porta de entrada de Marina para o diálogo com o agronegócio. Com frequência, Marina cita dados da Unica (União das Indústrias de Cana de Açúcar) para criticar o governo Dilma.

Comício tem frevo, bonecos e militância paga

Os comícios de Marina em Caruaru e Recife reuniram bem mais público, na comparação com os realizados na quinta e sexta-feira em Duque de Caixas (RJ) e Juiz de Fora (MG), respectivamente, acompanhados por cerca de 400 pessoas. 

Guilherme Balza/UOL
Militantes cansados em comício de Marina no Recife

Em Caruaru, cabos eleitorais, militantes e, principalmente, moradores da cidade acompanharam o comício na avenida Rui Barbosa, que ficou tomada.

Em Recife, a multidão tomou conta do Cais da Alfândega, no centro antigo. O comício na capital pernambucana estava marcado para começar às 20h, mas teve início por volta de 21h30. Por conta do atraso, o público, parte deles formado por militantes pagos, deixou o local antes mesmo de Marina iniciar seu discurso.

A reportagem presenciou grupos com dezenas de pessoas vestidas com roupas de candidatos do PSB deixando o comício alegando cansaço. Os militantes dirigiam-se a ônibus que estavam enfileirados próximos ao local do comício.

Guilherme Balza/UOL
Boneco gigante de Marina Silva é usado em comício no Recife

Uma militante que não quis se identificar afirmou que estava deixando o local porque já estava trabalhando ali desde cedo. Ela disse ter recebido menos de R$ 50 para fazer campanha a Paulo Câmara no comício. Muita gente deixou o local durante o discurso de Marina, que durou cerca de 40 minutos.

Havia também os que foram para contribuir na campanha. "A gente vem por gosto, pela Marina", contou à reportagem um homem que segurou por cinco horas um boneco gigante imitando a candidata à Presidência - havia também bonecos de Eduardo Campos, da viúva Renata Campos e de Câmara.

Uma banda de frevo tocava jinges das campanhas dos candidatos do PSB e a tradicional "Madeira que cupim não rói", canção símbolo dos recifenses que foi incorporada pelas campanhas socialistas. Para completar o repertório regional, um poeta-repentista elaborava versos entre um discurso e outro durante o comício.

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