Candidatos ao governo do RJ apostam em artistas populares para atrair votos

Silvia Baisch

Do UOL, no Rio

Faltando menos de 20 dias para o primeiro turno das eleições, em 5 de outubro, dois dos quatro primeiros colocados nas pesquisas de intenção de votos ao Governo do Rio –Anthony Garotinho (PR) e Luiz Fernando Pezão (PMDB)-- vêm intensificando uma estratégia bastante utilizada até o início dos anos 2000: vincular a imagem do candidato a artistas populares.

Se antes essa associação ocorria com a presença de famosos em showmícios (prática proibida pelo TSE em 2006), o apoio de integrantes da classe artística vem ganhando paulatinamente espaço na internet.

A equipe do atual governador do Rio e candidato à reeleição, Pezão, divulgou, apenas no último fim de semana, quatro vídeos nos quais artistas de forte apelo popular, como Diogo Nogueira, Dudu Nobre e Grupo Revelação, cantam o jingle no qual explicitam apoio ao atual governador: "Lá, lá, lá, lá Luiz / Ô, ô, ô, ô, Pezão / Bate no peito e diz / Tamo junto irmão!".

O material foi veiculado nas páginas do peemedebista no Facebook e Twitter e no canal do candidato no YouTube. Os cantores são ligados ao samba, gênero musical típico do Estado e de forte inserção em todas as classes sociais. O jingle ainda foi explorado em ritmo de funk, com dançarinos executando o popular "passinho".

Há cerca de uma semana, os canais do candidato relançaram outro vídeo com a música que o cantor e compositor Jorge Ben Jor já havia feito para a campanha. Além de enaltecer a credibilidade do governador utilizando trocadilhos com o seu apelido ("Ele sabe andar calçado / Ele sabe andar de pé no chão / Ele sabe aonde pisa / Pezão, Pezão, Pezão, Pezão"), o cantor reforça a imagem de "homem do povo" do atual governador, estratégia já observada na propaganda televisiva. "Ele é boa praça! / Ele é guerreiro! / Ele é social! / Ele é o Rio de Janeiro", dizem os versos compostos pelo autor de "País Tropical" e "Taj Mahal".

A assessoria de imprensa de Pezão disse que a música foi um presente de Jorge Ben Jor, inspirada nos ideais transmitidos pelo atual governador em seu programa eleitoral. Apesar de questionada, a equipe não informou se os demais cantores receberam cachê para gravar o jingle.

"São artistas extremamente populares no sentido quantitativo de público, não de classe social. Eles trazem para a campanha a credibilidade que têm", explica o professor e pesquisador da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Eugênio Giglio.

A campanha nas redes sociais de Garotinho também tem se valido do apoio de artistas da música, mas com um foco bem definido: o público gospel. O veículo escolhido para associar a imagem do ex-governador à credibilidade dos artistas no meio evangélico foram montagens de fotos sobrepostas com depoimentos de cantores e grupos musicais como Perlla, Beatriz, Jairo Bonfim e o Ministério Sarando a Terra Ferida.

Reprodução/Instagram
Garotinho usa em suas redes sociais montagens de fotos sobrepostas com depoimentos de artistas no meio evangélico, como a ex-funkeira Perlla

Também são comuns nas páginas do candidato posts de passagens bíblicas. "É uma forma de se agarrar ao nicho religioso. Garotinho tem uma boa penetração no interior, mas precisa crescer mais na região metropolitana, que possui grande concentração de evangélicos", explica Eugênio Giglio. A assessoria de imprensa do candidato também não respondeu se os artistas cujos depoimentos aparecem nas montagens receberam cachê.

Os demais candidatos ao posto optaram por diferentes estratégias nas mídias digitais. Marcelo Crivella (PRB) também utiliza imagens, porém com mensagens positivas e de superação. Apesar de ser bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, poucas são as passagens bíblicas.

"Como o partido conta com pouco tempo de TV [pouco mais de um minuto], o candidato utiliza a internet como plataforma de contato permanente com o eleitor. As postagens combinam conteúdo informativo de campanha com mensagens inspiradoras e motivacionais", informa a assessoria do ex-senador.

As redes sociais do candidato Lindberg Farias (PT) apresentam diferentes estratégias de mídias sociais, com destaque para o programa do petista na internet. "A rede é boa, trabalha bem, tem uma linguagem moderna, mas prescinde de conteúdo. É a campanha menos alinhada em termos de comunicação integrada", avaliou Giglio.

"Com uma candidatura que sobe é mais tranquilo, mas quando os números não favorecem, dificulta a coordenação de campanha", afirma o pesquisador, referindo-se ao quarto lugar ocupado por Lindberg nas pesquisas. A assessoria do candidato não respondeu se acredita que uma campanha maciça nas redes sociais pode ajudar a reverter os números desfavoráveis das pesquisas.

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