Análise: Mais suave, entrevistas do 'Jornal da Record' acabam sem respostas

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

Em contraste com o estilo duro, muitas vezes rude, do "Jornal Nacional", o "Jornal da Record" promoveu uma série de entrevistas com os candidatos à Presidência em um tom mais suave, mas não menos provocador.

Ao longo de duas semanas, o telejornal entrevistou sete candidatos. O "Jornal Nacional" entrevistou cinco, mas de apenas quatro coligações (Eduardo Campos falou ao telejornal na véspera de sua morte, e Marina Silva foi entrevistada posteriormente). Como no concorrente, cada candidato teve direito a 12 minutos no ar.

Além de Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB), Aécio Neves (PSDB) e pastor Everaldo (PSC), o "Jornal da Record" também recebeu em sua bancada Luciana Genro (Psol), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix (PRTB).

Adriana Araujo e Celso Freitas adotaram uma tática diferente da usada por William Bonner e Patricia Poeta.

Em vez de insistirem três, até quatro vezes em uma mesma questão, buscando mostrar que o candidato fugia do assunto, a dupla da Record se contentou em formular boas perguntas que apontavam claras contradições entre discurso e prática dos políticos.

Dilma foi lembrada que, apesar da propaganda otimista de seu governo, pesquisas apontam a vontade de mudança do eleitor. Marina foi confrontada com os dois pesos e duas medidas que adotou ao tratar do escândalo da Petrobrás. Aécio teve que responder por que a inflação, tema muito usado em sua campanha, alcançou índices mais altos no governo FHC. Everaldo foi levado a falar sobre a razão de misturar política e religião, inclusive no nome adotado para a campanha.

Eduardo Jorge se viu obrigado a explicar o vai-vém do PV em relação a temas fundamentais. Luciana Genro foi questionada sobre o suposto apoio de parlamentares do PSOL aos black blocs. E Fidelix, por fim, se atrapalhou todo ao explicar por que o PRTB não tem representação do Congresso Nacional.

O resultado destas entrevistas, porém, foi tão frustrante quanto no "Jornal Nacional". Diante de contradições e bons questionamentos, os candidatos quase sempre adotam a tática de emendar outro assunto ou se desviar, sutilmente, do tema proposto.

Nenhuma grande revelação saiu destas entrevistas. Ao contrário, em vários momentos, os candidatos encontraram espaço para fazer propaganda eleitoral. Adriana e Freitas foram bem menos inconvenientes que Bonner e Patrícia e interromperam muito menos os políticos.

Ao final de cada entrevista, os candidatos tinham direito a um minuto para "considerações finais". Duas situações engraçadas ocorreram neste momento. Eduardo Jorge dispensou o tempo que teria para continuar respondendo uma questão anterior, sobre legalização das drogas. "Vou gastar meu minuto nisso", disse.

Já Dilma, respondia longamente a uma questão sobre economia, quando Adriana disse que ela podia continuar, desde que usando o seu minuto final. "O meu minuto é meu. Pera lá", protestou a presidente.

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