Produtor diz que vídeo feito em 2012 foi plagiado pela campanha de Tiririca

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

A campanha política de Tiririca (PR-SP), candidato à reeleição para a Câmara dos Deputados, pode ter entrado em uma nova polêmica. O analista de sistemas Bruno do Nascimento, 24, de Poços de Caldas (MG), alega que uma paródia criada por ele em maio de 2012 foi usada indevidamente no horário eleitoral.

"Tenho certeza absoluta. É até uma coisa amadora, feita bem rápido. Fiz para o pessoal rir", conta Nascimento, que, nas horas vagas, edita vídeos de festas de casamento e produz clipes da banda Lothlöryen.

No último fim de semana, Nascimento viu uma nota do UOL falando sobre a nova propaganda do candidato no horário eleitoral.

"Nem passou pela minha cabeça que fosse o meu vídeo", comenta. Depois que viu as cenas, o analista de sistemas percebeu que a sua paródia tinha sido usada na campanha de Tiririca. "Eu pensei: 'não é possível que os caras copiaram da internet e colocaram lá'".

No vídeo, publicado há quase dois anos e meio no YouTube, Nascimento inseriu a cabeça do deputado em uma cena do filme "Star Wars". Para a produção, ele utilizou imagens da campanha de 2010 do candidato.

"Eu estava assistindo ao filme [Star Wars Episódio VI: O Retorno de Jedi] e veio a ideia", relembra o analista de sistemas. A diferença em relação ao vídeo de Nascimento é a dublagem dos personagens, no início da cena, e a imagem com um corte mais fechado.

Compare os vídeos que transformam Darth Vader em Tiririca

Campanha nega uso do vídeo de Nascimento na propaganda eleitoral

Apesar das semelhanças entre o vídeo de 2012 e as imagens do horário eleitoral, a assessoria da campanha de Tiririca nega que a propaganda tenha usado a paródia de Nascimento.

"[A propaganda] foi feita pela produção. Não foi retirada da internet", afirmou, ao UOL, o assessor de imprensa da campanha do candidato, Osvaldenir Stocker. Depois de consultar sua equipe sobre a reclamação do analista de sistemas, Stocker emitiu um comunicado em que confirma o uso do vídeo, mas não admite o plágio. "Como normalmente costuma fazer o humorista Tiririca, foi feito uma paródia sobre o vídeo do Darth Vader, que circulava pela internet desde 2012", diz a nota.

Nascimento, porém, não acredita na coincidência. "Até a parte do áudio, você pode ver, ele começa a falar antes de tirar a máscara, que era algo que eu queria ter corrigido. Se eles tivessem feito o vídeo, com certeza teriam consertado isso".

Tom de paródia isenta autor de sanção legal

Segundo a professora de Direito da FGV-SP Mônica Rosina, como Bruno realizou uma paródia com o único objetivo de fazer humor, ele não poderá sofrer sanções legais da Disney, proprietária dos direitos da franquia "Star Wars".

"A lei de direitos autorais brasileira é considerada uma das mais severas do mundo sobre restrição do uso de conteúdo, mas ela traz algumas exceções e a paródia é uma delas", explica Mônica. "O importante é ficar evidente que é uma paródia".

O mesmo não deve acontecer com a campanha de Tiririca, que pode ser processada por uso indevido das imagens de "Star Wars" para fins publicitários. "Ele está usando a paródia não apenas para efeito humorístico, mas também com a finalidade política de conseguir eleitores".

Nascimento diz que não processará Tiririca por plágio

Nascimento tem a possibilidade de processar a campanha de Tiririca por plágio, já que não recebeu crédito pela paródia que criou. "Essa paródia pouca gente conhece", complementa a professora. Até esta segunda-feira, o vídeo "Darth Vader abestado", no YouTube, teve cerca de 45 mil visualizações.

Mas o analista de sistemas não pensa em entrar com uma ação na Justiça. "Eu só quero reconhecimento. Pelo menos os créditos, colocar 'vídeo do YouTube'. Eles também poderiam ter me enviado um e-mail pedindo para usar o vídeo", diz Nascimento, que tem a edição de vídeos como um passatempo.

"Mexo com vídeo desde os 13 anos por curiosidade, por hobby mesmo. Mas gosto mais de fazer pela parte da criatividade".

O departamento jurídico da Disney analisa o uso da imagem do filme na propaganda política, informou ao UOL o escritório da companhia no Brasil. Procurada pela reportagem, a direção nacional do PR não quis comentar o assunto.

Primeira polêmica
A campanha de Tiririca já sofre um processo judicial da gravadora do cantor, a Sony Music, por uso indevido da música "O Portão" em um anúncio em que ele imita o cantor Roberto Carlos. A propaganda brinca com um comercial produzido pela Friboi com o cantor.

O anúncio da marca foi veiculado no começo deste ano e provocou grande repercussão entre o público porque o músico se declarava vegetariano.

Na peça eleitoral, Tiririca veste uma peruca e usa um terno branco para imitar Roberto Carlos.Aos risos, o candidato repete bordões do cantor ao som da música "O Portão". O famoso refrão original, "Eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é meu lugar", é substituído por "eu votei, de novo eu vou votar, Tiririca, Brasília é seu lugar".

Em seguida, o humorista espeta um pedaço de carne e diz: "Que bifões, bicho". Para ocupar a totalidade do tempo do PR, o quadro, na ocasião, foi exibido duas vezes seguidas.

"Efeito Tiririca"

Em 2010, Tiririca foi o candidato a deputado mais votado do país, com 1,4 milhão de votos. A votação expressiva foi suficiente para eleger outros três parlamentares da coligação: Otoniel Lima (PRB), Delegado Protógenes (PC do B) e Vanderlei Siraque (PT-SP).

Nestas eleições, a aposta do PR é que Tiririca repita a votação de quatro anos atrás. Desta vez, no entanto, o humorista só ajudaria a eleger candidatos do próprio PR, uma vez que o partido não está coligado com nenhuma outra sigla na disputa para deputado federal.

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos