Líder LGBT que deixou Marina: "Dilma apoiar lei da homofobia é conveniente"

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

  • Nelson Antoine/Fotoarena/Estadão Conteúdo

    Dilma Rousseff conversa com o bispo Manoel Ferreira, líder da Assembleia de Deus

    Dilma Rousseff conversa com o bispo Manoel Ferreira, líder da Assembleia de Deus

O secretário nacional do segmento LGBT do PSB, Luciano de Freitas, disse nesta terça (2), em entrevista ao UOL, que o apoio da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) à criminalização da homofobia não passa de "conveniência" e que os direitos dos LGBT viraram "moeda de troca".

No segundo turno da eleição de 2010, Dilma Rousseff chegou a endereçar uma carta a lideranças religiosas se comprometendo a não defender temas polêmicos como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo. No fim de 2013, a presidente também articulou para que o PLC 122, que criminaliza a homofobia, fosse engavetado para evitar dissabores durante a campanha presidencial deste ano.

Além disso, foi durante seu governo que a Comissão de Direitos Humanos foi entregue nas mãos do pastor Marco Feliciano (PSC), que sempre se declarou contrário ao reconhecimento dos direitos dos LGBT.

"Em certo aspecto [o apoio dela] é conveniente. Porque como isso agora está gerando polêmica - e como é uma polêmica contra a Marina -, é muito conveniente para Dilma ou para qualquer outro candidato dizer-se a pessoa mais aberta à causa LGBT. Mas a prática do governo dela desdiz isso. Se ela cumprir o que está dizendo, vai ser um avanço e eu vou bater palma, independentemente de partido", disse o secretário.

Freitas ficou conhecido no último sábado por ter deixado a campanha de Marina Silva após a ex-senadora suprimir diversas propostas de defesa dos direitos da comunidade LGBT de seu programa de governo após pressão de grupos evangélicos.

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Mudança após publicação motivou afastamento

Ele comenta o caso dizendo que as propostas foram colocadas no programa ao pé da letra conforme as reivindicações dos movimentos de defesa aos direitos dos LGBTs. "Sabíamos que poderia ter cortes, mas não houve na edição final. O que incomodou foi a mudança de postura depois de o programa já ter sido publicado", disse Freitas, que não quis se pronunciar sobre um possível rompimento com a candidata.

Enquanto ativistas da comunidade LGBT acusam a ex-senadora de ter deixado suas convicções religiosas influenciarem sua decisão quanto ao plano de governo, Freitas disse que os evangélicos apenas "chamaram a atenção" de Marina para pontos do programa em que ela não tinha prestado a devida atenção.

"Tem muita coisa ali que ela discorda, não do teor, mas da linguagem, como por exemplo a questão do casamento e da união civil. Eu acredito que a influência dos evangélicos em um eventual governo da Marina não será diferente do que foi no governo Dilma."

Após mudanças, Malafaia anuncia apoio a Marina no 2º turno

Apesar de minimizar o lobby evangélico, nesta terça-feira o pastor Silas Malafaia (que no sábado chegou a ameaçar Marina a fazer "a mais dura e contundente fala que já dei até hoje sobre um candidato a presidente" caso ela não recuasse da pauta LGBT) declarou apoio à candidata do PSB: "Claro que apoio Marina. Depois que o ativismo gay retirou apoio a ela, vou de cabeça".

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