Dilma, Marina e Aécio tropeçam ao tratar de recessão, pré-sal e educação

Cintia Baio, Guilherme Balza e Marcelle Souza

Do UOL, em São Paulo

Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), os três principais postulantes à Presidência da República, tropeçaram, no debate realizado nessa segunda-feira (1º) em conjunto por UOL, Folha, SBT e Jovem Pan, em temas como recessão da economia, uso dos recursos do pré-sal e desempenho da educação, entre outros.

1. Dilma se nega a admitir recessão

Em resposta ao jornalista Fernando Canzian, que questionou Dilma sobre o desempenho na economia neste ano, a candidata à reeleição negou que o país esteja em recessão e afirmou que a prova disso é o fato de que há sete meses consecutivos a Bovespa se valoriza.

"Considero que a queda na atividade econômica que nós estamos vivenciando é momentânea. A seca, menos dias úteis e prolongamento da crise econômica têm um grande impacto. Nós não estamos em recessão. O mercado consumidor aumenta por conta do emprego e por conta do aumento de salários. A inflação hoje está próxima de zero."

A economia brasileira, medida pelo PIB (Produto Interno Bruto), encolheu 0,6% no 2º trimestre em relação aos três meses anteriores. Além disso, os resultados do 1º trimestre foram revisados de alta de 0,2% para queda de 0,2%. Com dois trimestres seguidos de resultado negativo, considera-se tecnicamente que o país está em recessão. Isso não acontecia desde a crise financeira global de 2008 e 2009.

2. Marina dúbia com relação ao pré-sal

Provocada por Dilma, Marina Silva negou tratar o pré-sal com desprezo e disse que, em seu programa, reafirma a necessidade de continuar explorando-o.

"O que nós estamos afirmando no nosso programa de governo é que além do pré-sal, que é uma riqueza necessária, que deve ser explorada com todo o cuidado, inclusive para que os seus recursos possam ser investidos corretamente em educação para melhorar a qualidade de vida dos nossos jovens e apostar em ciência, tecnologia e inovação, nós estamos reafirmando a necessidade de continuar explorando essa fonte de energia. No entanto, nós não podemos ter uma visão de ficar apenas aonde a bola está. É preciso ir para onde a bola vai estar."

O programa da candidata do PSB, entretanto, cita o pré-sal apenas uma vez, de modo lacônico. "Aplicar os repasses à educação da parcela dos royalties do petróleo das áreas já concedidas e das do pré-sal". Além disso, no debate, Marina falou em usar os recursos do pré-sal para antecipar a meta de educação em tempo integral, mas a proposta não é explorada em seu programa de governo.

3. Aécio exagera ao falar de educação

Já Aécio afirmou que Minas Gerais, Estado governado por ele durante oito anos, tem a melhor educação fundamental do país. "Assim como fiz também em Minas Gerais, que tem a melhor educação fundamental do Brasil."

A afirmação só é parcialmente verdadeira. O ensino fundamental é dividido em dois ciclos: do 1º ao 5º (antiga 4ª série) e do 6º ao 9º ano (antiga 8ª série). Na primeira etapa, Minas Gerais atingiu a melhor nota no Ideb 2011 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

No segundo ciclo, porém, Minas Gerais, com nota 4,6, cai para o terceiro lugar: atrás de Santa Catarina (4,9) e São Paulo (4,7). É importante lembrar que o primeiro ciclo é oferecido preferencialmente pelas redes municipais, enquanto o segundo fica a cargo dos Estados".

4. Dilma infla dados da educação

Durante confronto com Marina, Dilma afirmou que seu governo aumentou em três vezes os gastos com educação. "Nós triplicamos os valores que investimos em educação."

O que foi aprovado pelo Congresso e sancionado neste ano por Dilma é o Plano Nacional de Educação, que prevê triplicar os gastos com educação até 2020. Ou seja, trata-se de uma meta, e não de uma realização.

Durante o governo Dilma, os investimentos estatais diretos com educação pela União mantiveram-se estáveis entre 2010 e 2012 (1% do PIB) –não há dados sobre 2013. Já o  gasto total com educação, que inclui os investimentos diretos, bolsas de estudo e renúncia fiscal, também permaneceu estável: em 2012 foi 1,3% do PIB; em 2010, 1,2%.

5. Marina atribui a si autoria de programa da gestão FHC

Ao falar de saneamento básico, Marina disse ter implementado, quando foi ministra do Meio Ambiente (2003-2009), um programa para recompensar os municípios pelo tratamento do esgoto.

"No nosso programa de governo nós estamos priorizando o tratamento do esgoto para que através de parcerias com a iniciativa privada, para que através de alternativas como foram aquelas que implementei quando era ministra do Meio Ambiente, com o pagamento pelo esgoto tratado, a gente possa atender essa demanda que melhora a vida das cidades."

A medida citada por Marina é o Programa Despoluição de Bacias Hidrográficas (Prodes), que foi criado pela ANA (Agência Nacional de Águas), órgão subordinado ao Ministério do Meio Ambiente, em março de 2001, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O programa, contudo, foi mantido quando Marina esteve a frente da pasta.

6. Dilma e as ações anticorrupção

Ao comentar uma resposta de Aécio, Dilma disse que seu governo combateu a corrupção ao fortalecer a Polícia Federal e ao aprovar leis, como a Ficha Limpa.

"É importante lembrar que no governo meu e do presidente Lula nós fortalecemos a Polícia Federal. E a Polícia Federal promoveu 162 operações de combate à corrupção, lavagem de dinheiro, e crime financeiro. Também no governo meu e do presidente Lula, a CGU ganhou status de ministério. Criamos o portal da Transparência, aprovamos a lei de acesso à informação, da Ficha Limpa, da punição dos corruptores e do combate às organizações criminosas."

A Lei da Ficha Limpa, entretanto, não foi enviada ao Congresso pelo Executivo. Trata-se de um projeto de iniciativa popular, aprovado no Legislativo e sancionado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Quanto às operações da PF, reportagem do UOL publicada em fevereiro mostrou que, entre 2009 e 2013, a queda de indiciamentos em crimes do colarinho branco foi de 75%.

7. Marina e as palestras confidenciais

A candidata Marina Silva, questionada pelo jornalista do UOL e da Folha Fernando Rodrigues sobre uma cláusula de confidencialidade que a impede de divulgar as empresas para as quais vendeu palestras que lhe renderam $ 1,6 milhão nos últimos três anos, afirmou:

"Há que fazer uma separação da minha vida privada como cidadã, do exercício da minha atividade profissional e um contrato de confidencialidade que é muito mais uma exigência das pessoas que contratam meu trabalho do que da minha parte. Eu particularmente não tenho nenhum problema em que sejam reveladas as empresas que me contrataram, até porque eu vivo honestamente daquilo que faço, todo mundo sabe que dou palestras para poder levar a mensagem do desenvolvimento sustentável em todo o Brasil."

Apesar de atribuir às empresas a exigência de confidencialidade, reportagem da "Folha de S. Paulo" de outubro passado mostra que a própria Marina pediu sigilo. Na época da reportagem, a ex-senadora afirmou que "confidencialidade não se opõe a transparência."

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