Agronegócio janta com Marina para cobrar compromissos de Campos

Guilherme Balza e Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

  • Edson Silva /Folhapress

     Marina Silva e Beto Albuquerque visitam a Fenasucro, feira do setor sucroenergético

    Marina Silva e Beto Albuquerque visitam a Fenasucro, feira do setor sucroenergético

A campanha de Marina Silva (PSB) parece estar disposta a quebrar de vez a histórica resistência do agronegócio com a candidata. Na agenda de campanha desta semana, a segunda desde que Marina foi oficializada no lugar de Eduardo Campos, a ex-senadora dedicou-se a estreitar relações com ruralistas.

Na noite desta sexta-feira (29), Marina e seu estafe participarão de um jantar, a portas fechadas, com dezenas de representantes das principais associações do agronegócio, entre elas a Sociedade Rural Brasileira (SRB), a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e a União das Indústrias de Cana de Açúcar (Unica).

A porta de entrada de Marina ao mundo do agronegócio é o setor sucroenergético (álcool e açúcar), com o qual mantém boas relações desde quando foi ministra do Meio Ambiente na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Representantes do setor se dizem marginalizados por Dilma Rousseff em função da escolha do governo em subsidiar derivados do petróleo em vez de estimular a produção de etanol.

Nessa quinta-feira (28), a candidata foi a Sertãozinho (333 km de São Paulo) em visita à Fenasucro, considerada maior feira do setor do mundo, e se reuniu a portas fechadas com alguns dos maiores produtores de cana-de-açúcar do país. Prometeu, se eleita, aprovar um marco regulatório para garantir empregos nas usinas. Na quarta-feira (27), em entrevista ao "Jornal Nacional", Marina afirmou tratar-se de "lenda" a alegação de que ela é contra o uso de sementes transgênicas.

Empresário ligado ao agronegócio atuou como "ponte"

O jantar de hoje acontecerá em São Paulo, na casa do empresário Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, que faz a ponte de Marina junto aos produtores. O presidente da SRB, Gustavo Diniz Junqueira, que já esteve reunido com Marina duas vezes, também ajudou a organizar o diálogo.

A relação de Marina com a SRB ilustra bem a aproximação da candidata com os ruralistas. Em outubro passado, após a ex-senadora declarar no programa "Roda Viva" que há setores atrasados do agronegócio, a entidade emitiu uma nota de repúdio a Marina criticando-a pela hostilidade no tratamento com o setor.

"A Marina é o Nelson Mandela do ambientalismo. Não devemos esperar que ela abandone sua ideologia, mas acredito que as pessoas evoluem e quando encaram desafios maiores tem de pensar de maneira mais ampla. Uma coisa é a Marina ativista ambiental, outra é a ministra do Meio Ambiente e outra coisa é a Marina eventual presidente da República, que tem de olhar para todos os aspectos", afirma Junqueira.

Associação de Marina ao ambientalismo ainda provoca resistência

O presidente da SRB diz que a equipe de Campos, agora de Marina, é "bastante pragmática no sentido de buscar o crescimento do agronegócio de maneira ainda mais sustentável e fazer um esforço grande na acomodação dos princípios."

Junqueira afirma que "a nova política é uma aspiração de todos", mas, a despeito dos esforços da campanha de Marina, haverá resistência de alguns setores do agronegócio. "Há setores que tiveram embates mais diretos com ela, e esses setores precisam ter mais conforto", diz.

"A equipe da Marina tem buscado entender essas situações e colocar de maneira clara suas posições. Ela não vai ser uma unanimidade. O agronegócio é muito heterogêneo. Haverá setores apoiando a Dilma, o Aécio e ela."

Na campanha de Marina, os principais interlocutores com o agronegócio são João Paulo Capobianco, ambientalista que milita na Rede, o ex-deputado federal Maurício Rands (PSB-PE), e o vice Beto Albuquerque, sobretudo.

Coordenador de campanha diz que encontros são "via de mão dupla"

Para o deputado federal Walter Feldman (PSB-SP), coordenador de campanha e conselheiro pessoal de Marina, os diálogos que vêm sendo estabelecidos com o agronegócio não são uma busca desenfreada em se aproximar de setores com quem a candidata sempre teve diferenças importantes de pontos de vista.

"Trata-se de uma via de mão dupla. Estamos querendo expor nossas ideias e também ouvir o que pensam os produtores. A vida é feita de teses, antíteses e sínteses", afirmou o deputado ao UOL.

Feldman fez questão de dizer que a ida da candidata à Fenasucro na quinta-feira não foi ideia de Marina. "Esta era uma agenda que fora marcada pelo Eduardo Campos. Nós decidimos mantê-la em nome da coerência da nossa trajetória, para preservar o legado de Eduardo Campos."

O deputado disse também que, após o encontro da quinta-feira, conversou com os produtores que estiveram presentes e recebeu um retorno positivo da agenda.

"Eles me disseram que este foi o melhor encontro com candidatos que eles tiveram, porque foi o mais sincero. Porque identificamos que há problemas e vamos avaliá-los, enquanto os outros candidatos disseram apenas o que os produtores queriam ouvir."

Por fim, o conselheiro de Marina afirmou que boa parte das diferenças entre o agronegócio e a candidata do PSB se deve à falta de comunicação. "As diferenças são muito mais retóricas do que reais. A Marina nunca foi contrária aos transgênicos. Há muito espaço para diálogo entendimento. Os setores dentro do agronegócio que mais resistem são aqueles que têm dificuldade em decantar as diferenças."

Jantar é considerado "Prova dos nove"

Luiz Carlos Carvalho, presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), afirma que na reunião de hoje à noite com Marina será feita uma "prova dos nove" para atestar se os compromissos firmados por Campos serão mantidos.

"Quem fez uma procura intensa com o setor foi o Eduardo. Em todos os encontros ele manifestou que falava em nome dele e no de Marina. Estamos agora tirando a 'prova dos nove' sobre se está tudo de acordo com o que já estava discutido. Queremos saber quais são os planos dela, se mudou alguma coisa", diz.

De acordo com Carvalho, a resistência com a candidata já é menor, mas há setores com "o pé atrás pela lembrança do período em que Marina era ministra do Meio Ambiente".

O presidente da Abag vê semelhanças do processo enfrentado pela ex-senadora com o vivido por Lula em 2002. "Todos estavam assustados com o Lula. Passamos por esse susto. Ele procurou todo mundo e ganhou a confiança."

Marina já declarou que irá manter os compromissos de Campos apresentados na sabatina da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) no início do mês.

Seguindo a mesma linha, a candidata prometeu que, se eleita, o Banco Central terá independência garantida em lei, medida vista como um aceno ao mercado. A investidores brasileiros e estrangeiros, a candidata comprometeu-se a fazer as reformas política, tributária e administrativa. 

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos