Policiais em greve

Com campanhas milionárias, líderes de greves da PM no NE tentam eleição

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

Líderes de greves no Nordeste nos últimos anos, policiais militares disputam a eleição em pelo menos cinco Estados da região. Juntos, eles pretendem gastar até R$ 24 milhões com as campanhas e apostam nos votos dos colegas de farda para chegar às assembleias legislativas ou à Câmara dos Deputados.

O UOL fez levantamento e encontrou pelo menos 10 líderes de paralisações nos Estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Maranhão que vão concorrer a cargos em outubro. Um dos líderes que comandou a greve baiana, em 2012, é candidato no Rio Grande do Norte.

Campanhas caras para PMs grevistas
  • Na Bahia
    Soldado Prisco: R$ 2 milhões e Capitão Tadeu (PSB): R$ 5 milhões
  • No Ceará
    Cabo Sabino (PR): R$ 2,8 milhões e Capitão Wágner (PR): R$ 1,48 milhão
  • No Maranhão
    Coronel Melo (PSD): R$ 2 milhões e Soldado Dauvane (PP): R$ 500 mil
  • Em Pernambuco
    Coronel Conceição (PP): R$ 3 milhões, Joel (PROS): R$ 3 milhões e Soldado Alberisson (PTB): R$ 4 milhões
  • No Rio Grande do Norte
    Cabo Jeoás (PCdoB): R$ 400 mil
Fonte: Levantamento UOL com dados do TSE

Dos 10 candidatos, dois já exercem cargos eletivos: o Capitão Wágner e o Soldado Prisco, que são vereadores em Fortaleza e Salvador, respectivamente, e tentam cargos maiores agora. Outros tentam estrear.

Em Pernambuco há três nomes --que lideraram a greve de dois dias, em maio, que deixou um saldo de saques, assaltos e ruas das grandes cidades vazias

Na Bahia, houve duas greves entre 2012 e 2014. Na última, em abril último, a paralisação foi comandada pelo soldado Prisco e pelo capitão Tadeu. Eles tentam agora voos mais altos.

Prisco, que é vereador de Salvador, quer uma vaga na Assembleia Legislativa, enquanto Tadeu –que chegou a exercer, mas teve o mandato de deputado estadual extinto em julho passado por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)-- tenta vaga na Câmara dos Deputados.

Presidente da Aspra (Associação dos Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia), Prisco foi detido em abril, logo após o fim da greve da PM na Bahia, a pedido do MPF (Ministério Público Federal) para evitar que ele comandasse novas paralisações.

A prisão preventiva foi decretada pela Justiça Federal para garantia da ordem pública. Prisco ficou preso entre 18 de abril e quatro de junho, em Brasília. Ele também havia sido preso por um mês após a greve de 2012

No Ceará, uma greve em 2012 também causou diversos transtornos à população. O vereador de Fortaleza capitão Wágner e o cabo Sabino foram os principais líderes daquela paralisação e agora fazem dobradinha concorrendo a deputado estadual e federal, respectivamente.

No Maranhão, houve greve em março. O Coronel Melo, apontado como principal líder, chegou a ser preso pelo comando da corporação, acusado de liderar protesto.

Ele também seria o líder da paralisação de 2011, a maior da corporação na história. Já o soldado Dauvane foi o líder na região sul do Estado, com base na cidade de Imperatriz. Os dois tentam cargo na Assembleia do Maranhão.

No Rio Grande do Norte, o Cabo Jeoás também é candidato à deputado estadual. Ele foi detido junto com outros 15 militares, em fevereiro de 2012, logo após a greve da PM da Bahia. 

Prisão e expulsão como marketing

Na hora de fazer a propaganda eleitoral, uma das principais estratégias dos candidatos militares é anunciar a prisão em nome da luta da categoria.

"Foram 40 dias de prisão no BOPE em consequência da participação nas negociações de reivindicação de direitos em 2012 no Pará e na Bahia representando a ANASPRA (Associação Nacional dos Praças) Atualmente, ainda respondo a processo por defender os direitos dos policiais militares de todo país. Mas, a luta continua!", diz o cabo Jeoás em sua página de Facebook.

Outro que usa a prisão como propaganda é o soldado Prisco, que diz em um dos seus panfletos: 'Fui preso por lutar por melhores condições de trabalho."

O UOL conseguiu conversar com um dos candidatos.

"Somos candidatos para melhorar a segurança pública. Temos a experiencia e a vivência de policial militar, conhecendo de perto as deficiências, as necessidades das comunidade. Nessa área de segurança, ninguém pode contribuir mais que os policiais", disse o Cabo Sabino (PR), candidato no Ceará e que no ano passado foi expulso da corporação e recorre para tentar voltar a tropa.

Sabino diz que a população não reprovou a paralisação dos militares e concordou com a greve.

"A população apoiou integralmente. Toda a alimentação nos dias da PM foram doadas por pessoas, que iam deixar o local alimento, água, dinheiro, ainda sobraram 50 cestas básicas que doamos. Paralisamos sem dar um tiro", disse.

Para Sabino, o eleitor reconhece um perfil de político sério nos policiais. "As pessoas querem políticos sérios e encontram no profissional de segurança essa essência, essa honradez, essa seriedade.

"Mas não vamos atuar apenas na segurança. Temos muito a contribuir com educação, saúde e, principalmente com a questão das melhor idade, que tem os direitos desrespeitados", acrescenta.

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