Candidato do PSDB quer kit macho em escola e chama PT de "partido do demo"

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução

    Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Matheus Sathler (PSDB-DF): "eixo liberal-conservador"

    Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Matheus Sathler (PSDB-DF): "eixo liberal-conservador"

O advogado Matheus Sathler, candidato do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) pelo Distrito Federal a uma vaga na Câmara dos Deputados, tem chamado a atenção e se tornado alvo de polêmica em Brasília e nas redes sociais.

Os motivos são suas bandeiras, plataformas eleitorais, atos e promessas de campanha. Entre suas propostas caso seja eleito, está a luta pela criação do que ele chama de "Kit Macho" e Kit Fêmea", que seriam cartilhas para serem distribuídas nas escolas para "ensinar homem a gostar de mulher e mulher a gostar de homem".

De acordo com o candidato, o kit serviria para neutralizar as ações que são desenvolvidas pelo programa federal "Brasil Sem Homofobia", que estaria ensinando o homossexualismo às crianças brasileiras. 

Veja o programa eleitoral do candidato

Em entrevista ao UOL, Sathler disse que não gostaria que fosse feita uma reportagem com foco apenas na proposta dos kits macho e fêmea, já que possui uma série de propostas e ideias inovadoras para "livrar a família brasileira de sua total destruição, como vem tentando fazer o PT (Partido dos Trabalhadores), que é o partido de Satanás". O candidato fez também uma denúncia, a de que existiria um "propinoduto gay" dentro do governo federal. Disse também que tem contato com o colunista da revista Veja Reinaldo Azevedo, o que é desmentido pelo jornalista (leia abaixo).

Após a entrevista com candidato tucano, a reportagem do UOL entrou em contato com o diretório do PSDB do Distrito Federal, para conhecer o posicionamento do partido em relação às ideias de Matheus Sathler. 

Leia, abaixo, o que diz Eduardo Jorge Caldas Pereira, presidente do PSDB-DF, sobre o assunto, e, depois, os principais trechos da entrevista com o candidato.

UOL - O partido concorda com os posicionamentos do candidato Matheus Sathler?

Eduardo Jorge Caldas Pereira - O partido não concorda e já expressou isso diretamente a ele.

UOL - O que o partido pensa sobre a proposta de criação do "kit macho" e do "kit fêmea"?

E.J.C.P. - O partido é radicalmente contra essa ideia.

UOL - Se o partido é contrário aos entendimentos do candidato, qual é a lógica em mantê-lo entre seus quadros e de promover a sua candidatura?

E.J.C.P. - Um partido politico não precisa concordar com todas as crenças de todos os seus filiados. O que deve ser exigido é o cumprimento do programa partidário. O candidato, ao pleitear a vaga, se comprometeu a seguir o programa do PSDB. Quando esse assunto foi ventilado pela primeira vez – já depois de escolhido como candidato - e ele manifestou sua opinião, foi chamado pelo presidente do partido e se comprometeu a seguir a orientação partidária. O partido não dará guarida à posição do candidato. 


Entrevista com o candidato a deputado federal Matheus Sathler (PSDB-DF)

UOL - O senhor registrou em cartório o compromisso de doar 50% de seu salário como deputado, caso seja eleito, a entidades que tratam crianças que são vítimas de pedofilia homossexual. Há entidades assim específicas?

Matheus Sathler - Veja, eu não gostaria que a matéria ficasse restrita a este foco. Antes, gostaria de dizer que desde o ano de 2008 eu venho denunciando a existência de uma máfia gay dentro do governo federal, que vem desviando recursos públicos da área da Saúde para militantes LGBT (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros).

UOL - De que forma são feitos esses desvios?

M.S. - Por meio do Programa Nacional de DST/Aids, que é controlado por militantes gays. Eles utilizam dinheiro público para participar de congressos internacionais onde homens fazem sexo com homens. O governo envia gente para essas excursões gays sob a justificativa de que são congressos de combate à Aids, fazendo a farra com o dinheiro público. Desde 2011, eu denuncio também o desvio de dinheiro público para ONGs gays, através de convênios geridos pelo CNCD/LGBT (Conselho Nacional de Combate a Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais).  

UOL - Mas qual é a ilegalidade existente nesses convênios?

M.S. - Eles são criados de uma forma ilícita, abrigando somente entidades LGBT, não abrindo participação para as pessoas de bem. Então, foi criado esse propinoduto... espere, vamos ver, vamos dar um nome forte, para pegar o nome mesmo... (pausa) propinoduto LGBT.

UOL - Recentemente, o senhor também foi à polícia denunciar que estava recebendo ameaças e xingamentos em virtude de suas opiniões...

M.S. - Sim, ameaças de morte! Estou denunciando há uma semana. Eles (homossexuais) são os mais intolerantes. O pastor Silas Malafaia (líder do ministério Vitória em Cristo, ligado à Assembleia de Deus) falou recentemente disso que eu também estou sofrendo, essa perseguição do povo gay, via aparelhos do Estado criados para perseguir, contrariar a liberdade de expressão e usar os idiotas úteis para acabar com a espiritualidade e com a família.

UOL - Como se dá essa perseguição?

M.S. - Eles praticam fanatismo, demonizam o PSDB e outros partidos, é parecido com o discurso e os métodos de Adolf Hitler. Criaram um inimigo comum, tentam controlar as palavras. Já não se pode mais falar "homossexualismo", agora é "homossexualidade". Não pode dizer "dupla de homens", é um "casal". Presidente tem que ser presidenta. Tentam controlar a fala da população, isso é um método ligado ao comunismo histórico, ao stalinismo, e Hitler era nacional-socialista, não era de extrema direita, isso é mentira, ele tinha acordo com a União Soviética, que depois foi quebrado por interesses, não por ideologia. O nome do partido nazista era nacional-socialista.

UOL - Agora podemos voltar ao assunto da sua promessa registrada em cartório de doar metade de seu salário a entidades que cuidam de crianças que são vítimas de pedofilia gay? 

M.S. - É um compromisso ao qual eu chamo atenção pela causa altruísta. Eu vou dar o dinheiro para creches, instituições cristãs que já ajudam na recuperação de crianças vítimas de pedofilia, qualquer tipo de pedofilia. Mas eu quero ajudar especificamente as vítimas de pedófilos gays, potencializar o uso da doação nesse sentido. O dinheiro é meu, eu tenho direito. Não podem querer controlar até o que eu faço com o meu dinheiro.

UOL - Entre as suas bandeiras está também a criação dos chamados "kit macho" e "kit fêmea". Pode explicar do que se trata?

M.S. - Esse programa já está bem explicado em minha página na internet e em vídeos que coloquei no Youtube. O "kit macho" é para educar o menino a ser fiel à esposa, não ser violento, ser o líder da casa, não abandonar o lar, não ser apegado a bebidas e drogas, e, principalmente, a gostar somente de mulher. 

UOL - E o "kit fêmea"?

M.S. - O "kit fêmea" é para instruir a mulher a ser feminina, dócil, boa dona de casa, boa mãe, apegada aos filhos e apegada ao marido.

UOL - O senhor é contra a mulher trabalhar fora de casa?

M.S. - Não, não. Não sou contra a mulher trabalhar fora, mas não posso falar da família dos outros. Na minha casa,  a minha esposa abriu mão da sua carreira em nome de tomar conta do lar. Eu sustento minha esposa e ela me sustenta no auxílio que eu preciso. Porque o problema social da família está ligado à estrutura familiar, porque o PT quer destruir a família.

UOL - O PT tem por objetivo destruir a família?  

M.S. - Mas sem a menor dúvida! O PT é o partido de Satanás, pode escrever assim mesmo, para dar uma chamada meio forte. Você pode colocar que eu represento a ala mais ortodoxa no sentido liberal-econômico no PSDB. Que eu defendo a extinção do termo superavit primário, para defendermos um superavit nominal, com o pagamento total das dívida interna e externa, e não só dos juros da dívida. Diferentemente do PT e do Lula, que defendem o calote da dívida interna e externa. Eles são caloteiros, nós não somos caloteiros.  

UOL - Quais outras teses o senhor defende para que se diga que o senhor é da ala mais ortodoxa do partido? 

M.S. - Defendo a redução da carga tributária, tenho um plano de redução da carga na medida de um ponto percentual do PIB por ano, durante 30 anos, até que tenhamos uma das menores cargas tributárias do mundo. Proponho também uma privatização cooperativista do SUS (Sistema Único de Saúde) e do sistema educacional. Ou seja, os professores vão tomar a frente da educação pública. No começo, vai haver repasse de verbas para as cooperativas, o que vai ser reduzido gradualmente na medida que a carga tributária for sendo reduzida e eles puderem conduzir seus negócios por conta própria. 

Também defendo a substituição do Bolsa-Família pelo Bolsa-Empresário, onde quem recebe o benefício atual poderá trocá-lo por acesso a microcrédito, cursos de empreendedorismo etc. Assim, todos poderão andar pelas próprias pernas, e não mais depender do Estado. Assim, se uma mulher que recebe o Bolsa-Família terá condição de montar o seu ateliê, seu salão de manicure, ou o que ela quiser, é o livre-empreendedorismo.

UOL - O senhor partilha dessas ideias com algum grupo político ou pessoas com posicionamentos semelhantes? Há peças de sua campanha ao lado do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ)...

M.S. - Minha relação é muito boa com o Pastor Silas Malafaia, com o deputado Pastor Marcos Feliciano (PSC-SP) e com o Padre Paulo Ricardo (da ala conservadora da Igreja Católica). Também têm entrado em contato comigo o Reinaldo Azevedo e o Rodrigo Constantino (ambos colunistas e blogueiros da revista Veja). Nós, os liberais-conservadores, temos nos articulado, sim.


Jornalista nega contato com candidato

Após a publicação desta reportagem, o jornalista Reinaldo Azevedo entrou em contato com a redação do UOL e afirmou não conhecer o candidato Matheus Sathler. "Nunca entrei em contato com este candidato. Nunca tinha ouvido falar de suas teses, essas coisas de cavalgadura. Quem quiser conhecer o meu pensamento, que me leia", disse o jornalista. Ainda sobre o assunto, Azevedo publicou, em seu blog, a nota que segue.

"Candidato do DF, de quem nunca ouvi falar, usa indevidamente o meu nome para defender proposta energúmena!

Um certo Matheus Sathler, candidato a deputado federal pelo PSDB do Distrito Federal, propõe a criação do "Kit Macho" e do "Kit Fêmea" para distribuir nas escolas. Seria uma forma, segundo entendi, de combater o Kit Gay. Ele concede uma entrevista ao UOL, que me foi enviada por eleitores. Num dado momento, diz:

"Minha relação é muito boa com o Pastor Silas Malafaia, com o deputado Pastor Marcos Feliciano (PSC-SP) e com o Padre Paulo Ricardo (da ala conservadora da Igreja Católica). Também têm entrado em contato comigo o Reinaldo Azevedo e o Rodrigo Constantino (ambos colunistas e blogueiros da revista Veja). Nós, os liberais-conservadores, temos nos articulado, sim."

Como é que é?

EU TENHO ENTRADO EM CONTATO COM ELE??? MENTIRA!!!

Nunca vi esse cara mais gordo ou mais magro, jamais falei com ele e não tenho interesse em falar. De resto, políticos podem até tentar entrar em contato comigo, mas eu não tento entrar em contato com eles, a não ser que esteja em busca de alguma informação.

Nunca falei com o sr. Sathler nem quero. Acho a sua proposta energúmena. Eu sou contra a distribuição de kits de qualquer natureza. Se e quando eu decidir declarar voto ou recomendar voto, procurem a informação aqui. O que não estiver em meu blog é mentira. De resto, não emprego "macho" e "fêmea" para me referir à sexualidade humana ou às diferenças de gênero quando se trata de pessoas.

Eu espero que ele tenha a hombridade de ligar para o UOL para dizer que nós jamais conversamos. Recomendo adicionalmente que não envolva meu nome em sua pantomima." 

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