Há um ano Erundina dizia que Marina 'desorganiza' e 'deseduca' a política

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

Escolhida para ser a coordenadora da campanha de Marina Silva (PSB) à Presidência, a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) afirmou, em julho do ano passado, que a ex-senadora "desorganiza" e "deseduca" a política.

A declaração foi feita em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar no programa "É Notícia", da Rede TV, exibido em 14 de julho de 2013 (veja o trecho no vídeo abaixo). Na época, Marina corria contra para registrar a Rede Sustentabilidade a tempo de disputar as eleições deste ano. A iniciativa, no entanto, fracassou, e Marina decidiu se filiar ao PSB.

Na entrevista, o jornalista questiona a deputada sobre se, naquele momento, ela tinha a intenção de migrar à Rede, o que ela negou. "Minha opção é pelo socialismo. Não acho que a Rede seja uma proposta que aponte para o socialismo."

E emendou: "a Marina é uma pessoa maravilhosa, mas entra no senso comum da sociedade do ponto de vista de negar a política, negar partido. Tanto que é 'Rede', não é 'partido'. Acho que isso desorganiza, deseduca politicamente. Não há política e não há democracia sem partidos. Agora, que partidos? Pode ser partido dentro da concepção que ela defende, mas não negando o partido, não negando a política. Eu gosto das coisas mais precisas."

Apoio de Maluf provocou saída de Erundina da chapa de Haddad em 2012

Erundina é conhecida e até criticada por integrantes de seus partidos por não transigir com suas convicções. "Eu dialogo, mas não faço concessões", afirmou, na mesma entrevista que criticou Marina.

Em 2012, a deputada chegou a ser escolhida para vice na chapa com Fernando Haddad (PT), o que foi festejado pela militância petista por conta do histórico de Erundina. Poucos dias depois, no entanto, ela deixou o posto depois que Haddad e Luiz Inácio Lula da Silva fecharam apoio com o PP de Paulo Maluf, com direito a visita à mansão do deputado nos Jardins.

Erundina já declarou que há poucos socialistas como ela no PSB. Afirmou também que gostaria que seu partido se comportasse de maneira diferente. É crítica, por exemplo, da escolha do diretório paulista do PSB em aliar-se com o PSDB.

Se por um lado a postura a isola dentro do partido, por outro faz com que ela mantenha seu eleitorado cativo e a admiração até de opositores. Erundina também é respeitada pelos eleitores que votam ou votaram no PT, o que vem a calhar com a estratégia da campanha do PSB e de Marina de conquistar votos de "petistas arrependidos".

Itaú, agronegócio e PSDB

Na campanha de Marina, entretanto, Erundina terá de lidar diretamente com figuras cujos pontos de vista são diferentes, para não dizer antagônicos, aos seus. O coordenador financeiro da campanha é Márcio França, candidato a vice-governador na chapa com Geraldo Alckmin em São Paulo.

Já a coordenadora do programa de governo é Maria Alice Setubal, a Neca, filha de Olavo Setubal e acionista do Itaú. A exemplo de Marina, Neca prometeu que, se a candidata for eleita, o Banco Central terá "autonomia formal", por lei, medida que desagrada a esquerda.

Neca disse ainda que operadores do mercado serão atraídos para a campanha de Marina como forma de respaldar a candidatura dela ante ao próprio mercado.

Historicamente aliada dos movimentos sociais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Erundina terá de lidar ainda com a escolha do deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) para vice de Marina. Próximo dos ruralistas, ele foi escolhido, entre outras razões, por ter diálogo com representantes do agronegócio, até então avessos à ex-senadora.

A reportagem telefonou para os celulares de Erundina ao longo do dia, mas a deputada não atendeu as ligações. 

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