O que é possível concluir do novo vídeo do avião de Campos?

Do UOL, em São Paulo

A pedido do UOL, os especialistas Décio Corrêa, comandante de avião e presidente Associação Brasileira das entidades de formação aeronáutica, e Marcelo Ceriotti, também comandante e presidente do Sindicato Nacional de Aeronáutica, analisaram o novo vídeo que mostra a queda do avião que levava o então candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB). O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos) informou que não trabalha com "causa" de acidente, mas, sim, com fatores contribuintes.  Veja as conclusões:

Fogo na aeronave

"Descarta-se a especulação de que a aeronave estava em chamas", afimou Ceriotti. "Isso afasta a possibilidade de que tenha havido alguma explosão nos motores durante o voo que tenha derrubado o avião. Nas imagens não aparece nem fogo nem fumaça".

Corrêa concorda e afirma que "frequentemente testemunhas de acidentes aéreos tendem a dizer que viram o motor pegando fogo, fumaça saindo... Isso é raríssimo, acaba sendo quase que uma fantasia das pessoas que viram uma tragédia. É um mecanismo que elas usam para tentar explicar algo impactante, culpando a mecânica do voo".

Controle do avião

Os especialistas concordam que no momento da queda o avião estava completamente sem controle. "Provavelmente o piloto perdeu a orientação do voo. Isso pode acontecer por vários motivos, tanto por falha mecânica - quando ocorre um problema e o comandante não consegue responder corretamente - quanto por falha humana, e  a aeronave entrou em estol, ou seja, perdeu sustentação e caiu", afirmou Ceriotti.

O avião pode ter se chocado com uma ave antes de cair?

A possibilidade existe, mas mesmo que uma ave tivesse entrado em um dos motores e provocado uma pane, o avião é construído para voar com apenas um motor funcionando.

Um raio pode ter derrubado o avião?

Para os especialistas isso é improvável, uma vez que uma descarga elétrica pode prejudicar alguns dos sistemas da aeronave, mas ela possui sistemas de geração de energia independentes e sistemas alternativos para lidar com esse tipo de falha.

A aeronave pode ter tido um apagão?

"Isso é raríssimo. Considerando que durante a arremetida estava tudo funcionando bem, a probabilidade de uma pane ter acontecido entre a arremetida e o acidente é, matematicamente, pequena. Um caso entre milhões de arremetidas apresentam problemas de pane após arremetidas", afirma Ceriotti.

Falha humana

Para Ceriotti, "tudo tem apontado que houve desorientação de voo provocada por falha humana. O grande problema é que as falhas humanas não são investigadas. Não é possível excluir a possibilidade de que um problema mecânico tenha derrubado a aeronave, mas pelo fato de que tudo ia bem até o acidente, a probabilidade é pequena".

"O Cenipa não investiga os motivos para a falha humana. Foi cansaço? Falta de treinamento? O centro não tem metodologia para apurar isso. O relatório muitas vezes conclui que foi falha humana e para por aí. Essa é uma falha na investigação de acidentes aéreos no Brasil", afirma.

Para ele, a situação de pilotos de aviação geral --que não trabalham com voos comerciais-- é muitas vezes precária e sujeita a uma carga horária exorbitante, o que prejudica o desempenho do piloto.

Dias antes da queda do avião de Campos, o piloto da aeronave postou em uma rede social que estava "cansadaço"

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