Agnelo critica Arruda e defende gestão no DF: estádio é "elefante dourado"

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

Candidato à reeleição, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), diz que pegou o governo quebrado de seu antecessor, José Roberto Arruda (adversário na disputa pelo PR), e que precisou de um ano e meio para "botar a casa em dia".

Justifica obras e projetos não entregues por esse motivo, mas enche a boca para falar do estádio Mané Garrincha, o mais caro do país: R$ 1,4 bilhão segundo o governo. No entanto, o Tribunal de Contas do Distrito Federal estima que o gasto pode chegar a R$ 2 bilhão.

Para o petista, que aparece com o maior índice de rejeição entre os candidatos nas pesquisas de opinião, o estádio não representa um elefante branco, mas um "dourado" por conta das oportunidades que gerou para o DF.

Na saúde, área com pior avaliação na opinião de 42% do eleitorado, de acordo com o Ibope, Agnelo lista uma série de projetos na área, como a construção de 6 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e a realização de transplantes de órgãos.

Questionado sobre material de campanha que trazia a informação de que seriam construídas unidades em todas as 31 regiões administrativas do DF, Agnelo rebate dizendo que isso não constava do seu programa de governo. Depois, sua assessoria informou que o panfleto trazia informação equivocada.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida ao UOL na sua residência oficial, em Águas Claras.

UOL – O ex-governador José Roberto Arruda, candidato ao governo pelo PR, foi preso durante o mandato, em 2010, e acabou cassado. No entanto, ele aparece em primeiro lugar nas pesquisas e o sr. tem o maior índice de rejeição. A que o senhor atribui isso?

Agnelo Queiroz  É difícil ter uma explicação mais razoável já que é um ex-governador que deixou essa cidade num estado de vergonha, de abatimento absurdo, desestabilizou completamente a cidade, fez uma política completamente não convencional, de destruição da estrutura do Estado. Ele não só destruiu o Executivo e foi preso, mas envolveu também a Câmara Legislativa e o Ministério Público. Evidente que isso faz com que também as pessoas desacreditem da política.

Mas por que será que, ainda assim, ele lidera as pesquisas?

Não sei. Acho que faz parte de um ambiente da política de muito descrédito e [a população] se acostuma também com certas características de arroubos, de factoides, de mentiras, de coisas inescrupulosas. É claro que isso é apenas um percentual. Eu acho que ele não ganha eleição em hipótese alguma nessa cidade, porque seria a destruição da cidade. Levei um ano e meio para botar a casa em dia, para elaborar as políticas públicas e agora estou executando.

E como explicar a alta rejeição contra o sr. [segundo a última pesquisa Datafolha, 48% dos eleitores não votariam em Agnelo de jeito nenhum]?

As coisas boas não são divulgadas, só saem as coisas que precisam ser melhoradas, corrigidas, o que não está bem. Porque se falasse, ele [Arruda] teve esse desastre todo, mas realizou. Aí, eu pergunto: realizou o quê? Pergunta a um cidadão e ele não vai saber dizer o que ele fez. Eu peguei uma realidade de uma cidade absolutamente destruída. Arrumei a cidade, peguei a cidade nas páginas policiais literalmente e, três anos e meio depois, está nas páginas internacionais, elogiada no mundo inteiro pelo principal jornal dos EUA, o "The New York Times".

O sr. entregou cinco UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e vai entregar a sexta agora. Nas pesquisas de opinião, saúde é considerada o setor com o pior desempenho por 42% da população. Que propostas o sr. tem para a área?

Existe uma proposta de um projeto que é o ideal para o Distrito Federal ter 14 UPAs, que é isso que estou perseguindo. Já fiz cinco e, nos próximos dias, entregaremos a sexta. Tem duas em construção, no Gama e em Ceilândia. Serão oito [até o final do ano] e [a construção de] mais quatro UPAs já autorizadas pelo Ministério da Saúde numa parceria com o governo local. Portanto, nesse planejamento dos 14, vamos chegar a 12 UPAs até o começo do próximo ano. Com isso, dá para organizar o sistema de saúde porque os atendimentos de baixa gravidade são atendidos na UPA, o que evita que os prontos-socorros fiquem lotados. A realidade começa a mudar, mas, para completar esse projeto, preciso fazer essas UPAs como um todo. Cada UPA dessa tem 350 funcionários, é um mini-hospital.

Se esse sistema fosse ruim, ninguém vinha para cá, ficava no seu Estado porque ruim por ruim ficava lá seu Estado. [Mas] Vem para cá. Mais da metade do atendimento no Distrito Federal é de vários Estados e não de Estado do Nordeste ou de perto daqui, não. É de São Paulo que vem para cá.

Tem proposta para construir hospitais?

Fiz um projeto para a saúde pública do Distrito Federal. Mudei a política de saúde. Antes, estava toda concentrada em hospitais de pronto-socorro, a tragédia que nós conhecemos. Talvez ninguém lembre mais disso. Nós estamos falando agora se tem o número de UPAs maior ou menor, mas existia uma tragédia humana nessa cidade há quatro anos atrás, um abandono absoluto da saúde pública.

Recuperei tudo isso, fiz investimentos nas partes físicas dos atuais e entreguei 30 centros de saúde reformados, botei 15 mil servidores, equipamentos e agora estou numa outra fase que é ampliar os serviços, como um hospital do câncer.

Na área de transporte, o seu governo entregou uma faixa exclusiva de ônibus, o BRT Sul, e renovou parte da frota de ônibus. Ciclovias foram feitas, embora em alguns pontos estejam desconectadas. Expansão do metrô e construção de um VLT (veículo leve sobre trilhos), no entanto, ficaram de fora. Quais suas propostas para a área?

O sistema público de transporte estava entregue a um grupo pequeno no Distrito Federal. Enfrentei o cartel e fui o primeiro governador que teve coragem de fazer licitação dos ônibus. Renovei a frota em 90%. Todos os ônibus são o que tem de mais avançado no mundo e isso é só uma parte na mudança do sistema.

Além disso, estamos fazendo as vias exclusivas de ônibus, os corredores. Um já entreguei, que é Gama-Santa Maria até o Plano Piloto, que é a maior obra de mobilidade urbana desse país, 43 km de via exclusiva para ônibus. Já comecei a obra do Expresso DF Oeste, que é de Ceilândia até o Plano Piloto. Já lancei a obra que começa nesse ano do Expresso DF Norte, Planaltina-Sobradinho até o Plano Piloto. E também o projeto do Expresso DF do Sudoeste. Estamos ampliando o metrô em seis quilômetros, já fizemos o projeto básico, o executivo, já licitamos, vamos fazer dois quilômetros em Ceilândia, dois em Samambaia e dois na Asa Norte.

Mas qual o porquê da demora?

Quando tem um projeto dessa dimensão, a lei exige, para fazer a obra, um projeto básico e executivo, licitação da obra, licença ambiental e que tenha passado por todos esses órgãos de fiscalização com o Tribunal de Contas etc. Então, até começar uma obra desse tamanho, teve uma preparação [anterior], que é o atendimento à lei do país.

Fiz ainda 440 km ciclovias, que é a maior malha cicloviária desse país hoje. Era a menor do país, hoje é a maior. Fiz também a integração do bilhete único.

O VLT, que é o transporte sobre trilho que tinha um projeto anterior, a Justiça anulou a licitação por corrupção. Refiz o projeto, estou licitando e vou fazer de forma correta e dentro da legalidade.

O sr. prometeu universalizar as vagas nas creches, mas, das 112 prometidas, até agora, segundo a secretaria de Educação, foram entregues apenas 21 e 29 devem estar prontas até o final deste ano. Vai dar tempo?

Um dos objetivos que eu determinei foi justamente dar atenção especial para educação infantil. Em 54 anos de vida [de Brasília], existia apenas uma única creche pública. Uma! Para dizer que não tinha nenhuma. Eu já entreguei 28 creches públicas e estou fazendo neste momento 54 ao todo, mas, até o final do ano, estarão já em construção as 112 creches, suficientes para universalizar o acesso a creche no Distrito Federal.

O seu governo passou por um momento delicado com a prisão de três administradores regionais. Seus adversários dizem que as administrações funcionam como "feudos" dos deputados.

Esse é um governo com absoluta transparência. Fiz uma secretaria de transparência que hoje é modelo para o Brasil. Do nosso portal, dá para acompanhar qualquer área do Distrito Federal. E é um governo em que os órgãos de fiscalização e controle atuam com independência. Sobre esses administradores, foi a polícia do Distrito Federal que fez investigação e, se tiver algum mal feito, será cobrado dos responsáveis e vão responder como estão respondendo. Aqui não se bota nada debaixo do tapete, não se acoberta.

Discorda da crítica de que as administrações regionais são como feudos de deputados, que fazem as suas indicações?

Isso é coisa de adversário, porque os administradores, em numa composição política, são pessoas que participam de uma coligação, de um governo. Isso é democrático e correto. Não tem que se esconder isso ou satanizar os deputados, colocar como se fossem pessoas com defeitos ou que isso fosse uma coisa indigna. Coisa nenhuma. Isso é da política.

Alguns que estão criticando indicaram administradores ou gente na administração e saíram da administração porque foram para a oposição. Não tem nada de feudo coisa nenhuma. As pessoas podem indicar pessoas que são capazes. Se não forem capazes, tiverem falhas, se não derem conta do recado, é o governador que tira e substitui e coloca outra pessoa.

Pretende fazer a regulamentação do processo de participação popular na escolha dos administradores?

Cada vez mais instrumentos de participação popular serão criados para a escolha de administradores. É uma situação complexa porque não pode transformar o DF em município. Portanto, não pode ter eleições semelhantes às municipais, mas criei vários mecanismos de participação da sociedade como os conselhos em várias áreas.

O número de secretarias também é criticado por seus adversários, que prometem reduzi-las à metade e diminuir a quantidade de servidores comissionados. A máquina pública está inchada?

Reduzi 4.000 servidores comissionados. Contratei concursados 33 mil servidores, metade disso para saúde, 6.000 professores, 4.000 policiais em várias áreas do Estado sem concurso há muitos anos. De tal maneira que a organização do Estado e as próprias secretarias são necessidades para responder a determinadas políticas que têm importância, como meio ambiente e a questão da mulher.

A PM do Distrito Federal tem o maior salário do país, mas o sr. enfrentou problemas nessa área ao longo do governo, com Operação Tartaruga e altos índices de criminalidade. Como solucionar isso?

Mudei a política de segurança pública, porque antes era feita com nossos policiais imobilizados, em postinhos, uma tragédia porque não funcionava. Fiz a política com integração das polícias, criei um programa chamado Ação pela Vida, em que as nossas forças de segurança trabalham em conjunto. Com isso, conseguimos reduzir todos os indicadores. A nossa cidade estava, quando recebi a cidade, entre as mais violentas do mundo. Hoje não está mais.

Fiz uma recomposição salarial dos policiais do DF, inclusive resgatando uma reivindicação história dos policiais militares e corpo de bombeiros que é a equiparação com a Polícia Civil. O diagnóstico que você falou foi do jeito que encontrei: uma situação terrível. E, com isso, vem insatisfação dos próprios policiais e a mobilização para melhorar, mas essas conquistas já são realidade e estamos em outras condições para fazer o combate ao crime.

O Estádio Mané Garrincha foi o mais caro do país [GDF diz que foram gastos R$ 1,4 bilhão, mas o Tribunal de Contas estima que custo chegará a R$ 2 bilhões]. Que uso pretende dar a ele?

É o mais moderno do Brasil, ajudou a projetar a nossa cidade no plano internacional. Nós nos apresentamos para o mundo na Copa de forma impecável e o estádio foi uma peça importante. Foi uma arena multiuso que construímos para os próximos cem anos. A Copa foi o fator atrativo porque tinha data, mas precisávamos ter um equipamento multiuso na capital do Brasil que pudesse receber shows, botar Brasília no circuito internacional de shows, de eventos, de esporte. Então, o estádio é um sucesso absoluto. Ele recebeu em um ano 1,3 milhão expectadores, quatro vezes mais do que o estádio antigo tinha recebido em 36 anos de vida.

Pretende fazer uma concessão para a iniciativa privada explorar por certo período?

Construímos uma comissão para discutir justamente a profissionalização da gestão do estádio para mantê-lo em funcionamento o tempo inteiro, continuar atraindo eventos. Mas é um estádio público, do nosso povo, mas a gestão dever ser profissional para ter eficiência. O formato está sendo discutido, se vai ser concessão, se vai ser PPP (Parceria Público-Privada), mas o objetivo é profissionalizar a gestão.

Discorda, então, que seja um elefante branco?

Não só discordo como a vida discorda disso. Se elefante branco é ter uma média de público que teve aqui. Se elefante branco é trazer recursos e emprego como está gerando na cidade. Se elefante branco é ter um equipamento que é elogiado e motivo de visitação, então não sei o que é elefante branco. O ideal é falar em elefante dourado porque é um elefante que traz muitas oportunidades, orgulho para todos os cidadãos do Distrito Federal. 

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