Identificação de DNA de corpos pode levar até três dias; entenda o processo

Marcelo Freire

Do UOL, em São Paulo

A identificação do DNA de vítimas de acidente aéreo é um processo complexo que pode demorar de dois a três dias a partir do fim das buscas, de acordo com a biotecnóloga Gabriela Hirschfeld Campolongo.

Ouvida pelo UOL nesta quinta-feira (14), Gabriela -- que ajudou a implantar uma rede nacional de laboratórios de DNA, tanto para as polícias científicas dos Estados quanto para a Polícia Federal nos últimos dez anos--, detalhou os procedimentos dos médicos legistas na identificação de vítimas, como os sete passageiros do avião que caiu em Santos (SP), na quarta (13), e matou o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos.

Para acelerar a identificação, o IML (Instituto Médico Legal) esvaziou sua unidade central, próxima à estação Clínicas do metrô de São Paulo, para tratar exclusivamente do acidente que matou o candidato Eduardo Campos, seus assessores Carlos Augusto Leal Filho e Pedro Valadares Neto, o fotógrafo Alexandre Severo Gomes, o cinegrafista Marcelo Lyra e os pilotos Marcos Martins e Geraldo da Cunha. Cerca de 50 peritos do IML e do IC (Instituto de Criminalística), além de quatro da Polícia Federal, trabalham no caso.

Procedimento começa na varredura do local

A primeira etapa, iniciada logo após a queda, é a varredura no local e a busca por todos os fragmentos dos corpos, que são enviados ao IML. Ainda nesta primeira fase, os peritos unem esses fragmentos para separar os corpos entre si.

Depois, todos os fragmentos começam a ter seu DNA extraído e mapeado. Esse é o procedimento mais demorado de todo o processo. Um software de nome Codis é fundamental para a identificação e, posteriormente, para a comparação com o DNA dos familiares das vítimas.

Dependendo do estado em que é encontrado, um fragmento pode demorar de oito a 12 horas para ter seu DNA mapeado; no caso específico de um osso, por exemplo, essa identificação pode levar até três dias. Com a tecnologia do IML paulista, segundo a especialista, cerca de 100 amostras - uma para cada fragmento - podem ser analisadas ao mesmo tempo.

"A tecnologia no laboratório permite o processamento de um número grande de amostras. O demorado mesmo é o processo de extração", diz Gabriela, explicando que, após essa fase, o mapeamento do DNA demora cerca de quatro horas.

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Amostras vêm de músculos, ossos ou cartilagens

As amostras são extraídas a partir de músculos, ossos ou cartilagens da vítima, que são colocados em uma solução, em alta temperatura. O DNA fica isolado e é logo colocado em outras substâncias para poder ser identificado, com a ajuda do software, e permitir a distinção entre os corpos.

"Depois disso, a comparação do DNA desses fragmentos com a dos parentes é muito mais rápida, cerca de duas horas", conta.

Acidente com voo JJ3054 demandou identificação de 3.500 amostras

A especialista comparou o acidente da última quarta-feira com outro desastre aéreo que demandou um esforço muito maior dos serviços de identificação -- a queda de um Airbus da TAM em 2007, no aeroporto de Congonhas. O acidente do voo JJ3054, que vitimou 199 pessoas, gerou uma força-tarefa das polícias de São Paulo para agilizar a identificação dos corpos.

No caso do acidente da última quarta-feira, as circunstâncias são diferentes, assim como o número de vítimas. O processo de recolhimento e identificação do DNA, no entanto, segue os padrões da medicina legal. "Todo o procedimento demora porque eles têm que trabalhar com todos os fragmentos de restos mortais", explica Gabriela.

Cerca de 3.500 amostras foram analisadas para a identificação das vítimas do voo JJ3054, em 2007, em um trabalho que levou quase dois meses. Gabriela, no entanto, volta a ressaltar a diferença entre o acidente da TAM e o desta quarta-feira e evita fazer estimativas sobre o trabalho dos peritos no IML.

"Na queda em Congonhas, a explosão e o número de vítimas foi maior, o impacto foi diferente e a fragmentação, muito grande. É complicado estimar [sobre o acidente em Santos]. Outros fatores, como a posição da pessoa no momento da queda - se ela ficou próxima à explosão, por exemplo -, também influenciam", aponta.

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