Governanta diz que escreveu poema sobre morte antes de acidente com Campos

Carlos Madeiro

Do UOL, no Recife

  • Beto Macário/UOL

    A governanta do Palácio do Campo das Princesas, Vitória Maria da Silva

    A governanta do Palácio do Campo das Princesas, Vitória Maria da Silva

Precisamente às 10h da quarta-feira (13), a governanta do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do Pernambuco, Vitória Maria da Silva, 75, teve vontade escrever um texto. A colegas, pediu uma folha de um bloco e escreveu um poema chamado "a corrida da vida". Em poucas linhas, ela falava sobre a correria diária e terminou dizendo "o seu último suspiro".

No mesmo momento em que teve vontade de escrever --algo raríssimo, de acordo com ela-- seu "segundo filho", o ex-governador Eduardo Campos (PSB), estava a bordo do jato que saiu do Rio de Janeiro, prestes a cair em Santos e matar os sete integrantes do voo.

"Não sei por que, mas tive vontade de escrever, coisa que nunca faço. Procurei então um bloco, peguei uma caneta com bico quebrado e saiu o texto. Na hora não sabia o que era, só me veio uma intuição. Não lembrei nem de Eduardo", disse.

Governanta lê poema escrito antes da mortes de Campos

Pouco depois, recebeu um telefone da nora falando do acidente. "Liguei a TV e vi a notícia. Fiquei muito triste. Não sou de chorar, mas chorei um pouco, não aguentei. Foi muito triste", disse.

Dona Vitória trabalha com governadores desde 1978. Lembra que, sob seus cuidados, passaram-se seis governadores em nove gestões, sendo dois mandatos de Campos e dois do avô dele, Miguel Arraes (1906-2005). "Eduardo era muito simpático, brincalhão. Não tratava ninguém com distinção, sempre cumprimentava todos os funcionários. Ele foi o mais simpático que já passou por aqui. Superou o avô", afirmou.

O carinho pelo então governador, conta dona Vitória, a fez o tratar e amar como um filho. "Tenho um filho só, que é professor. Mas gostava demais de Eduardo. Era como um segundo filho. Ele sempre dizia que eu iria morar com ele para cuidar da casa em Brasília", afirmou.

Ao UOL, dona Vitória mostrou a residência oficial do governo, dizendo cada lugar que Eduardo gostava. Ela lembra de, já no primeiro dia de mandato, dizer a ele que sairia do governo estadual para a Presidência. "Disse a ele de coração, porque sabia que ele era talentoso. Ele realmente saiu daqui para ser presidente, e ia ser", contou.

A governanta mora em Abreu e Lima, na região metropolitana do Recife, e leva cerca de duas horas para chegar ao Palácio do Campo das Princesas, no centro do Recife. "Hoje o trajeto foi bem difícil, mais comprido", relatou, sem esconder a emoção.

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