No DF, Toninho do PSOL promete médicos de família em casa e PM 'humanizada'

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

Com a promessa de colocar médicos de família para solucionar a saúde, principal reclamação da população, e ter uma polícia voltada para os direitos humanos, o servidor público aposentado Antonio Carlos de Andrade, conhecido como Toninho do PSOL, tenta pela terceira vez se sentar no gabinete de governador do Distrito Federal.

Nas eleições de 2010, ele obteve expressivos 199 mil votos (ou 14,5%) e ficou em terceiro lugar --desempenho relevante para o seu partido, criado em 2005 de uma dissidência do PT. Foi a melhor votação obtida por um candidato do PSOL em todo o país naquele ano. Otimista, ele espera ter um desempenho ainda melhor desta vez e chegar ao segundo turno--seu partido se aliou ao PSTU e ao PCB, o que lhe rendeu mais tempo de rádio e TV, 1 minuto e 11 segundos. Toninho também foi candidato ao Palácio do Buriti em 2006.

"Há um fenômeno muito interessante ocorrendo em relação à minha candidatura. Eu me tornei um candidato mais conhecido no DF em todas as cidades e em todas as classes sociais."

Mineiro de Barão de Monte Alto, o candidato de 61 anos assume uma postura contundente contra seus principais adversários: não poupa críticas à gestão do atual governador, Agnelo Queiroz (PT), e contesta na Justiça eleitoral a candidatura do ex-governador José Roberto Arruda (PR).

Confira abaixo os principais trechos da sua entrevista em relação às suas propostas de governo:
 

UOL - Qual é o principal desafio hoje no DF?

Toninho - A principal demanda, unanimidade, é que a saúde pública vai muito mal. Portanto, do nosso ponto de vista, o PSOL tem uma proposta para mudar a filosofia de atendimento na saúde. Para nós, o fundamental é voltar com um programa que já foi vitorioso no DF, quando a [ex] deputada [federal, pelo PSOL, Maria José] Maninha [que é mulher de Toninho] foi secretária de saúde [de 1997 a 1998], que é o programa Saúde em Casa, em que as equipes de profissionais, com médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, agentes e técnicos de saúde faziam o atendimento em domicílio. É um modelo consagrado, barato e com alta capacidade de resolução, impedindo, com isso, a superlotação dos hospitais e das unidades de saúde.

Em quanto tempo isso poderia ser colocado em prática?

Depende, principalmente, do concurso público para montar as equipes. A minha previsão é que tenhamos no primeiro ano pelo menos mil equipes multidisciplinares fazendo esse tipo de atendimento. Prevejo um prazo de um ano para que este modelo esteja plenamente implantado no DF, mudando completamente essa lógica de hospitais lotados, com atendimento precário. Também defendo que as UPAs [Unidades de Pronto Atendimento] possam se incorporar ao sistema de atenção primária como postos de saúde.

Em relação à segurança pública, quais são suas propostas?

Esse também é um dos problemas mais sérios e delicados do DF. Temos unidades da Secretaria de Segurança que não se comunicam. Ao contrário, quase sempre estão em conflito, como no caso ocorrido recentemente em que uma guarnição da Polícia Militar levou um detido à delegacia de polícia e teve que liberá-lo porque os policiais civis de plantão não aceitaram fazer a ocorrência.

A nossa concepção de segurança voltada para a cidadania é termos a plena observância dos direitos humanos. Policial militar tem que passar por reciclagem constante, porque dar segurança pública não é vestir os policiais de preto, armá-los até os dentes e soltá-los nas ruas para literalmente impressionar e fazer certo terrorismo contra a população. Defendo também uma abordagem preventiva e reativar esse modelo que já funcionou no DF das duplas de "Cosme e Damião".

Concorda com a política de alguns Estados, como São Paulo, de pagar bônus aos policiais que cumprirem metas?

Não, eu não concordo com essa tese e, para mim, a Polícia Militar de São Paulo não é um bom exemplo de polícia-cidadã. Sinceramente, esse modelo de bonificar não gostaria de aplicar aqui por aquilo que um policial já é pago para fazer. Esse é um modelo que só incentiva maior violência por parte da corporação na abordagem ao nosso povo.

Quais são as suas propostas para mobilidade urbana?

Investir muito pesado no transporte metroviário e ferroviário. Defendo, imediatamente, estender o metrô até o final da Asa Norte [bairro de Brasília]. Dali, faremos uma ligação ferroviária até Planaltina e quem sabe até Formosa. Nos quatro anos de governo, é possível fazer isso, tem recursos tanto no Orçamento do Distrito Federal quanto em órgãos federais que financiam esse tipo de obra. Também tenho como estratégico reativar o trem de passageiros entre Luziânia e a Rodoferroviária, aqui no DF, que alcança toda a população do entorno Sul.

E [quero fazer] uma campanha permanente para ver se muda uma cultura muito perversa do DF, onde há um motorista para cada automóvel. Hoje, segundo dados da Associação Comercial do DF, são emplacados, por mês, cerca de 12 mil veículos. Nesse ritmo, daqui a cinco anos, teremos megaengarrafamentos. É uma situação caótica tanto para o transporte público urbano quanto para o transporte individual. Então, temos que estimular o uso do transporte coletivo, com oferta de transporte de boa qualidade.

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Qual uso pretende dar ao estádio Mané Garrincha?

Sou radicalmente contra a privatização ou qualquer nome que se dê, mas que passe a administração do estádio para a iniciativa privada. O Estado brasileiro, tanto através de verbas federais quanto por verbas do próprio GDF, está investindo cerca de R$ 2 bilhões [valor contestado pelo governo do DF] para concluir essa obra e, obviamente, não vou botar isso de graça na mão da iniciativa privada.

Então, do meu ponto de vista, aquele parque esportivo, não só o estádio, mas também as piscinas que compõem o complexo do Mané Garrincha, deve ter uma destinação, principalmente, aos jovens e crianças do Distrito Federal. Os seus anéis internos e seus espaços podem, perfeitamente, serem transformados em salas de aula.

Além disso, considerando que temos as principais torcidas dos clubes nacionais, eu não pensaria duas vezes, em acordo com a CBF [Confederação Brasileira de Futebol] ou diretamente com os clubes, em trazer partidas para o Distrito Federal.

Como vê a mudança da sede do governo do Palácio do Buriti para Taguatinga?

Esse é um tema complexo. Acho um erro estratégico porque o centro da capital, a sede do governo é a área tombada do Distrito Federal, é o Plano Piloto, sempre foi. Temos o Palácio do Buriti, o anexo e uma área para construir o anexo 2, que abrigaria tranquilamente todas as secretarias a um custo infinitamente menor do que essa obra, que, aliás, é da iniciativa privada, que está construindo e num convênio com o DF vai receber durante 30 ou 50 anos [segundo o GDF, são 22 anos] pelo uso desses prédios destinados à administração pública.

O problema não é a construção em Taguatinga, que poderia abrigar uma excelente sede da administração regional de Taguatinga. Imagino quando um cidadão de Planaltina ou do Paranoá precisar resolver um problema terá que pegar uma EPTG [Estrada Parque Taguatinga Guará] superentupida ou a Via Épia para chegar até Taguatinga. Vai ser um transtorno muito grande.

Um dos argumentos é levar desenvolvimento à região, além de beneficiar servidores que moram na região e vêm ao Plano Piloto apenas a trabalho. É contrário a esse argumento?

Não sou contrário. Para os servidores públicos, obviamente, que moram na Ceilândia ou Taguatinga, considero um argumento lógico. Agora, do total de servidores públicos do DF, aproximadamente 156 mil servidores ativos da administração direta e das fundações, os servidores dessas duas cidades, somados, não chegam a 20%. Então, o argumento não se sustenta por esse lado e o mais absurdo de tudo, na minha opinião, é de fato o custo da obra.

O sr. tem um teto para servidores comissionados?

Hoje, fala-se que são 25 mil cargos comissionados. Acho um absurdo, tem que reduzir esse número drasticamente e, além disso, como servidor público de carreira que sou, valorizo a função pública, quero substituir sempre que possível o concursado ao comissionado. O comissionado custa caro, não tem estabilidade e, muitas vezes, está ali para cumprir determinações de quem o indicou, normalmente, um deputado ou alguém influente que vai lá e indica o cara. Precisa mudar esse tipo de tradição.

Tem uma meta?

Não tenho uma meta estabelecida, tenho a decisão de reduzir drasticamente, ficando só com o número necessário ao funcionamento. Entrando no governo, eu posso dizer que estarão exonerados no primeiro dia todos os 25 mil cargos comissionados.

Todos?

Todos, de uma só vez.

E como fará no primeiro ano?

Os administradores, secretários, presidentes e diretores de empresas vão ter que vir até o gabinete do governador e apresentar a sua planilha: "Preciso de 'x' cargos comissionados". Uma comissão técnica, com transparência absoluta e acompanhamento da imprensa e dos órgãos de classe, vai analisar. O funcionamento normal da instituição do Estado é feita com servidores de carreira.

Hoje, o GDF tem 38 secretarias. Pretende reduzir esse número?

É muito. É muita administração regional, são muitas secretarias. Eu tenho uma dificuldade [em dizer para quanto reduziria], falo com franqueza. Enquanto não sentar e não conhecer de perto a estrutura, porque nem tudo que está no portal da transparência corresponde à realidade.

Como solucionar a questão da coleta seletiva no Distrito Federal?

Houve um avanço na coleta seletiva no DF, principalmente no Plano Piloto e no Lago. Nas demais cidades, infelizmente, ainda não foi implantada devidamente. E é um avanço muito tímido porque, onde é feita a coleta seletiva, depois que os caminhões recolhem os resíduos separados, eles são jogados no lixão junto com o orgânico. Há um erro de planejamento na operação e isso é uma questão de saúde pública e precisamos investir pesado na coleta seletiva, além de proporcionar renda aos trabalhadores que vivem da separação e destinação dos resíduos nos aterros sanitários.

Já venceu o prazo estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos para a desativação de lixões como o da Estrutural, um dos maiores do país, localizado a 15 km de Brasília. Um aterro sanitário é construído em Samambaia, a 25 km de Brasília, mas o projeto não é unanimidade. O que acha da situação?

Escolheram um local para implantar o novo aterro em Samambaia, numa área muito frágil do ponto de vista ecológico. Então, é importante ouvir os diversos órgãos especializados nessa área, principalmente a população, porque há uma desconfiança do povo de que o novo aterro traga sérios prejuízos ambientais, além de impactar a qualidade de vida na região. Se eleito, gostaria de sentar com a população, com os órgãos técnicos e com as entidades que lidam com essa temática para encontrarmos uma solução duradoura, definitiva e que não cause prejuízo ao ambiente.

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