Especialistas mostram como o eleitor pode "contratar" seu melhor candidato

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

  • Fernando Bizerra Jr/Efe/Arquivo

    Em 5 de outubro, eleitor vai escolher os novos administradores do país

    Em 5 de outubro, eleitor vai escolher os novos administradores do país

A partir da próxima terça-feira (19), com o início do horário eleitoral, o brasileiro começa uma das etapas cruciais da escolha dos administradores da máquina pública para os próximos quatro anos.

Para auxiliar o eleitor a analisar os candidatos, o UOL conversou com recrutadores e especialistas na área de seleção de profissionais para empresas. São gestores de recursos humanos e headhunters, que estão acostumados a encontrar o melhor profissional para vagas em aberto.

Essa é uma tarefa que será tomada por cerca de 142,4 milhões de pessoas --o número de brasileiros aptos a votar em 2014, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral)-- terão no dia 5 de outubro, "contratando" pessoas para cinco posições: deputado estadual, governador, senador, deputado federal e presidente.

Especialistas citam 6 pontos para ajudar a escolher o candidato ideal
  • 1
    Entender as características da posição para a qual se recruta
    "O que faz, a quem atende, quais são os seus objetivos e metas"
  • 2
    Compreender o contexto em que se vive
    "Precisa-se pensar em qual momento da empresa ou do Brasil se vive, e considerar qual prioridade se quer"
  • 3
    Avaliar aspectos e competências que seriam interessantes --mas não excludentes-- da candidatura
    "Buscamos o equilíbrio entre conhecimento técnico (no caso, conhecer administração publica, finanças) e capacidade para implementar (governar)"
  • 4
    Análise de entrevistas com os candidatos
    "Temos o privilégio de entrevistar por poucas horas os candidatos para julgar se são, de fato, candidatos"
  • 5
    Busca por referências do candidato finalista
    "Na internet, você tem muito informação e vários meios para se chegar a uma conclusão"
  • 6
    Pesquisa detalhada do passado dos candidatos
    "Buscamos quaisquer problemas éticos que possam afetar na execução do trabalho ou na imagem da empresa (o país, no caso)"
Fonte: Carlos Strougo, da Kadan Headhunters; Ricardo Du Pain, da consultoria People Assets; Dante Mantovani, consultor em Desenvolvimento Organizacional; Sandra Loureiro, orientadora profissional e de carreiras; e Leonardo Trevisan, professor de Economia da PUC

Para os especialistas, o ideal é que o eleitor procure detalhes sobre os políticos da mesma maneira como uma empresa faz: por pesquisa.

"Fale com pessoas, olhe a internet, sites de reclamação. Use todos os meios para chegar a uma conclusão", comenta a orientadora profissional e de carreiras Sandra Loureiro, também professora de Administração na PUC (Pontíficia Universidade Católica) de São Paulo.

No dia a dia, ao analisar o currículo de um candidato, o recrutador leva em consideração a experiência do profissional, as técnicas utilizadas por ele para exercer a função, e sua capacidade de aplicar o conhecimento adquirido na prática, como explica Sandra. "Sem informação, você não consegue saber quem é o candidato", comenta.

Acostumado a ajudar grandes companhias a escolher seus diretores, o headhunter Carlos Strougo, da consultoria Kadan, diz que o principal é entender o objetivo da função para a qual se está contratando. "O que faz, a quem atende, quais são os seus objetivos e metas", considera Strougo, qua aponta a análise do cenário nacional como outro fator importante.

"Vamos pensar o Brasil como um todo: sua geografia, sua história social, política e econômica, quais os caminhos que está percorrendo no momento, e em que contexto no mundo o país está inserido". 

Por fim, cabe ao eleitor acompanhar os debates e a "evolução do desempenho de cada candidato durante a campanha". "E ir confrontando com suas análises anteriores", conclui Strougo.

O headhunter Ricardo Du Pain, da consultoria People Assets, é contra a busca pela perfeição: "Não se busca o candidato 'perfeito', mas sim aquele que atende às expectativas dentro de um horizonte de alguns anos, exatamente como numa eleição", explica. "Nossa orientação a nossos clientes foca no entendimento dos pontos fortes e dos pontos de melhoria".

Essa análise leva cada eleitor a optar pela candidatura que melhor responde a seus anseios, observa o consultor em Educação Corporativa e Desenvolvimento Organizacional e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Dante Mantovani.

"Alguns [eleitores] dizem que querem mudanças, o que já é um começo, mas precisa saber para onde querem que a 'nau Brasil' rume. Qual marca o governo deve deixar? Em uma empresa, a prioridade pode ser crescer, ou melhorar a margem, ou inovar produtos, ou cuidar do cliente. E cada um desses objetivos terá um profissional que melhor se encaixa".

Melhores resultados

Uma diferença entre o processo de seleção para uma empresa e o que o eleitor terá de fazer em outubro é que, nas instituições privadas, a busca é pelo lucro e na gestão pública, pela otimização de resultados, como afirma o professor de Economia da PUC paulistana Leonardo Trevisan.

"O Estado não gera recursos, ele administra os recursos que a sociedade cria", pontua. "[O administrador público] precisa distribuir bem o recurso que é de todos, tem que estar preocupado com quem precisa mais, conseguir, com menos recursos, ter mais pessoas atendidas [pela verba], ampliar o alcance dela".

No caso de cargos executivos, como os de presidente e governador, os especialistas apontam algumas características que também precisam ser observadas.

"Geralmente, buscamos nos presidentes o equilíbrio entre conhecimento técnico --no caso, conhecer administração publica, finanças--, além de capacidade para implementar --governar--, de montar time --gabinetes, ministérios, cargos de confiança-- e fazer alianças para aprovar projetos --no caso, alianças com outros partidos para aprovação de projetos de lei--", diz Du Pain.

Mantovani, porém, vê um lado se sobressaindo. "Conta mais a habilidade política, já que, na maior parte do tempo, um presidente se envolve com pessoas: compor equipes, ganhar aliados, influenciar opositores, entender as aspirações da população, negociar acordos".

"Não precisa ser economista para ter resultados na área econômica nem ambientalista para ter resultados na área ambiental. O presidente precisa saber como se cercar de quem tem as competências que ele precisa e fazer a equipe funcionar como um relógio", afirma Mantovani.

Entrevista com candidato é "indireta", mas eleitor deve fazê-la

Uma etapa importante do processo de seleção de profissionais nas empresas é a entrevista, algo que dificilmente o eleitor conseguirá fazer de maneira direta.

Nesse caso, Sandra Loureiro orienta especificamente os políticos, sugerindo que eles criem canais de comunicação com o eleitor, os quais podem permitir a troca de ideias. "Você consegue ver muito mais do candidato quando tem um debate aberto, quando você pode perceber possíveis incoerências".

Mantovani considera importante que o eleitor saiba qual marca um candidato quer deixar em sua gestão.

"Ela pode ser traduzida em uma frase, também chamada de 'missão': aumentar o crescimento econômico, elevar a qualidade da educação a níveis internacionais, ser referência mundial em questões ambientais, cuidar do social", pontua. "Agora, não é realista querer todos os objetivos ao mesmo tempo. É necessário fazer escolhas".

Caso o eleitor, após ter feito a análise do histórico dos candidatos, fique em dúvida sobre qual pessoa escolher, os especialistas sugerem que o desempate para a tomada de decisão seja feito com base nos quesitos comportamentais do candidato.

"Esse processo de escolha é subjetivo, mas, com um trabalho cuidadoso de pesquisa, as chances de acerto são muito maiores", comenta Du Pain.

Assim, o cidadão deverá considerar os valores apresentados pelo político com os quais mais se identifica. A orientadora Sandra expõe que esses pontos são conhecidos levando em consideração os exemplos citados pelos políticos, observando ações de ética e justiça social.

Seguir essas orientações pode mudar o cenário de administradores públicos que desagradam os brasileiros, seja na esfera municipal, estadual ou nacional.

"O eleitor não tem funcionado como um bom headhunter; aí o fato de termos maus gestores", observa Trevisan. "O importante é ter consciência de que o voto é importante", comenta Sandra, com quem Strougo concorda. "Não estamos escolhendo um time para torcer, mas quem vai dirigir o país em que vivemos".

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