Principais candidatos ignoram convite, e só nanicos debatem maconha na USP

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

Aconteceu na noite da última terça-feira (5), na Faculdade de Direito da USP, um debate entre presidenciáveis da República sobre legalização e regulamentação do uso e da produção da maconha. A organização foi feita pela Associação Cultural Canábica de São Paulo (ACuCa), que contou com o apoio do centro acadêmico da faculdade, o XI de Agosto.

Foram convidados todos os candidatos à Presidência da República, mas nenhum dos principais postulantes esteve presente. Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Pastor Everaldo (PSC) sequer responderam ao convite, de acordo com Fernando da Silva, presidente da ACuCa.

Luciana Genro (PSOL) e Mauro Iasi (PCB) alegaram problemas de agenda e também não foram. O próprio Centro Acadêmico XI de Agosto, que apoiou e recebeu o evento na Sala dos Estudantes da faculdade, não enviou qualquer representante para participar da da mesa de discussão.

Coube, então, a cerca de 50 pessoas na plateia, ao presidente da ACuCa e a dois candidatos a presidente e uma candidata a vice que, juntos, não somam 3% das intenções de voto, colocarem o tema em debate. Mas, sobre o tema em si, a legalização e a regulamentação do uso, produção e distribuição da maconha, quase não houve debate.

Todos concordaram que o uso da droga deve ser legalizado e que sua produção e distribuição devem ser descriminalizadas e regulamentadas, conforme deixaram claro em suas considerações iniciais. 

Candidatos chegam a pedir estatização da produção de maconha, tabaco e álcool

"A guerra contra as drogas é uma guerra contra os pobres. Temos que legalizar o uso e estatizar a produção de maconha, e não só de maconha, mas também de álcool e de tabaco", disse Claudia Durans, candidata a vice-presidente pelo PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado).

"A legalização da maconha é uma bandeira histórica do nosso partido, e a política atual de combate às drogas é um fracasso", disse Eduardo Jorge, candidato do PV.

"A legalização da maconha e das outras drogas é um 'assunto órfão' em qualquer debate eleitoral. Os candidatos não querem se expor, e o tema fica relegado ao obscurantismo. Nós somos a favor da legalização do uso de todas as drogas", disse Rui Costa Pimenta, do PCO.  

Concordância inicial não levou ao debate real sobre a maconha

Assim, iniciando o debate a partir de um consenso geral, os eventuais benefícios e malefícios da liberação do consumo e da produção da maconha não foram debatidos. Restou aos presidenciáveis tangenciar o tema, expondo divergências em questões algo relacionadas ao assunto proposto.

Eduardo Jorge, por exemplo, disse que discorda de Claudia Durans em relação à estatização da produção da droga. Melhor seria que os próprios consumidores fossem autorizados a cultivar a planta de maconha, em cooperativas ou de forma individual.

Já Rui Costa Pimenta se disse favorável à liberação do uso e comercialização de todas as drogas, no que discordava de Eduardo Jorge, que afirmou ser favorável à liberação de todas as drogas, menos do crack, que seria "um monstro criado pela proibição do uso e comércio da cocaína".

Claudia Durans, por sua vez, deixou claro que diverge de Pimenta sobre o que deveria ser feito, após uma eventual descriminalização do comércio da droga, com traficantes já condenados e presos. O candidato do PCO entende que deveriam ser postos em liberdade, enquanto Claudia pensa que aqueles que comandam o tráfico e fazem uso dos pobres para vender seus produtos deveriam continuar na cadeia. 

Representante da Marcha da Maconha tenta, mas não consegue compromisso dos candidatos

Quando o debate foi aberto às perguntas da plateia, um representante da entidade que organiza a Marcha da Maconha indagou aos candidatos sobre a razão de seus partidos serem tão pouco atuantes em relação ao tema, e se tinham posições tão definidas sobre a questão, qual seria o motivo para não expô-las de maneira mais enfática no dia-a-dia da vida partidária. 

Eduardo Jorge fez um mea culpa e disse que chamaria a atenção do partido sobre o tema, muito embora gostaria de recomendar a todos que não usassem drogas, nenhuma droga, ainda que defenda o direito de todos de fazer uso da substância que quisessem (menos o crack).

Rui Costa Pimenta rechaçou a crítica e disse que seu partido é atuante na luta pela liberação das drogas, muito embora tanto ele quanto o PCO, "por motivos de ideologia e doutrina partidária", desaconselhem o uso de qualquer substância psicoativa. Os motivos ideológicos e doutrinários não foram expostos.

Já Claudia Durans afirmou que a crítica de não envolvimento com o tema não pode ser feita ao PSTU, que inclusive possui membros que participam da organização da Marcha da Maconha em vários Estados do Brasil, mas que a questão fundamental é mesmo a estatização dos meios de produção de todas as drogas, principalmente daquelas que são legalizadas, para que empresas capitalistas deixem de lucrar com o negócio.

Por fim, Fernando da Silva, que se apresenta publicamente como Profeta Verde, encerrou o debate pedindo uma salva de palmas a todos os participantes, por terem a ousadia de colocar em pauta um tema que é relevante não só para os 1,5 milhão de usuários brasileiros, mas também para as milhares de pessoas que estão presas por crimes "inventados pela proibição" ou que simplesmente são defensores das liberdades individuais.

"E quero dizer aos candidatos que ignoraram nosso convite, sem aceitar nem recusar, que este é um tema importante e que deve ser encarado. O convite ao debate continua aberto". 

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