PT expulsa Luiz Moura, mas mantém irmão também suspeito de ligação com PCC

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

  • Arte/UOL/Folhapress

    O vereador Senival Moura (à esq.) e o deputado Luiz Moura

    O vereador Senival Moura (à esq.) e o deputado Luiz Moura

Apesar de expulsar o deputado estadual Luiz Moura, suspeito de envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital), a Executiva paulista do PT não irá, ao menos por ora, iniciar qualquer processo de apuração da conduta do vereador e candidato a deputado federal Senival Moura, irmão de Luiz, também investigado pelo Ministério Público (MP) por suposta ligação com a facção criminosa.

Unânime, a decisão de expulsar Luiz Moura do partido foi tomada nesta quinta-feira (31) pelos 16 integrantes da executiva estadual. Amanhã (1º), os membros do diretório estadual da sigla farão votação para confirmar ou reverter a decisão --o que é pouco provável. Caso a expulsão seja mantida, o deputado promete acionar a Justiça para poder disputar as eleições.

Luiz Moura foi expulso pela executiva por ter participado, em março deste ano, de uma reunião em que estiveram presentes ao menos 13 integrantes do PCC, segundo a Polícia Civil. O encontro ocorreu na sede da cooperativa de transporte ligada ao deputado, localizada na região de Itaquera, zona leste da capital.

Após a reunião da executiva, o presidente estadual do PT, Emídio de Souza, afirmou que o PT não precisa esperar "fatos policiais ou conclusão de inquéritos" para expulsar Luiz Moura. Para justificar a decisão, ele também citou o pedido de investigação contra o deputado feito pelo procurador-geral do Estado, Márcio Elias Rosa, ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

Questionado pela reportagem do UOL sobre a razão de não haver nenhum procedimento do partido contra Senival, já que ele também investigado pelo MP, Emídio afirmou: "Não tem nada a ver uma coisa com outra. Senival é sócio de uma cooperativa. Não há elementos contra ele. O Luiz Moura foi acusado de participar de uma reunião com o PCC".

O deputado afirma que a executiva "não lhe deu direito de defesa" e que desrespeitou o estatuto e a lei orgânica do partido. "Eu já sabia que seria expulso. Até por isso não fui na reunião da executiva para me defender. Como vou na reunião já sabendo que vão me expulsar?", questionou Moura, em entrevista por telefone.

Senival afirmou que não irá se manifestar sobre as suspeitas por não ter sido comunicado sobre as investigações do MP. O vereador disse que não tem ligações com as empresas investigadas. "A relação que eu tenho com elas é de divergência profissional."

Sobre a situação do irmão, Senival considera que ele é "vítima de perseguição política" por parte da executiva do PT. O vereador disse não acreditar que as suspeitas contra ambos irá atrapalhar a campanha eleitoral. "A única coisa que afeta a campanha são os eleitores. Eu tenho uma história de militância."

Reunião com PCC

O parlamentar nega ter relações com a facção e afirma que a reunião foi organizada por motoristas e cobradores para tratar de uma greve.

O deputado diz que foi ao encontro como representante do Legislativo e seu objetivo era convencer os presentes a não paralisar as atividades para não prejudicar a população. Ele afirma ainda que não sabia da presença de integrantes do PCC.

Após o episódio vir à tona, o PT decidiu suspender Luiz Moura por 60 dias para que ele pudesse fazer sua defesa. O partido vetou o registro da candidatura do deputado, mas o parlamentar conseguiu no Tribunal de Justiça o direito de disputar as eleições.

Investigações

Luiz, Senival e representantes de cinco empresas de transporte da capital são citados em investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) --órgão do Ministério Público-- que apura esquemas de lavagem de dinheiro ao PCC por meio de cooperativas de transporte.

Por ser deputado, Luiz tem prerrogativa de foro, ou seja, só pode ser investigado pelo chefe do Ministério Público, o procurador-geral, Márcio Elias Rosa. A investigação precisa ser autorizada pelo TJ-SP, que ainda não tomou decisão.

A suspeita do MP é que o deputado tenha cometido sete crimes: organização criminosa, extorsão, constrangimento ilegal, apropriação indébita, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e abuso de autoridade. Já Senival é alvo de investigação por suspeita de formação de quadrilha e corrupção.

As investigações do MP começaram em 2010, após denúncia de que o Consórcio Leste 4, grupo contratado pela Prefeitura de São Paulo para operar linhas de ônibus, era formado por três empresas cujos sócios estariam lavando dinheiro do crime. Inicialmente, sete pessoas foram denunciadas.

Em 2010, Moura era um dos sócios da Happy Play, uma das integrantes do consórcio (as outras eram a Himalaia e a Novo Horizonte), suspeita de ser uma "empresa fantasma" para lavar dinheiro, já que não tinha nenhum veículo, nem garagem própria e mesmo assim recebia repasses milionários do consórcio.

Em duas sedes da Happy Play funcionavam um açougue e um escritório da Transcooper, cooperativa de transporte que tinha os dois irmãos Moura como sócios.
A empresa chegou a ter capital de R$ 20 milhões, divididos por cinco sócios, entre eles Luiz Moura. Segundo a investigação do MP,

Ao analisar a movimentação financeira dos investigados, os promotores descobriram casas sendo compradas à vista, perueiros com patrimônio superior a R$ 22 milhões e motoristas com seguros de vida superiores a R$ 1 milhão.

Patrimônio

Na década de 90, Luiz Moura foi condenado a 12 anos de prisão por roubo. Ele chegou a ficar preso por mais de um ano, mas fugiu da cadeia e permaneceu foragido por mais de uma década, até a Justiça lhe conceder reabilitação criminal.

Neste ano, o deputado declarou à Justiça Eleitoral possuir três imóveis e quatro postos de gasolina, totalizando um patrimônio de R$ 1 milhão. "Sempre trabalhei muito. Desde os sete anos de idade. Já fui dono de quitanda, padaria. É uma vida de trabalho. É fruto de anos de luta."

Já Senival declarou patrimônio de R$ 1,5 milhão –em 2008, quando elegeu-se vereador pela primeira vez, o patrimônio declarado foi de R$ 339 mil. "Tudo que tenho está tudo declarado à Receita Federal."

Grupo dos Tatto

Os irmãos Moura pertencem à corrente PT de Luta e de Massas, grupo político liderado pela família Tatto, com forte presença eleitoral na periferia das zonas sul e leste.

A tendência é a segunda mais representativa do PT no Estado de São Paulo, atrás apenas da CNB (Construindo um Novo Brasil) --antiga Articulação--, que é majoritária estadual e nacionalmente.Em São Paulo, os dois grupos disputam espaço no comando do partido, embora já tenham integrado as mesmas chapas em eleições internas da sigla.

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