Doação para campanhas é 'investimento', dizem especialistas

Do UOL, em São Paulo

  • Apu Gomes/Folhapress

    Para Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, estudos indicam que para cada R$ 1 doado em campanha, as doadoras recebem R$ 8,5 em contratos públicos

    Para Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, estudos indicam que para cada R$ 1 doado em campanha, as doadoras recebem R$ 8,5 em contratos públicos

Para o secretário-geral e fundador da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, as vultosas doações feitas por grandes empresas a partidos e candidatos são uma forma de "investimento" que elas fazem para garantir contratos no futuro. "Não é doação, é investimento. Existem estudos que indicam que, de cada R$ 1 doado em campanha, as empresas conseguem outros R$ 8,5 em contratos públicos", diz Castello Branco.

Segundo o juiz Marlon Reis, autor do livro "Nobre Deputado", parlamentares que ele entrevistou confirmaram que algumas doações são feitas com uma espécie de "adiantamento" por contratos que deveriam ser direcionados às empresas doadoras. "Eles chamam de doação bate-pronto. Eles doam, mas já deixam explícito as áreas nas quais vão querer os contratos", diz o magistrado.

Para a dupla de especialistas, os casos de corrupção investigados pelos órgãos de controle e as eventuais condenações resultante desses processos são meros "efeitos colaterais" desse tipo de "investimento". "Em tese, para essas empresas, não há muitas opções. Elas fizeram uma doação e precisam conseguir o retorno. As únicas formas de elas recuperarem o investimento é superfaturando obras ou conseguindo contratos generosos por conta de benefícios concedidos", explica Castello Branco.

Castello Branco diz que um dos elementos que o faz acreditar que as doações são vistas como investimentos é a falta de critério ideológico com a qual elas são feitas. "Se fosse ideológico [o critério de doação], as empresas não doariam dinheiro para candidatos e partidos adversários disputando o mesmo cargo. Eles fazem isso para manter boas relações com quem quer que vença as eleições. Eles doam para quem eles acham que pode ganhar as eleições", diz.

Marlon Reis, que narrou a história de um político corrupto em seu livro, diz que as empresas não fazem doações esperando apenas contratos, mas também proteção em caso de investigação. Ele diz que os poucos casos pelos quais as empresas são investigadas ou condenadas representam uma fração mínima do total negociado de forma obscura entre políticos e empresas doadoras.

"O orçamento da União, por exemplo, é enorme. O que se consegue pegar de casos de corrupção é muito pouco se comparado a tudo o que acontece. É um investimento com uma taxa de retorno bastante alta", diz o magistrado. 

Um exemplo de que a rede de proteção criada por doadores e políticos pode estar sendo bem-sucedida é a redução no número de indiciamentos por crimes do colarinho branco pela Polícia Federal.

Levantamento feito pelo UOL em fevereiro de 2014 constatou que o número de indiciamentos por corrupção pela Polícia Federal caiu 75% nos últimos quatro anos, apesar das sucessivas operações da PF no combate a esse tipo e crime.

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