O PSDB amava o PSB, que amava o PT, que amava o PMDB, que amava todos...

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

  • Arte UOL

"Inimigos" na esfera federal, "muy amigos" nos interesses eleitorais regionais. O que leva partidos como PT, PSDB, PSB e outros, que se enfrentarão em candidaturas à Presidência da República, a se unirem como se fossem "unha e carne" em alianças estaduais? Que fim terá levado a ideologia ou seus princípios partidários?

Nos últimos dias, com os holofotes direcionados para a Copa do Mundo, os partidos realizaram convenções e definiram suas coligações nacionais e estaduais para as eleições de 2014. A falta de critérios na definição das alianças fez com que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, apelidasse a movimentação dos partidos de "bacanal eleitoral".

Embora todos os partidos tenham incorporado o discurso do novo, numa tentativa de se adequar às "vozes das ruas", o que se vê é a exacerbação de uma velha prática política brasileira: o fisiologismo, motivado por tempo de TV, novos palanques ou interesses regionais. Acordos programáticos ficaram, mais uma vez, em segundo plano.

Rompimentos de alianças, viradas de casaca e união entre siglas ideologicamente antagônicas marcaram as negociações nos últimos dias.

Com isso, partidos aliados no plano nacional estarão em lados opostos em vários Estados; em São Paulo e no Rio e em várias outras unidades ocorrerá o inverso: adversários na disputa presencial irão subir nos mesmos palanques.

SP: Padilha perde Maluf; Campos apoia Alckmin

A maior surpresa em São Paulo foi a decisão de última hora do PP de Paulo Maluf de trocar o petista Alexandre Padilha por Paulo Skaf (PMDB) na disputa ao governo do Estado.

As duas siglas haviam celebrado a aliança para as eleições paulistas em 30 de maio, com direito a aperto de mão entre Maluf e Padilha e provocações a Geraldo Alckmin, que não mediu esforços para atrair o apoio de Maluf. Após perder o apoio do PP, Padilha entregou a vice candidatura ao PCdoB. Do lado tucano, a baixa foi a saída do PTB da coligação.

O PSD, que flertou com Padilha e Alckmin e até com a candidatura própria, decidiu apoiar Skaf. O principal líder do partido, o ex-prefeito Gilberto Kassab, se lançará ao Senado, tendo como concorrente seu padrinho político, o tucano José Serra, que desistiu de se candidatar a deputado federal.

Já o PSB abdicou da candidatura do deputado federal Márcio França ao governo do Estado e fechou apoio a Alckmin, contrariando a ex-senadora Marina Silva e toda a militância da Rede. A decisão teve respaldo do presidenciável Eduardo Campos, que terá Marina como vice. Com isso, Campos e Aécio Neves terão o palanque de Alckmin. Já Dilma Rousseff terá palanque duplo (Padilha e Skaf).

'Dilminho' e 'Aezão' no Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, Dilma terá quatro palanques: do senador Lindbergh Farias (PT), do ministro Marcelo Crivella (PRB), do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), e do deputado federal Anthony Garotinho (PR). O Pros, aliás, já batizou o voto conjunto em Dilma e Garotinho de "Dilminho". Já no PMDB fluminense, a maioria, descontente com a candidatura petista, prega o "Aezão", com voto em Aécio e em Pezão. 

Se em São Paulo o PSB se uniu ao PSDB, no Rio estará com Lindbergh, que ofereceu ao socialista Romário a candidatura ao Senado da chapa. A decisão também desagradou a Rede, que defendia candidatura própria.

PMDB dividido

Conhecido pela sua tendência em aderir a quem está no poder, o PMDB, principal aliado do PT no plano nacional, estará em lados opostos aos petistas em 11 Estados --entre eles Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Ceará--, número bem maior ao verificado nas últimas duas eleições.

O cenário do Ceará é um bom exemplo para ilustrar o estremecimento das relações entre PT e PMDB nos Estados. Lá, o senador Eunício Oliveira, candidato pemedebista ao governo do Estado, cedeu ao PSDB a vaga de senador em sua chapa em troca do apoio a Aécio. O candidato escolhido pelos tucanos foi Tasso Jereissati (PSDB), antigo adversário de Eunício, que volta à vida política depois de quatro anos.

Inicialmente, o PT não trabalhava com a ideia de candidatura própria e pretendia apoiar Eunício. Diante da aproximação do senador com os tucanos, os petistas decidiram lançar o deputado estadual Camilo Santana (PT) para a disputa do governo do Ceará. Santana foi escolhido por Cid Gomes (Pros).

PTB confuso

Outro partido dividido é o PTB. A sigla, que participa da base de sustentação ao governo Dilma, saiu da coligação petista e decidiu apoiar Aécio. A decisão, no entanto, desagradou os deputados federais petebistas, que decidiram manter apoio à Dilma nas eleições.

Uma imagem que representa o vai e vem petebista eram as propagandas exibidas pelo partido na convenção do último domingo (29). As peças exibiam a foto de Aécio, mas o slogan "Brasil, país rico é país sem pobreza", usado pelo governo Dilma.

Oligarquias regionais

Alagoas vive uma das situações mais inusitadas: o PC do B irá apoiar a chapa de oposição ao governador Teotônio Vilela Filho (PSDB), que tem como candidato ao governo o deputado federal Renan Filho (PMDB) --filho de Renan Calheiros--, e o senador Fernando Collor (PTB), candidato à reeleição. A presidente do PC do B alagoano, Cláudia Petuba, declarou que "Collor é um grande exemplo de luta em defesa de Alagoas."

No Maranhão, o PCdoB, tradicional aliado do PT, disputará o governo com Flávio Dino, que terá apoio de rivais petistas, como PSDB, PPS e DEM, além do PSB. Parte da militância petista fará campanha pelo candidato comunista. O principal adversário de Dino será Lobão Filho (PMDB), apoiado pelo PT e pela família Sarney.

No Pará, o DEM estará junto com o PT. As duas siglas irão apoiar Helder Barbalho (PMDB), filho do ex-senador Jader Barbalho, que enfrentará o atual governador Simão Jatene (PSDB).

Já no Distrito Federal, a surpresa é a candidatura de José Roberto Arruda (PR) ao governo, com apoio de outros figurões locais, como o ex-governador Joaquim Roriz e o ex-senador Luís Estêvão, ambos do PRTB. Os diretórios regionais do DEM e do PPS integrariam a coligação de Arruda, mas as executivas nacionais das siglas intervieram e vetaram o apoio.

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