Bonito (MS)

Um dos principais destinos de ecoturismo do país tem moradores com baixa qualificação

Sem treinamento, parte dos moradores não se beneficia do turismo

De um lado, elogios sem fim à variedade de passeios e às belezas naturais de um dos destinos de viagem mais procurados no Brasil. Do outro, famílias que viviam do campo e que perderam o emprego em função da mecanização da lavoura e da evolução do ecoturismo na cidade. Sem capacitação adequada para atuar no ramo do turismo, uma parcela da população não consegue melhorar de vida.

Bruno Pedersoli, Gabriela Fujita e Gil Alessi

Do UOL, em Bonito (MS)

Passear em Bonito (a 300 km de Campo Grande) pode ser uma experiência inesquecível para quem gosta de natureza, e não é à toa que a cidade está entre os destinos de viagem mais procurados no Brasil. Perto de completar 64 anos, o município famoso por belezas naturais, com seus rios de águas cristalinas, cavernas e cachoeiras, vem passando por uma mudança no perfil econômico: começou com a agricultura, migrou para a pecuária, e de meados dos anos 2000 pra cá tem se ancorado na exploração turística.

A geração de riquezas só cresce, mas nem tudo é bonito quando o assunto é a qualificação dos que ainda não estão inseridos neste novo mercado. O UOL visitou Bonito dentro do projeto UOL pelo Brasil --série de reportagens multimídia que percorre municípios em todos os Estados da federação durante a campanha eleitoral.

Muitas famílias que dependiam da lavoura perderam seus empregos e acabaram mudando para a região urbanizada. Em 2000, 24% da população vivia na área rural; em 2010, o índice caiu para 17%, segundo dados do IBGE. “São pessoas que não têm qualificação pra se adequar a esse crescimento e desenvolvimento da cidade”, diz Margareth Maneta, secretária executiva do Instituto Família Legal, entidade que atende moradores de bairros pobres de Bonito, em parceria com a Promotoria da Infância e da Juventude.

“Precisamos de mais cursos que possam envolver essa população ainda carente, são muitas vezes pais e mães que não têm estudo nenhum ou muito básico”, aponta Margareth.

Da população de quase 20 mil pessoas, 2.500 (12,5%) têm empregos diretamente ligados ao turismo, de acordo com a prefeitura, e outras 2.000 (10%) são aproveitadas informalmente na época de alta temporada.

O secretário de Turismo, Augusto Barbosa Mariano, disse que o processo de formação é gradativo, e que nos últimos seis anos mais de 3.000 pessoas foram treinadas. “O dinheiro nunca é suficiente. O cobertor é curto, a cidade é pequena, mas as necessidades são muitas", afirma.

Segundo Mariano, para 2013, estão previstos cursos de inglês e espanhol, com 40 vagas cada um, em parceria com o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego).

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  • http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/09/27/deveria-ser-obrigacao-da-prefeitura-formar-os-moradores-que-trabalham-no-turismo.js

Leonel Lemos de Souza Brito, o Leleco, candidato do PT do B à prefeitura, diz acreditar que as oportunidades são insuficientes e que o turismo não absorve toda a mão de obra. Ele propõe “realizar parcerias com a iniciativa privada local e com o governo do Estado para implementar uma educação continuada”.

Seu rival na corrida eleitoral, o ex-prefeito Geraldo Marques (PDT), também defende melhorias na qualificação dos trabalhadores, e afirma que “a prefeitura gastaria pouquíssimos recursos para oferecer essa capacitação à população, articulando parcerias com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas)”.

O atual prefeito, José Arthur Soares de Figueiredo (PMDB), não concorre à reeleição pois já está em seu segundo mandato.

Quem já trabalha nas lojas, restaurantes, hotéis e pousadas reunidos no entorno da avenida central também sente falta de apoio da prefeitura. A vendedora Érika Menezes do Amaral diz que “se quiser fazer um curso de idiomas, é só particular, tem que pagar do bolso”. Na loja de biquínis onde ela trabalha, o número de clientes estrangeiros chega a 60% na alta temporada, e Érika já perdeu vendas porque fazer mímica não foi suficiente.

A garçonete Olir Godoy Correa recorre ao cardápio em inglês do restaurante para não fazer feio, e até arrisca falar uma ou outra palavra com os clientes, mas gostaria de ter um currículo que ajudasse a conquistar um salário melhor. “Para ser camareira, cozinheira, eles não exigem muito, mas você trabalha mais e ganha menos”, lamenta.

O guia de turismo Weliton Vargas Silveira também não fala nenhuma língua estrangeira. Segundo ele, Bonito passou 12 anos sem curso para novos guias, e uma nova turma teve início em agosto deste ano.

Gruta do Lago Azul é um dos passeios mais baratos

  • Bruno Henrique Pedersoli/UOL

    Lago subterrâneo da Gruta do Lago Azul, em Bonito (MS); veja mais imagens clicando na foto

A frase que mais se ouve de quem conhece Bonito só reconfirma a fama que a cidade tem: “Bonito é mesmo bonito!”, diz o comerciante paulistano Georges Kadamani enquanto visita a Gruta do Lago Azul.

A gruta é o local que mais recebe turistas --55.367 pessoas fizeram o passeio em 2011-- e tem como grande atrativo um lago subterrâneo, visto a partir de uma abertura de 40 metros de diâmetro. O “azul” do nome, curiosamente intenso, vem dos reflexos que a incidência solar provoca na água.

O lago de fundo calcário tem pelo menos 90 metros de profundidade, já foi objeto de estudos de uma expedição de mergulhadores. O local armazena fósseis de mamíferos como a preguiça gigante, do período Pleistoceno, que ocorreu entre 1,8 milhão de anos a 11 mil anos atrás, além de uma variedade de espécies milimétricas de crustáceos. Os paredões ao redor têm milhares de estalactites e estalagmites, formações pontiagudas que vão do chão ao teto.

Antes de chegar à gruta é preciso fazer uma caminhada de cerca de 15 minutos por um trecho de vegetação, e depois descer uma escadaria feita na rocha. Esse é um dos passeios mais baratos em Bonito e custa R$ 36 por pessoa.

Diário de bordo

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Números do turismo

Apesar de ainda não ser a principal fonte de arrecadação em Bonito --a primeira é a pecuária--, o turismo é a atividade econômica que mais movimenta, divulga e gera investimentos para a cidade. Em 2011, o município recebeu 170 mil visitantes (antecipando a meta para 2012), que deixaram no comércio, nos passeios e nos hotéis e pousadas algo em torno de R$ 170 milhões. Segundo o Secretário de Turismo, Augusto Barbosa Mariano, esse volume representa R$ 3,5 milhões para os cofres públicos, ou cerca de 8% do orçamento municipal naquele ano.

ONG ensina mães e filhos

Gabriela Fujita/UOL
Criado em 2003 por iniciativa da Promotoria da Infância e da Juventude, o Instituto Família Legal atende moradores de bairros pobres da cidade, como o Marambaia, que tem uma concentração de famílias cuja renda vem da construção civil ou de serviços domésticos.

O objetivo é melhorar as condições de crianças e de adolescentes em situação de vulnerabilidade social, encaminhados pela promotoria ou pelo conselho tutelar. Cerca de 70 estudantes são atendidos com reforço escolar e outras atividades pedagógicas, mas há vagas para cem. As mães dessas crianças e adolescentes recebem treinamento profissionalizante em uma oficina de costura, onde são produzidas bolsas e mochilas com temas ligados à fauna de Bonito.

Os tecidos usados na confecção vêm de malotes dos Correios e das roupas de mergulho usadas em passeios turísticos, e os produtos são vendidos em lojas da cidade, sendo que a maior parte do valor da venda, 70%, fica com as costureiras. A entidade tem apoio da prefeitura e do governo do Estado, mas a ajuda financeira principal vem de doações de empresas e voluntários.

Como chegar

Quem decidir conhecer Bonito deve se preparar para ficar alguns dias na cidade. Além das opções de passeio serem muitas, o município fica distante cerca de 300 quilômetros de Campo Grande. O visitante pode ir de ônibus, saindo da rodoviária da capital, ou ainda contratar os serviços de transporte com vans oferecidos pelas agências de turismo. Outra opção é alugar um veículo em Campo Grande. O percurso leva pelos menos quatro horas.

Cidade: Bonito
Estado: Mato Grosso do Sul
Distância da capital: 300 km
População: 19.587 (2010)
PIB per capita: R$ 11.991,64 (2009)
Área (em km²): 4.943,425
Número de eleitores: 16.040 (2012)
Data de fundação: 2 de outubro de 1948

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