Anápolis (53 km de Goiânia) é a cidade onde nasceu Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado pelo Ministério Público de comandar uma organização que explorava máquinas de caça-níquel no Estado de Goiás. As relações do contraventor com políticos, que ainda são investigadas por uma CPI no Congresso, deixaram com o "pé atrás" candidatos e empresas na cidade.
A Câmara Municipal de Anápolis tem 15 vereadores. Um deles chegou a ser preso duas vezes este ano, suspeito de lavagem de dinheiro e de envolvimento com Cachoeira (leia texto abaixo). O UOL visitou Anápolis dentro do projeto UOL pelo Brasil --série de reportagens que percorre municípios em todos os Estados do Brasil durante a campanha eleitoral.
De nove vereadores que tentam a reeleição na cidade, seis afirmam que todos estão cautelosos para receber e oferecer dinheiro para as campanhas. “Não se sabe claramente quais as empresas envolvidas com o Cachoeira, nem até onde chegavam seus tentáculos”, afirma o vereador Sírio Miguel, do PSB.
Fica difícil pedir doação com essa confusão [do esquema Cachoeira], sem saber de onde vem o dinheiro
Gina Tronconi, vereadora pelo PPSGina Tronconi, vereadora pelo PPS, concorda e diz que “para os candidatos fica difícil pedir doação com essa confusão". "É difícil saber de onde vem esse dinheiro, já que ele [Cachoeira] tinha envolvimento com diversos segmentos na cidade."
“A Justiça Eleitoral está mais rigorosa com as prestações de contas. As pessoas querem se poupar das dificuldades que possam aparecer lá na frente, e os empresários estão pensando nisso”, afirma Valmir Jacinto, vereador do PTC.
Já Mauro Severiano, vereador do PDT que está há 20 anos na Câmara, esta é sua "única campanha sem dinheiro". Ele também associa o menor número das doações ao descrédito da população com a política, motivado pelo escândalo.
No entanto, nem todos os parlamentares concordam com a tese de que a prisão do bicheiro tenha alterado a rotina eleitoral. "A minha campanha não depende da verba de empresas, não acho que está diferente este ano", afirma Dra. Dinamélia, vereadora pelo PT.
Doações de Cachoeira
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- http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/09/14/voce-votaria-em-um-candidato-que-recebeu-dinheiro-de-empresas-investigadas-por-envolvimento-em-crimes.js
O vereador Fernando de Almeida Cunha (PSDB), sobrinho do bicheiro, recebeu na campanha para as eleições de 2008 doações no valor de R$ 25 mil da JC Distribuidora de Medicamentos, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A empresa é de propriedade de Sebastião de Almeida Ramos, irmão de Cachoeira. Cunha afirmou que as doações foram legais, e que a empresa "é da família".
Segundo a Polícia Federal, a JC é responsável por lavar dinheiro obtido com o jogo ilegal.
Marcio Jacob Borges (PTB) foi outro vereador que recebeu doações de pessoas acusadas pela PF de serem laranjas do contraventor: Adriano Aprigio de Souza, cunhado de Cachoeira, fez uma doação de R$ 4,7 mil para a campanha de Borges em 2008. O parlamentar disse que "à época não sabia do envolvimento do doador com o contraventor".
Vereador foi preso duas vezes
O vereador Wesley Silva foi preso duas vezes em menos de quatro meses
O vereador Wesley Silva, do PMDB, foi preso duas vezes em quatro meses. No dia 25 de abril, foi detido junto com o ex-diretor da construtora Delta, Claudio Abreu, durante a operação Saint-Michel, desencadeada pelo Ministério Público do Distrito Federal.
Acusado de atuar como lobista em favor do grupo comandado pelo contraventor Carlos Cachoeira, Silva ficou quase dois meses preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, até conseguir um habeas corpus e ser libertado em 15 de junho.
Menos de dois meses depois, dia 7 de agosto, o Ministério Público de Goiás cumpriu um mandado de prisão temporária para Silva e mais 12 pessoas, durante a operação La Plata. O vereador é suspeito de desviar recursos públicos.
Silva nunca negou em entrevistas a proximidade com Carlos Cachoeira, de quem se dizia amigo de infância. Ele chegou a ir ao velório de Maria José de Almeida Ramos, mãe do contraventor, falecida dia 16 de abril deste ano.
O advogado do vereador, Maeterlim Camarço Lima, não respondeu às ligações da reportagem.
Durante a operação La Plata, o presidente da Câmara de Anápolis, Amilton Batista (PTB), foi conduzido ao Ministério Público para prestar esclarecimentos. Procurado pela reportagem do UOL ele não quis comentar o assunto.